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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Eleições 2020: PT definirá candidato em março e PSOL, em abril

Diretório do PT/RP aprova calendário eleitoral


Eleições 2020: PT define candidato em março e PSOL define em abril

Conforme as eleições de 2020 se aproximam, as movimentações políticas se intensificam. Neste próximo domingo, 1 de março, o PT começará a escolher, através de eleição direta dos filiados, o seu candidato a Prefeito. Os pré-candidatos são o professor universitário e promotor aposentado Antônio Alberto Machado, o professor estadual e sindicalista Fábio Sardinha e o médico e sindicalista Ulisses Strogoff.  Já o PSOL escolherá o seu candidato em abril, após um processo de plenárias. Concorrem os professores Anne Schmaltz e Mauro Inácio.

O objetivo de PT e PSOL é construir chapas fortes para a eleição de vereadores e, através das candidaturas ao executivo, propôr um projeto alternativo de cidade que se contraponha ao projeto neoliberal em vigência, debatendo não só os assuntos de Ribeirão mas também a política estadual e nacional.

O campo de esquerda ainda se completa com o PCdoB, o PCB e Unidade Popular.

A esquerda terá o desafio de se conectar com uma cidade ainda dominada pelo pensamento conservador mas, ao mesmo tempo, repleta de problemas sociais e, acima de tudo, conquistar ou ampliar o seu espaço no legislativo. O PT tem o objetivo de dobrar a sua bancada, saindo de um para dois vereadores, e o PSOL tem a expectativa de eleger seu primeiro representante na Câmara Municipal.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Parque Permanente de Exposições sofre abandono assim como o projeto de cidade



Construído pelo poder público em 1975 na zona norte da cidade, ao lado do aeroporto Leite Lopes, o Parque Permanente de Exposições, que por mais de três décadas abrigou a FEAPAM (Feira Agropecuária da Alta Mogiana), está completamente abandonado, acumulando criadouros do mosquito da dengue e à espera de um destino.

Nos últimos anos a área tem sido esporadicamente alugada para eventos particulares que em nada dialogam com a região e com a população de seu entorno. A situação atual do Parque Permanente de Exposições é reflexo do projeto de cidade no qual Ribeirão Preto está inserido nos últimos 25 anos: um projeto privatista e de abandono da coisa pública.

Incapaz de pensar e de executar qualquer projeto no local, pois a Secretaria de Turismo, responsável legal pela área, conta apenas com 1 milhão de reais por ano de orçamento, a única ideia do poder público municipal é repassar o Parque para a iniciativa privada, através do pomposo projeto de PPP (Parceria Público-Privada).

Com 773 mil presos Brasil precisa repensar o seu modelo de segurança pública



A questão da segurança pública e da violência é um debate necessário e urgente no Brasil. Somos o segundo país em homicídios violentos (77% atingem homens, negros e jovens), atingindo uma média de 60 mil assassinatos violentos por ano, o tráfico de drogas e a chamada "guerra às drogas" estão por trás de 40% das prisões e 45% das mortes. E nos últimos anos o país tem também enfrentado o problema das milícias, ou seja, grupos armados que controlam territórios públicos assim como o tráfico de drogas já faz há décadas. 

Uma das respostas à complexa questão da violência tem sido o encarceramento em massa. Somos o terceiro país em número de presos com 773 mil, atrás somente dos EUA com 2 milhões de presos e da China com 1,6 milhão. Dos 773 mil presos brasileiros, 44% ainda está sem condenação, ou seja, cumprem prisão preventiva ou temporária. 90% dos presos são homens, sendo 62% deles homens negros. E a atual política de segurança pública brasileira aponta para mais presídios e mais prisões, com o apoio de grande parte da sociedade. 

O contraponto a essa política é feito por aqueles que defendem uma segurança pública cidadã, preventiva (com unificação operacional e de inteligência das polícias), comunitária e somada a um sistema de justiça restaurativo e à políticas de redução do encarceramento para delitos de pequeno e média gravidade, que já são adotadas por muitos países no mundo. 

Outra questão é o combate às drogas. A atual "guerra às drogas" tem sido ineficaz e violenta, principalmente contra a população periférica e jovem, segundo especialistas, e pode ser flexionada para uma política de descriminalização do porte e do uso somado à uma política de educação e saúde públicas, também adotada em alguns países no mundo. 

A questão que fica e parece óbvia é: o encarceramento em massa de parte da população brasileira em presídios, sem condições mínimas de respeito aos direitos humanos, tem sido uma boa política para reduzir a violência e combater o crime organizado?

