Como já mencionei em minhas primeiras divagações por estas páginas, a alma deste velho se alegra ao andar, ao contemplar e ao descobrir as novidades que a vida apresenta, sempre em diálogo com o passado, esse exercício sutil e profundo que nos permite compreender o presente e sonhar um futuro mais luminoso.
Recordo-me de meu último texto, onde falava da praça Carlos Gomes, no coração da cidade, que, após um período vestindo a armadura de um terminal de ônibus, ficou despojada de suas tradições e do querido Teatro Carlos Gomes.
Com isso, resolvi retomar a linha dos meus escritos, trazendo à tona a questão das praças, que sempre pulsaram como o coração de uma comunidade.
Qual é, afinal, a verdadeira função de uma praça? Espaço de lazer, de contemplação, de cultura e beleza paisagística?
Sim, tudo isso e muito mais. Contudo, para que uma praça cumpra seu papel, é essencial que esteja entrelaçada na trama da cidade, integrada à vida do seu povo, à efervescência da urbe.
Durante meu período de ausência, aproveitei para levar este corpo cansado a um passeio, em busca dos ares revigorantes da nossa América do Sul, onde respirei os sonhos dos libertadores.
Em Santiago, Lima, Quito e Bogotá, encontrei praças vibrantes, tanto no centro histórico quanto nos parques e espaços públicos, que acolhem a vida que pulsa nos largos e nas vielas.
Lá, o povo se faz presente — turistas e locais, artistas, comerciantes, namorados, contempladores e leitores — todos se entrelaçando, convivendo sob a sombra das árvores, nas praças que, por sua vez, se inserem e refletem a essência da vida urbana.
Lima, por exemplo, viveu um admirável renascimento de seus espaços públicos. O circuito mágico das águas, com sua beleza deslumbrante, me fez pensar: por que não em Ribeirão Preto? Temos água, calor e, acima de tudo, um povo vibrante. Por que não?
Hoje percebo que o conceito de praças—como simples quadrados mirados a partir de um bairro ou de uma área central—já não se sustenta mais. Há um moço, aliás, que já compartilhou suas ideias aqui, que está investindo em projetos de parques lineares.
É verdade. No entanto, minha cidade abriga um emaranhado de praças e espaços públicos que jazem esquecidos, sem conexão com o contexto e as necessidades atuais.
As praças estão em estado lastimável e, como eu, quem delas ainda se aproxima é visto com olhos críticos, ou pior, como um louco sonhador.
Mas deixemos de lado a tragédia das praças periféricas e voltemos o olhar para o centro da cidade.
Na praça XV, por exemplo, observa-se mais gente em seus arredores do que em seu íntimo!
E as demais? Vamos pensar na praça Camões, na praça das Bandeiras, na praça 7 de Setembro.
Concentro-me com carinho na praça 7 de Setembro, um espaço que frequento e que sempre me faz recordar que ali se desenrolaram alguns dos primeiros jogos de futebol da cidade, onde meninos sonhadores tentaram deixar sua marca, mas que, temo, se foram, talvez convidados a partir.
É um mal de velho, talvez, um saudosismo cheio de esperanças, mas onde estão os pipoqueiros e os vendedores de balões?
Ah, já sei. Eles habitam apenas os lugares onde há vida.
A praça XV, no meu tempo de juventude, foi o epicentro da efervescência ribeirão-pretana, o local da mocidade vibrante.
Mesmo nos anos 90, tempos complicados para a cidade, havia uma ocupação do espaço público que se estendia pelas avenidas 9 de Julho, Portugal e Vargas.
Quem se lembra? Eu, já cansado e morador dos arredores, cansei de percorrer aquelas ruas aos sábados à noite, sentindo o vai e vem das pessoas, conversando nas calçadas e ouvindo a música que emanava do Bar Mania.
Sim, o burburinho nas calçadas!
Às vezes, ao caminhar por aí, refleti como Ribeirão Preto anseia por vida, por pessoas que apreciem a companhia umas das outras.
Voltarei a abordar este tema...
Por ora, vou em busca de um colete novo, para aquecer-me com elegância, na minha loja predileta, situada na bela e histórica rua Amador Bueno.
Cordialmente,
Gusmão de Almeida