De tudo o que aconteceu nesses últimos 20 dias, as únicas novidades, uma boa e outra lamentável, foram a crítica de Lula e o bolo inexplicável dado no bom Eduardo Suplicy. Todo o resto não passa de mais do mesmo, ou seja, são coisas que já eram mais ou menos esperadas.
Senão, vejamos:
1- A viagem patética do Senador Aécio Neves para a Venezuela tendo como objetivo oficial ir visitar os presos políticos do "regime bolivariano" e como objetivo implícito criar um factoide para permanecer na mídia em sua saga de perdedor que não aceita o resultado da eleição. Bom, se o tal Kim Kataguiri foi "caminhando" até Brasília e o outro "revoltado" foi lá encher o saco no congresso do PT só para manterem viva a chama dos 15 minutos de fama, era mais do que natural imaginar que o play boy revoltado também fizesse algo do tipo. Foi lá em Caracas acompanhado dos grandes democratas Ronaldo Caiado e Agripino Maia, ficou preso no trânsito e voltou para traz direto para as manchetes do PIG acusando Dilma de acobertar o "bolivarianismo". Novidade nenhuma.
2- A sanção presidencial na lei resultante da medida provisória sobre o ajuste fiscal embutida, pela bancada do Cunha, do 'parlashopping" e da isenção fiscal para igrejas evangélicas. Qual a novidade? Uma Presidente enfraquecida no Parlamento e que precisa aprovar o seu "ajuste" para escapar das pressões financistas e um presidente do Congresso fisiológico e cada vez mais pagando a fatura para seus financiadores. É bom lembrar que Cunha também já conseguiu (ao arrepio da Constituição) colocar o financiamento empresarial na Constituição, passar o projeto da terceirização e livrar os planos privados de saúde da triste sina de pagar imposto. Além dos seus projetos em parceria com a "bancada evangélica" e a "bancada da bala", como o tal "estatuto da família" e a redução da maioridade penal.
obs: o triste disso é que o ônus cai todo no colo de Dilma, pois o "empoluto" Cunha permanece inatacável.
3- Aumento dos juros beirando a casa dos 14%. Qual a novidade? A chantagem financista funciona assim e os governos do PT não conseguiram (ou não tentaram) romper essa camisa de força. Qual a receita básica do financismo internacional para as economias? Juros, arroxo fiscal (corte de gastos públicos), reformas na lei de aposentadorias e garantir o pagamento das dívidas. Tudo sob a intensa pressão dos "mercados", ou seja, as tais "agências de risco", os bedéis do sistema. Vejam o caso da Grécia.
obs: há uma exceção no caso dos governos petistas. Entre 2011 e 2012, Dilma conduziu uma política de abaixamento dos juros, que chegaram a 8% (os mais baixos dos últimos 20 anos). O que aconteceu? Enorme pressão dos "mercados" auxiliados pela nossa maravilhosa mídia. Logo após isso, ocorreu a pressão do dólar (comandada por quem mesmo?) sobre os câmbios, gerando inflação no mundo todo e enterrando os movimentos desenvolvimentistas no Brasil e no resto do mundo, até na China.
4- A prisão dos executivos da Andrade Gutierrez e, principalmente, do presidente da Odebrecht. Qual a novidade? Mais uma vez a parceria entre a "república do Paraná" e a mídia fazendo suas artimanhas. Tudo convenientemente combinado para ligar as prisões ao fato de o Instituto Lula ter recebido doações de empresários e de Lula ter feito palestras e viagens ao exterior buscando ampliar as fronteiras de negócios para o Brasil. É cada vez mais claro que este esquema tem dois objetivos: quebrar a política do petróleo, cuja espinha dorsal é o regime de partilha do pré-sal, e dinamitar a candidatura de Lula em 2018. As irregularidades da Lava Jato só terão fim quando as instâncias superiores da Justiça resolverem intervir e isso pode ocorrer a partir do momento em que a pressão do meio jurídico nacional for grande o suficiente para suplantar a chantagem da mídia.
As duas novidades foram, portanto, a crítica de Lula e o bolo em Suplicy. A crítica de Lula tocou no ponto central do problema: Dilma prometeu uma coisa na eleição e faz exatamente aquilo que criticou depois de eleita. O desgaste é tão grande que até os aproveitadores tucanos saíram ganhando ares de progressistas, uma vez que passaram a criticar os ajustes que eles mesmos fariam em doses muito mais elevadas se Aécio tivesse ganho. Lula disse algumas verdades, e com todo o direito. O tal "ajuste" já está feito, ou Dilma (e o PT) entendem de uma vez que é preciso buscar retomar o discurso e a prática desenvolvimentista ou o quadro não mudará. A resposta está nas urnas desde 2003: o povo vota na geração de emprego, de renda e rejeita a agenda neoliberal financista. Ponto.
Agora, o que aconteceu com Suplicy foi lamentável e injustificável. Parece que Dilma não tem nenhum apreço pelo ex-Senador. Talvez o sobrenome atrapalhe, já que é usado pela Marta, sei lá. O caso é que Dilma e grande parte do PT, até amigos pessoais meus, não entendem Eduardo. Suplicy é tido como um político de um discurso só, a renda básica de cidadania. E daí? Será que o PT, principalmente o PT paulista, vai demorar muito tempo para perceber que o partido está literalmente quebrado em São Paulo? Será que vai demorar muito tempo para perceber que é da administração Haddad que vem o novo? Quando que o partido em São Paulo vai tomar Haddad como bandeira e sair por aí a debater pelo Estado bandeirante? Suplicy faz parte desse time, ele é de Haddad e é o único político petista que pode andar por todo Estado sendo ouvido, respeitado e aplaudido. É pouco? Bola fora, Dilma.
Ricardo Jimenez
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