Blog O Calçadão

CHEIRO DE GOLPE NO AR - FREI BETTO


O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sugeriu, em 19 de fevereiro, que o povo deve ir às ruas “contra a chantagem do Congresso”. Bastou este aceno autoritário para os aliados do presidente convocarem manifestação para o domingo, 15 de março.
Ora, quando uma autoridade do Poder Executivo convoca uma manifestação contrária a outro Poder da República, no caso o Legislativo, isso é gravíssimo e sinaliza conspiração golpista ou, sem rodeios, o fechamento do Congresso. Tomara que o Poder Judiciário, representado pelo STF, proíba tal manifestação, pois caso contrário correrá o risco de assinar o fechamento de suas portas.
O protesto a favor do governo será na mesma data em que, há cinco anos, ocorreu a maior das manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Foi com uma escalada de manifestações prévias, como a Marcha com Deus e a Família pela Liberdade, que os militares prepararam o golpe de 1964 que derrubou João Goulart, presidente constitucional e democraticamente eleito.
O sonho de todo político com vocação para caudilho ou ditador, avesso ao regime democrático, é governar pela supressão de todas as vias institucionais entre ele e o povo. Uma via direta, sem intermediação dos poderes Legislativo e Judiciário, hoje facilitada pelas redes digitais.
Autoconvencido de que só ele sabe discernir o que convém ou não à nação, o autocrata despreza o sistema partidário, trata os políticos como seus serviçais, e se relaciona com a Constituição como o terrorista islâmico com o Alcorão. Ele ouve, mas não escuta; fala, mas não dialoga; age, mas não reflete. Seu pendor absolutista é, hoje, facilitado pelas redes digitais, por meio das quais faz chegar à população sua vontade e determinações.
Frente a um povo despolitizado, desprovido de consciência crítica, o déspota emite suas opiniões como se fossem leis. Seus adeptos, movidos pelo senso de “servidão voluntária”, na expressão da La Boétie, o erigem à condição de “mito”, aquele que se torna paradigma, referência acima de qualquer suspeita ou juízo.
O caudilho sabe que, sem apoio popular, seu futuro político corre o risco de virar mero sonho. Para evitá-lo, recorre ao recurso de armar mãos e espíritos. Liberar o porte e a posse de armas, e plantar no coração e na mente de seus adeptos o ódio mortal a seus inimigos, reais ou imaginários. Essa segunda medida se efetiva pela descontextualização política, como se a conjuntura, os princípios constitucionais e o consenso entre os seus pares poucos importassem.
Dotado da uma intuição impetuosa e de agressividade incontida, o autocrata fragmenta seu discurso, adota um vocabulário chulo, desdenha a coerência, troca o atacado pelo varejo, a floresta pelas árvores, e cria um deus à sua imagem e semelhança. Ele não tem outra proposta ou programa que não seja se perpetuar no poder e transformar sua vontade em lei. Por isso suas medidas provisórias têm o peso de definitivas.
Onde andam os partidos de oposição, as centrais sindicais, os movimentos populares? Se o desemprego afeta mais de 11 milhões de pessoas; a economia retrocede; a saúde e a educação estão sucateadas; e 165 milhões de brasileiros sobrevivem com renda mensal inferior a dois salários mínimos; qual a razão de tamanha inércia daqueles que deveriam manifestar a sua indignação diante deste governo?
Convém ter em mente o poema de Eduardo Alves da Costa, equivocadamente atribuído a Maiakóvski:
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada./ Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada”.

Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do poder” (Rocco), entre outros livros.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Combater preconceito contra o pobre é um grande desafio - Por Thiago Scatena.

Esgoto corre ao lado de casa no Joquey Ribeirão Preto. Foto:Paulo Honório

Ribeirão Preto é uma cidade excludente. Uma cidade que não tem uma única casa ou apartamento sendo feito desde de 2016 para família de baixa renda. Não há nenhum projeto ou política habitacional para estas famílias.  Cultiva um preconceito absolutamente cruel com as famílias mais vulneráveis da nossa cidade.

O Blog O Calçadão reproduz o texto do amigo, sociólogo e pesquisador de pós-graduação do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU-USP)  Thiago Scatena, em que observa os comentários dos leitores de uma matéria jornalística sobre favelas na cidade e contrapõe com os argumentos de quem além de estudar o problema, acompanha ao lada das famílias excluídas da sociedade.


