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quarta-feira, 15 de junho de 2016

A montanha pariu um Temer

Não foi surpresa para ninguém que Eduardo Cunha esteja despencando da posição de homem mais forte do governo golpista de Temer para abismos que ninguém sabe onde pode parar. Surpresa foi que tudo isso não tivesse se dado ainda no ano passado, quando todos os elementos para sua cassação e prisão já estavam dados.



Não se deu porque tudo faz parte do plano golpista de desalojar, da forma que seja, o PT do governo. Pelo impeachment sem fundamento da Dilma e pela perseguição política, também sem qualquer fundamento, ao Lula. Não importa agora à direita que Eduardo Cunha e mesmo Aécio, sejam cadáveres políticos. Se prestaram para o plano golpista, que terminou desembocando em Temer.

A história tem vários casos em que personagens medíocres, de repente, são projetados ao centro do cenário político, sem que eles mesmos entendam por que, nem para que. Marx falava de Luis Bonaparte como um desses casos. É preciso que exista um processo de crise e deslegitimação geral das lideranças, forças e do próprio sistema político, para que nesse vazio penetrem personagens sinistros, medíocres, dispostos a qualquer coisa. Porque não significam nada, podem se prestar a qualquer coisa.


A crise de deslegitimação vem de longe, desde Collor, aproveitando-se do frustrado governo da transição democrática, que também caiu no colo de um outro personagem medíocre – José Sarney. E, depois do próprio Collor. A direita foi buscar em FHC e nos tucanos o que já não dispunha mais, depois do fracasso de Collor. Atribui-se a Roberto Marinho, momento da queda de Collor, a afirmação de que já não poderiam eleger a ninguém mais da direita – esgotada a ditadura, Sarney, Collor -, teriam que buscar alguém em outro campo. Para o que se prestou FHC.

Mas essa crise ganhou novos impulsos com a instrumentalização das mobilizações de 2013 que, como disse Lula, ganharam um sentido imposto pela direita, a ponto que a Globo chegou a suspender uma telenovela para transmitir o que lhe parecia a maior manifestação popular contra os governo do PT.

A nova derrota eleitoral levou à retomada desse processo, que tem sempre na desqualificação da política e do PT, como partido que dirige o Estado desde 2003, seu alvo preferido. Foi desmontada a imagem pública da Dilma como presidente capaz de enfrentar a crise econômica e de dirigir o processo político brasileiro. Foi a partir dessa ideia de ingovernabilidade que se tornou possível o impeachment, para o qual se buscou qualquer pretexto.

Descartada a possibilidade de anulação das eleições ou qualquer outra via que fizesse recair em outro personagem medíocre, Aécio Neves, a presidência, o projeto desembocou em Temer. Um personagem suficientemente vazio, para que pudesse ser preenchido com os conteúdos que interessam à direita: desmontagem do Estado, retomada do modelo neoliberal, destruição da imagem do PT.

Esse projeto se choca com alguns problemas. O primeiro, seu caráter golpista e mafioso, indispensável, para poder se concretizar. Daí o papel central de Eduardo Cunha, o verdadeiro articulador político do golpe e da chegada de Temer à presidência. A farsa do impeachment teria sido impossível sem ele. Agora o projeto tem que se ver às voltas com que o mafioso mor cai e cobra seu preço, colocando em risco todo o projeto. Os próximos dias demonstrarão os efeitos negativos reais que essa queda e ruptura de aliança produz no governo e em todo o projeto golpista.

Mas há um outro obstáculo ao projeto da direita brasileira. Nem todos foram alvo eficiente da campanha de destruição de reputações. Lula paira como um fantasma na cabeça da direita. Sem tirá-lo da vida política, tudo o que a direita faça se parecerá ao mito de Sisifo, que Lula recomporá.

Daí o segundo movimento sinistro – o primeiro o golpe travestido de impeachment: o da perseguição ao Lula, sem nenhum fundamento. Já se deram conta que a reiteração de suspeitas nunca comprovadas na mídia são insuficientes para tirar de Lula o caráter de maior e hoje único grande líder popular do país. Então é necessário privá-lo da possibilidade de se candidatar e ser eleito novamente presidente o Brasil.

A prisão é uma operação temerária. Pode tirá-lo de circulação e tirar sua voz por algum tempo, não se sabe por quanto tempo, e a experiência daquela sexta-feira em que tentaram prendê-lo, se reverteu muito negativamente para a direita. Agora o movimento popular está muito mais forte, a direita mais fraca, sem mobilizações de rua e com um governo cambaleante.

Resta encontrar um pretexto para tentar destruir o político que mais contribuiu para fortalecer a democracia no Brasil. O único que sobrevive à devastação de políticos, de partidos, de instituições. O único que pode ser o eixo da reconstrução do momento mais virtuoso da história brasileira, quando pela primeira vez a desigualdade, a pobreza, a miséria, a exclusão social diminuíram.

Caso consigam, a democracia estará definitivamente sepultada no Brasil. O mercado e as grandes corporações – mediáticas, financeiras, jurídicas – governarão o pais, com autoritarismo, com repressão, com lavagem cerebral. Para isso contam com o que a montanha pariu: o Temer.


Mas se enfrentam a sua própria podridão, que pode levá-los ao desastre em prazos curtos. Se enfrentam ao maior processo de mobilização e de conscientização social que o Brasil já viveu. Se enfrentam à liderança e ao prestigio do Lula. Daí que a esperança pode vencer o golpe.

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