O Secretário da Educação de São Paulo esteve hoje na Globo (23/09/15) para anunciar a nova e profunda reorganização da divisão de alunos por escolas, que será feita por faixa etária, reordenando 4 milhões de alunos e 200 mil professores.
Junto às propostas do Plano Estadual da Educação, o recado do senhor Herman é simples: preparem o lombo!
Os números trazem perspectivas alarmantes para a categoria docente.
Esse ano todos sentiram dificuldade em completar sua jornada. O número de adidos aumentou, o número de efetivos trabalhando em até três escolas aumentou, o fechamento de salas de aula aumentou, o ensino noturno está sendo extinto e ainda há 29 mil concursados esperando para serem efetivados.
Entenderam?
O Secretário afirmou, no seu relatório prestado na Globo, que o número de alunos na rede diminuiu de 6 milhões para 4 milhões nos últimos 10 anos. Alegou a queda da natalidade como causa. Mas a verdade é que foi o aprofundamento da municipalização e a migração de alunos para as escolas técnicas federais os fatores responsáveis por essa queda.
Me informa o Conselheiro da APEOESP, Roberto Tofoli, de Ribeirão Preto, que a meta 21 do PEE estabelece a completa municipalização do Ensino Fundamental I em 2016.
Municipalização é desemprego para quem está na rede estadual.
O anúncio feito pelo Secretário na Globo trouxe a notícia, como afirmei acima, de que haverá uma profunda reformulação no arranjo dos alunos nas escolas. Haverá uma divisão por série e faixa de idade. Ou seja, o professor que completa sua jornada em uma escola com ensino fundamental e médio que se prepare, provavelmente terá que completar em duas ou mais escolas a partir de 2016. Isso quando o professor não for obrigado a mudar de sede.
As mudanças começam agora em novembro, afirmou o Secretário!
Some-se a isso, mais uma vez valendo-me das informações da APEOESP, as metas 22 e 23. A primeira refere-se à reformulação do ensino médio, com ensino por áreas de conhecimento ao invés de disciplinas. O medo toma conta dos docentes toda vez que o Governo anuncia as suas já tradicionais alterações impostas de cima para baixo. Como será isso? Como serão as atribuições de aulas e classes? Ninguém sabe. O que se sabe é que mais desemprego pode estar a caminho.
Já a meta 23 estipula os parâmetros da carreira docente. Ora, o governo paulista jamais valorizou a carreira docente. Nem mesmo a data base ele cumpre. A meta 23 assusta porque nela vem contida a norma de só aumentar salário através das chamadas "provas de mérito". E todo mundo que está na rede conhece as artimanhas da "prova de mérito".
A APEOESP iniciou um recolhimento de assinaturas populares para um plebiscito contra as reformas do governo estadual. Após uma greve de 90 dias onde o Governador sequer se dispôs a conversar, é cada vez mais dura a luta dos professores contra esse aparato monstruoso de opressão da categoria.
A impressão clara de tudo isso é que a intenção do governo é transformar o ensino público paulista em um depósito de pobres ensinados por professores pobres e desvalorizados. E cujas perspectivas de ambos, alunos e professores, são cada vez menores e mais tolhidas.
São mais de 4 milhões de jovens desestimulados por um sistema que não oferece futuro e 200 mil professores cada vez mais com o sentimento de impotência e humilhação. O sentimento de humilhação começa na atribuição de aulas, permanece na ausência de uma política salarial e se completa na eterna incerteza de seu futuro de um ano para o outro, a reboque das mudanças de humor dos governantes tucanos.
São 20 anos de tucanato. A educação paulista é a 14a do Brasil em qualidade de ensino e a 17a em termos de salários aos docentes. A violência é silenciada na base da pressão sobre os professores, para que não registrem boletins de ocorrência. O número de professores que solicita exoneração com menos de dois anos de trabalho é recorde.
Esse é o quadro da educação paulista, cujo governo é um dos que lideram as críticas à Lei do Piso, que estabelece além da melhoria dos salários, uma jornada menor e mais tempo de preparação pedagógica.
Os professores e os alunos do Estado de São Paulo não merecem essa realidade.
Ricardo Jimenez
Nos meus quase cinquenta anos de professor no ensino estadual venho dizendo que os governos estaduais promovem escola para pobres. Quem em sã consciência e com possibilidade financeira, colocaria seu filho, que almeja um curso superior público e de qualidade, como a USP, em escola estadual paulista? Agora, esta história de transformar o ensino médio em áreas e não continuar em disciplinas, como é hoje, sem discussão com os professores e pais de alunos? Reclamam que os professores são mal formados, como mudar essa pedagogia sem prepará-los? Como um professor treinado para lecionar biologia pode, eficientemente, dar aulas de química, física ou matemática, sem capacitá-lo para isso? Será que os vestibulares irão mudar adaptando-se à nova metodologia? As escolas particulares e os cursinhos estão gostando tremendamente dessas transformações, vão continuar nadando em dinheiro. É por isso que reafirmo: os governos estaduais só têm feito escolas para pobres, porque os abastados não a utilizam.
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