Thiago Scatena - Jam.Aeroporto

Toda vez que a mídia faz uma reportagem sobre favelas em Ribeirão Preto a maioria dos comentários dos internautas é crítica aos moradores das favelas. Argumentam que são pessoas que ganham casas da prefeitura ou do MCMV e vendem para voltar pra favela; ou que não gostam de trabalhar e que ficam nas favelas para não pagar contas.

Publico aqui alguns desses comentários com o nome e a cara dessas pessoas, pois elas já se expuseram publicamente no comentário do jornal. Como trabalho com o tema favelas/ocupações/assentamentos irregulares tem uns bons anos, estudei a bibliografia a respeito e faço pesquisa de campo em favelas de Ribeirão Preto, não me sinto desconfortável de contra-argumentar:

1) sobre a questão de compra e venda de lotes ou casas em favelas. A relação comercial de compra e venda ocorre sim em favelas, mas é restrita a uma parte insignificante dos moradores. Não existe um mercado enorme de compra e venda de lotes e casas em favelas, e não existe uma pessoa ou grupo que faz esse tipo de atividade porque o risco dessa atividade é tamanho, e a complexidade também é tamanha que é impossível uma pessoa ou grupo ganhar ou ficar rico com essa atividade.
Em favelas que tem autogestão a associação de moradores PROÍBE essa atividade e o lema é ocupar para morar. Por isso Movimentos Sociais de Moradia são importantes, eles regulam o uso do solo nas favelas. E outra, se existisse um mercado tão significativo de compra e venda de lotes e casas em favelas quem seriam os compradores senão pessoas/famílias pobres em situação de vulnerabilidade social?;

2) as pessoas ficam em favelas para não pagar a água, internet, energia e luz, além de ganhar cestas básicas. É evidente que favelas são estruturas urbanas não regulares que, portanto não podem ter acesso regular a serviços públicos do tipo, logo o famoso gato é sim utilizado. Contudo, é improvável que uma família more em uma favela porque não quer pagar água ou luz. Não faz sentido alguém morar em um local de risco de alagamento ou risco de sofrer uma reintegração de posse e perder todos os investimentos em sua moradia para fugir do pagamento de contas de água e luz.
Em minhas pesquisas de campo constatei que a grande maioria das pessoas que moram em favelas são os trabalhadores de baixo rendimentos, de ganhos de no máximo 1 salário mínimo, em situações de trabalho informal, e menos com carteira assinada. É interessante apontar que aqueles com carteira assinada ou trabalham com limpeza ou atividades domésticas (empregadas domésticas e tia que limpa o seu escritório antes de vc chegar) ou são empregados da construção civil (novo ciclo de atração de mão de obra não qualificada do ciclo 2010 até hoje). Em uma cidade como Ribeirão Preto onde um aluguel de uma casa para uma família de 4 pessoas não sai por menos de 600 reais, mais as contas, um salário mínimo não dá conta;

3) essas pessoas ganham casas da COHAB e da MCMV e vendem para voltar para as favelas. Esse é o ponto maia complexo que envolve a política pública de moradia municipal e federal. Sim, em minha experiência constatei que ocorre muitas vendas ou trocas de apartamentos ou casas de benefícios públicos, mas, mais uma vez, não são a maioria e expõem mais um problema das políticas públicas de moradia do que de caráter moral das pessoas. As políticas públicas de moradia brasileira são lastimáveis, a poderosa COHAB de Ribeirão Preto produziu segregação urbana em localizar seus conjuntos em regiões afastadas dos locais do trabalho, como a Zona Norte e Oeste, e opostas espacialmente da região rica da cidade, a Zona Sul. Ou seja, a COHAB de RP promoveu uma segregação urbana e aumentou tempo de percurso do trabalho para casa. O pouco MCMV para faixa 1 na cidade também promove esse tipo de espacialidade.

Outro ponto, a dinâmica de vida das pessoas é diferente da dinâmica que o Estado espere que vc tenha, muita famílias que ingressam em uma política habitacional tem que pagar, em média, parcelas módicas divididas em 36 anos para ter sua moradia (sim, apartamentos sociais da COHAB e do MCMV não são de graça), e a vida das pessoas é outra, eles mudam de emprego, mudam de cidade, ficam desempregadas e sem dinheiro, ficam doentes e precisam de grana e outros fatores que implicam na venda de seu maior bem, que como todo bom brasileiro sabe, é o imóvel.
Não sei dizer qual é o grau de evasão das moradias oriundas de políticas públicas mas não acho que seja um dado irrelevante. Vale lembrar que isso é mais uma questão econômica e de vida do que um fator moral e de caráter das pessoas. E vale lembrar que existe um sistema rígido de controle estatal no cadastro de pessoas e famílias que entram em uma política pública de moradia, ou seja, uma pessoa não pode acessar um MCMV mais uma COHAB, ou dois MCMV. Pra mim, essa é o ponto mais complexo das questões: políticas públicas de moradia mais efetivas.

PS: em Ribeirão Preto o número alarmante de moradores de favelas/ocupações/assentamentos irregulares se deve a um conjunto se fatores, o primeiro é a inatividade do poder público municipal e da COHAB nas últimas décadas, que se ausentou de discutir essa questão urbana, associado a um crescimento do número de pessoas morando nessas condições no período de crise econômica 2014 até hoje.  Além do encarecimento do custo de aluguéis e de compra e venda de imóveis. 

PS2: constatação óbvia, quem mora em favelas são pessoas pobres em situação de vulnerabilidade social. Ribeirão Preto possui inúmeros imóveis bem localizados vazios e parados, sem pessoas que possam o alugar. É uma questão econômica, as pessoas não tem recursos financeiros para arcar com um aluguel mais os custos da casa, simplesmente o salário, quando este existe, não dá conta.

PS3: eleições municipais estão chegando, e pautas urbanas como Moradia, Mobilidade, Meio Ambiente Urbano serão fatores chave para Ribeirão Preto. Se o seu candidato não tiver boas propostas nessas áreas é melhor repensar seu voto.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Resumo da Semana (25/02/2020): o abandono do Parque Permanente de Exposições


1. Parque Permanente de Exposições sofre abandono assim como o projeto de cidade


Construído pelo poder público em 1975 na zona norte da cidade, ao lado do aeroporto Leite Lopes, o Parque Permanente de Exposições, que por mais de três décadas abrigou a FEAPAM (Feira Agropecuária da Alta Mogiana), está completamente abandonado, acumulando criadouros do mosquito da dengue e à espera de um destino. Nos últimos anos a área tem sido esporadicamente alugada para eventos particulares que em nada dialogam com a região e com a população de seu entorno. A situação atual do Parque Permanente de Exposições é reflexo do projeto de cidade no qual Ribeirão Preto está inserido nos últimos 25 anos: um projeto privatista e de abandono da coisa pública. Incapaz de pensar e de executar qualquer projeto no local, pois a Secretaria de Turismo, responsável legal pela área, conta apenas com 1 milhão de reais por ano de orçamento, a única ideia do poder público municipal é repassar o Parque para a iniciativa privada, através do pomposo projeto de PPP (Parceria Público-Privada). Ribeirão Preto é uma cidade programada para quem tem dinheiro e, por isso, o futuro do Parque Permanente de Exposições será atrelado a isso, independente das necessidades ou das potencialidades da região onde está inserido. A construção de uma cidade como uma obra coletiva, com foco no desenvolvimento regional com inclusão social, não está colocada no momento. Tudo é dinheiro, tudo é negócio, tudo é privado. Ao se pensar no atual estágio do Parque e nas soluções para o problema é inevitável a pergunta: é possível se pensar em um projeto de cidade diferente do atual? Existiriam soluções diferentes para a revitalização do Parque Permanente de Exposições que fossem atreladas econômica e socialmente à região onde ele está inserido? Um projeto com um viés de política pública? A resposta é, sim. Basta que um projeto desses seja levado à frente por forças políticas capazes de propor o diferente, de resgatar a cidade como um espaço público de convívio e de construção de alternativas coletivas. O que poderia ser feito lá: uma escola federal, uma incubadora de projetos de economia solidária, um projeto de lazer e cultura? Enfim, há saída para Ribeirão Preto que não seja a privatização nesse momento de completo predomínio neoliberal? A resposta estará na campanha política que já bate às portas. Aguardemos.

2. O debate do IPTU também faz parte do projeto de cidade

Semana passada trouxemos aqui neste espaço a questão da Contribuição de Melhoria a ser cobrada dos proprietários de imóveis da avenida João Fiúsa por conta das obras de prolongamento que estão sendo realizadas ao custo de 200 mil reais pela Prefeitura. A Contribuição de Melhoria tem amparo constitucional e também está prevista em lei municipal. Porém, assim como já afirmávamos na semana passada, qualquer debate que envolva impostos é hoje absolutamente truncado e, muitas vezes, deturpado por algumas forças políticas diante da legítima e justificável rejeição da população com relação ao assunto. Acontece que a tal Contribuição de Melhoria, que está ligada à valorização dos imóveis por causa das obras, tem relação com o assunto IPTU, pois resvala na questão da Planta Genérica de Valores, ou seja, de quanto é o valor venal dos imóveis urbanos, base de cálculo para o IPTU. Revisar a PGV é um instrumento fundamental para se fazer justiça social através do IPTU e combater um dos maiores males dos centros urbanos brasileiros que é a especulação imobiliária. Mas, muito por causa disso, a PGV de Ribeirão Preto não é revisada desde 2012. A pergunta que fizemos semana passada foi: a quem beneficia essa situação?  A discussão da PGV e do IPTU é uma discussão complexa e está inserida em uma discussão ainda mais complexa que é a questão do Plano Diretor e suas leis complementares, assunto que caminha a passos de tartaruga na Câmara Municipal. E tudo isso se relaciona com o projeto de cidade. Que projeto queremos para Ribeirão Preto: um projeto privatista e baseado na disputa capitalista desenfreada ou um projeto com visão pública e de desenvolvimento com inclusão social? O IPTU, assim como o Plano Diretor, pode ser uma valiosa ferramenta de política urbana. Há possibilidade de aplicação de alíquotas progressivas para fazer política fiscal justa e de desenvolvimento regional. Há possibilidade de se fazer progressividade no tempo, para evitar a especulação imobiliária e fazer política de habitação de interesse social. Isso sem falar na questão tributária municipal, outro abacaxi a ser descascado. Repetiremos aqui a pergunta da semana passada: quem terá coragem de tocar nesse assunto em ano eleitoral? Aguardemos.

3. Consórcio Pró-Urbano cobra subsídio da Prefeitura e afirma: transporte coletivo pode entrar em colapso

Em São Paulo, bloco de carnaval em homenagem a Belchior faz resistência aos retrocessos do governo Bolsonaro

Vulva livre foi a resposta do carnaval a ministra da família, da mulher e dos direitos humanos do Brasil, Damares Alves, que aconselhou a castidade como modo de prevenção. 



O carnaval, seja na avenida, seja nos blocos de grandes centros tem denunciado os retrocessos do governo federal/estadual em todo o país. Se em 2019 eu fui ao bloco de carnaval "Quem tem boca vaia Roma", este ano, mais uma vez levado pela minha companheira, conheci o bloco "Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro", em homenagem ao falecido cantor Belchior, na Pompéia, em São Paulo. Cerca de 20.000 pessoas passaram pelo bloco.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

1996 e Ribeirão parou no pãozinho francês!

Relíquia encontrada pelo amigo David Bulgari

O ano era 1996 e a disputa eleitoral se dava entre o respeitado advogado Sérgio Roxo da Fonseca e o empresário da construção civil Luiz Roberto Jábali. Era uma disputa PT vs PSDB em meados dos anos 90 em um importantíssimo município do nordeste paulista.

Era um embate entre duas forças que polarizariam duelos nacionais futuros, mas que ocorria em Ribeirão em um momento nacional de apogeu do neoliberalismo e de seu discurso em defesa do desmonte do Estado e das privatizações. Era a metade de uma década que seria marcada pelo desemprego estrutural, pela recessão econômica e pela falta de perspectivas para a juventude.

Ribeirão Preto, naquele momento, ostentava um crescimento de receita e de investimentos privados dignos de ser chamada de "Califórnia brasileira" (agronegócio, construção civil, tecnologia hospitalar de ponta e setor de serviços) mas também enfrentava graves problemas sociais advindos do aumento populacional acelerado, o que agravava a desigualdade social e o problema de moradias, refletido  na ascensão do número de favelas e da violência urbana, que sustentaria uma média maior que 100 homicídios por ano ao longo daquela década.

Essa era a cidade em disputa na eleição de 1996.

Mas é importante entender um pouco o como Ribeirão Preto chegou à eleição de 1996 e, para isso, vale um breve flash back.

No período da ditadura militar, entre os anos 60 e 80, a cidade foi governada por dois políticos da ARENA, o partido da ditadura, que se revezaram no comando do Palácio Rio Branco: Welson Gasparini e Duarte Nogueira. Foi um período de expansão estatal, típico do nacional-desenvolvimentismo dos anos 50 e mantido pela ditadura, e da substituição do modelo ferroviário pelo modelo rodoviário. Saía a estação de trem e entrava a rodoviária. As ruas começaram a ganhar cada vez mais carros e o modelo de transporte coletivo de ônibus circulares a diesel se consolidava. Autarquias importantes foram criadas: DAERP, CETERP e TRANSERP (que passou a operar a boa novidade dos Trólebus a partir de 82). E tantas outras obras e projetos financiados inclusive pela USAID (órgão do governo americano ligado à CIA).

Foi ali que Ribeirão Preto iniciou o seu boom de crescimento, dominada por uma política provinciana, onde o chefe político distribuía os pedaços do poder. Ribeirão se abria ao crescimento mantendo-se politicamente fechada, com os segmentos populares, cada vez mais latentes, à margem do debate e da participação política.

Durante esses 20 anos foi tomando forma a Ribeirão Preto que conhecemos hoje: a ACI com seu histórico poder político, o setor da construção civil (das empreiteiras) com poder e influência crescentes, a cidade dividida com nítida separação social,  com bairros de periferia mal servidos de transporte público e equipamentos sociais, e um centro perdendo importância econômica frente a uma zona sul pujante.

Enquanto os governos federal e estadual promoviam, nos anos 80, a construção de conjuntos habitacionais na zona norte e leste (Quintino, Simioni, Marincek, Castelo Branco e outros), em um modelo conhecido de casas geminadas com pequena infra-estrutura e quase nenhum equipamento público, afastando seus moradores não só do centro da cidade mas também das estruturas sociais, criando bolsões de pobreza e ausência do Estado, as empreiteiras começavam a transformar a zona sul da cidade na região dos ricos, da especulação imobiliária. O poder financeiro consolidava sua cadeira cativa no gabinete mais importante do Palácio Rio Branco, o do Prefeito, e a zona sul se destacava nos investimentos, a começar pelo Ribeirão Shopping e pela transformação da Presidente Vargas na 1a "fiúsa" da cidade.

Ribeirão Preto, às portas dos anos 90, com essa realidade mostrada, precisava urgente de um novo e moderno projeto de cidade.

Apesar do peemedebista João Gilberto Sampaio ter governado Ribeirão nos anos 80 e ser o favorito para vencer as eleições de 92, a grande novidade política da cidade no início dos anos 90 era o jovem e promissor Antônio Palocci Filho, do PT. Um político com postura e discurso construtivo, agregador. Palocci, seja como vereador ou como deputado estadual, foi a liderança em torno da qual se articularam as novas forças sociais da cidade, que congregavam setores populares, políticos e empresariais. Da união desses vários segmentos nasceu um programa de governo, uma proposta para a cidade na eleição de 92, sustentada na aliança entre PT e PSDB (àquela altura um partido com posturas progressistas).

Palocci venceu.

Foi uma boa administração. Pela primeira vez novidades administrativas ganharam força na cidade: orçamento participativo, médico de família, políticas inovadoras para a infância e juventude (com reconhecimento e prêmio do UNICEF, que escolheu Palocci o "Prefeito Criança"), criação das regiões administrativas (buscando descentralizar e aproximar a Administração das pessoas), políticas de moradia e lotes urbanizados sem o auxílio dos governos estadual ou federal. Até propostas ousadas e polêmicas para um Prefeito do PT à época, como a abertura de capital da Ceterp. Enfim, era um novo projeto em curso que apontava para um modelo de cidade integrada, com expansão das linhas de trólebus e abertura de bairros residenciais acessíveis a uma classe média ascendente e ao estudante trabalhador, em regiões antes restritas às mansões de luxo.

Portanto, em 1996, a cidade tinha a chance de ter uma continuidade e melhoria administrativa com um homem competente e comprometido com os avanços sociais do período 93-96. Com Sérgio Roxo, Ribeirão poderia aprofundar suas políticas de distribuição de renda e ter a possibilidade de um debate profundo sobre os seus rumos, discutindo o seu Plano Diretor e seu rumo tributário de maneira a planejar uma cidade mais equilibrada e justa para os próximos 15 anos. Sérgio Roxo era o oxigênio progressista, com credibilidade e sensibilidade para avançar no projeto iniciado em 1993, inclusive para tocar com capacidade o tão sonhado e necessário projeto de revitalização do centro da cidade.

Mas nada disso aconteceu.

Jábali era um neo-tucano vindo do Partido Democrata Cristão. Entrou pela direita com um discurso de direita. Sua entrada rompeu a aliança criada em 92 com Palocci e já apontava, naquele momento, o futuro que o PSDB teria após abraçar o neoliberalismo de FHC e companhia. Seu discurso de campanha aliava uma abstrata promessa de geração de empregos via atração de empresas com debate sobre o preço do pãozinho francês na merenda escolar. Isso mesmo, Jábali contestava Roxo sobre o preço pago pelo pãozinho francês para a merenda escolar, assim como o preço da coxa de frango e do molho de tomate. Foi um debate secundário em relação ao verdadeiro debate que a cidade deveria fazer naquele momento. Era nítida a angústia de Sérgio Roxo buscando elevar o debate e discutir temas mais profundos. Mas eram os anos 90, o discurso impregnado de neoliberalismo e de propaganda da "eficiência empresarial" misturado  com o discurso "moralizador" da coisa pública dividiu o eleitorado e o empresário do "pãozinho francês" venceu.

O resultado todos sabemos: o empresário vendeu a CETERP, entregou de graça as linhas de Trólebus, que a administração anterior havia ampliado, para as empresas privadas, desestruturou o modelo de transporte coletivo da cidade acabando com os terminais, não gerou os empregos prometidos e fez uma administração tão ruim que nem mesmo foi candidato à sua própria sucessão. Jábali construiu o Parque Curupira, coisa boa, mas que podia ter sido ampliado por toda aquela área onde está a nascente do córrego dos Catetos não fosse os interesses da especulação imobiliária.

A interrupção do projeto de 1993 foi muito ruim para Ribeirão Preto. Se Sérgio Roxo tivesse sido eleito a história da cidade poderia ter sido outra.

A segunda prefeitura de Pallocci, a continuação Maggioni e a sequência Gasparini foram  mais do mesmo. A mesmice conduziu a populista Darcy Vera ao Rio Branco, que se reelegeu com o apoio do pragmatismo da aliança nacional que conduzia o governo federal em 2012.

O resultado, infelizmente, também sabemos: um escândalo de corrupção levou o neoliberal tucano Nogueira ao poder no terrível ano político de 2016.

Ribeirão é hoje uma cidade entregue a um projeto ultra-neoliberal e incapaz de solucionar seus graves problemas econômicos e sociais.

Fica o lamento. 1996 já vai levar longe no tempo, mas a derrota de Sérgio Roxo ainda dói. Diz a lenda urbana que muitos eleitores de Roxo, crentes na vitória, preferiram viajar para a praia aproveitando que o 31 de outubro daquele ano caía em uma quinta-feira e lá dá praia muitos lamentavam a surpresa do resultado adverso.

De qualquer forma, fomos traídos pela história, por uma ínfima e dolorosa diferença de 1500 votos e pelo bendito "pãozinho francês"!

Ribeirão merecia ter vivido a Administração Sérgio Roxo.

A Administração Sérgio Roxo foi a melhor administração que nunca aconteceu em Ribeirão Preto.

Blog O Calçadão

Entenda a letra do samba-enredo de 2020 da Mangueira

Analisando letras · Por Renata Arruda
Em uma apresentação que homenageou os heróis negros e indígenas esquecidos da História oficial do Brasil, a Estação Primeira de Mangueira foi a grande campeã do desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro em 2019.
Desfile da Mangueira no Carnaval 2019 no Rio de Janeiro
Desfile da Mangueira no Carnaval de 2019 / Créditos: Divulgação
Em 2020, a agremiação promete movimentar novamente o carnaval carioca: com o enredo A Verdade Vos Fará Livre, o carnavalesco Leandro Vieira imagina como seria se Jesus Cristo retornasse nos dias de hoje, vindo do morro da Mangueira.
No samba-enredo, os compositores Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo lembram a origem humilde de Jesus e protestam contra o extermínio de pessoas nas comunidades. Em entrevista, Manu da Cuíca explicou: Estão matando gente nas favelas. É o recado que Jesus dá com o retorno dele. Ele fala da favela que é o povo dele. O povo oprimido.

Samba-enredo Mangueira 2020
Créditos: Divulgação
A Verde e Rosa será a terceira escola a entrar na avenida no dia 23 de fevereiro, domingo, em desfile marcado para começar por volta das 23:45. E para todo mundo ficar bem afiado, resolvemos analisar a letra do samba-enredo da Mangueira 2020. Vem com a gente!
Análise do samba-enredo da Mangueira: A Verdade Vos Fará Livre

Assim começa o texto de apresentação do samba-enredo da Mangueira em 2020, escrito por Leandro Vieira, que dá aos jurados e ao público uma ideia do que esperar do desfile da agremiação:
Nasceu pobre e sua pele nunca foi tão branca quanto sugere sua imagem mais popular. Sem posses e mais retinto do que lhe foi apresentado, andou ao lado daqueles que a sociedade virou as costas oferecendo-lhes sua face mais amorosa e desprovida de intolerância.
Vamos agora dar uma olhada na letra do samba?


Samba teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Como adiantamos, a Mangueira foi a campeã do carnaval carioca em 2019 com um desfile fortemente marcado pelas críticas sociais. Dentre as personalidades históricas homenageadas, a principal foi Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018.

Marielle Franco homenageada no desfile da Mangueira em 2019
Marielle Franco homenageada no desfile da Mangueira em 2019 

Com a vitória, a agremiação foi alvo de críticas e acusações. Por isso, o início do samba-enredo pode ser visto como uma resposta da Mangueira, falando sobre o quanto a escola permanece firme, forte e unida, sem se deixar abalar pelas más línguas.
Além disso, a letra é narrada em primeira pessoa por Jesus Cristo. Portanto, isso também significa que a Mangueira tem a bênção de Cristo.
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no Buraco Quente
Meu nome é Jesus da Gente
A explicação para a estrofe acima é dada no texto de apresentação do samba-enredo.
Misturando a história bíblica com a versão imaginada por Leandro Vieira, a letra lembra que a imagem de Jesus Cristo preso na cruz representa todos nós. Logo, ele não pode ser retratado apenas como uma figura branca e masculina.
Já o verso moleque pelintra no Buraco Quentetraz uma ambiguidade: o moleque pelintra, tanto pode ser o menor de idade maltrapilho que anda pelo Buraco Quente, local onde a Mangueira foi fundada, quanto uma referência a Zé Pelintra, entidade da Umbanda.
De qualquer forma, o que a composição afirma é que Jesus Cristo é homem, é mulher, é negro, é indígena e pode ter qualquer religião. Na versão moderna, ele é Jesus da Gente, nascido na Mangueira.
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
A história de Jesus da Gente traz referências às lutas de minorias por direitos civis. O punho cerrado, por exemplo, é um símbolo de resistência muito empregado por movimentos sociais.
A composição nos lembra, ainda, as origens humildes do Jesus bíblico, compartilhadas por muitas pessoas nas favelas e periferias.

Presépio
Dessa forma, a letra defende que caso Jesus voltasse à Terra nos dias de hoje, ele nasceria pobre dentro de uma comunidade, vivendo ao lado dos mais oprimidos e protegendo os seus semelhantes.
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque de novo cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Em seu retorno, Jesus se espantaria em ver sua imagem sendo exibida em tantos lugares — desde cordéis até a estátua do Cristo Redentor, localizada no morro do Corcovado —, e questionaria se o povo havia entendido mesmo a sua palavra.

Cristo Redentor
No final, se sobrevivesse às estatísticas destinadas aos pobres que nascem em comunidades, chegaria aos 33 anos para morrer da mesma forma, diz o texto do carnavalesco. Ou seja, se vivesse nos dias de hoje, Jesus Cristo seria perseguido por quem prega a violência e a intolerância. No lugar de uma cruz, seria morto por um fuzil.
No entanto, a letra traz uma mensagem de resiliência, afirmando que nos períodos mais sombrios é que a esperança de um mundo melhor se fortalece.
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem Messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço Fé na minha gente
Que é semente do seu chão
Aqui há uma referência à passagem bíblica em que Jesus fala sobre a maneira espiritual como vemos a vida:
São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! (Mateus 6:22-23)
No contexto da letra, pega a visão seria um alerta de Jesus da Gente para o povo, pedindo para que desistam de esperar que a solução venha de um Messias armado, às custas da morte das pessoas, e percebam que só há futuro possível através da partilha, da tolerância e do amor.
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E Ressurgi no cordão da liberdade
Após a morte, Jesus da Gente ressuscitaria na Mangueira, durante o carnaval.
Ao longo dos três dias de festa, o Filho de Deus iria confraternizar com seu rebanho: quarando tambor, se livrando do fardo da cruz e brincando em total harmonia, na liberdade que só a verdade proporciona.