Fotos: Paulo Honório
São bairros populares, constituídos por uma população de trabalhadores e que recentemente recebeu uma grande população advinda de um programa de desfavelamento empreendido pela atual administração municipal.
Entre 2012 e 2013 comunidades inteiras foram removidas e transferidas da zona norte para conjuntos habitacionais da zona oeste. Um conjunto de pessoas que vivia em favelas existentes ao longo da Via Norte e nos bairros Simioni e Campos Elíseos passaram a viver nos conjuntos recém construídos na zona oeste, muitas vezes contra a sua vontade e na base da remoção forçada.
O acelerado aumento populacional sem a devida infraestrutura urbana e social potencializam os problemas de uma região. A fragmentação em vários bairros é, muitas vezes, uma saída do poder público para não cumprir com a sua responsabilidade e prover toda a infraestrutura de um bairro. Conjuntos habitacionais com mais de 500 moradias devem obrigatoriamente conter todos os equipamentos públicos necessários para serem liberados. Então, o poder público, em todos os níveis, lança empreendimentos com 498 moradias e, assim, sem a infraestrutura necessária, os problemas só se acumulam, pois escolas e postos de saúde, por exemplo, ao invés de atenderem um bairro, passam a se responsabilizar por uma região, o que é insuficiente.
Assim ocorreu na região oeste. Problemas com o fornecimento de água, com a segurança, atendimento à saúde, falta de escola, de transporte coletivo e, principalmente, falta de emprego e possibilidade de renda para o grande contingente populacional transferido para lá se tornaram comuns.
Foi exatamente por isso que, há cerca de dois anos, a comunidade local começou a se organizar. Entre o final de 2012 e o início de 2013 foram feitas as reuniões comunitárias que envolveram até 180 pessoas. O problema da segurança pública foi a pauta inicial das reuniões, somada posteriormente com os demais problemas que afligiam a população local. E, assim, Maria Sílvia Rutigliano Roque e mais 11 pessoas, com a orientação da advogada Raquel Montero, decidiram criar a Associação de Moradores do Complexo do Mirante, reunindo os bairros do Portal do Alto, Jamil Cury e Arlindo Laguna.
Em comum aos três bairros, além dos problemas, o belíssimo Pico do Mirante, o ponto mais alto da cidade, com uma visão de quase 360 graus de Ribeirão Preto e que atrai milhares de pessoas na virada do ano, mas que encontra-se abandonado pelo poder público e pouco valorizado pela população local que, infelizmente, acaba depositando lixo e entulho nos arredores do local.
Foi esta Associação que o blog O Calçadão foi conhecer na última semana. Ficamos sabendo que, envolvendo o comércio local, eles conseguem produzir o seu próprio informativo no qual divulgam para a população o resultado de suas lutas, como aquela que realizam junto ao Daerp para buscar solucionar o problema do abastecimento de água e que resultou na obra de perfuração de um novo poço para abastecer os condomínios recentes do Minha Casa Minha Vida.
Outra conquista importante é que a Associação de Moradores do Complexo do Mirante também se tornou a sede do CONSEG da região oeste, o programa de segurança comunitária realizado em parceria com a polícia civil e militar. Através do trabalho da sua Presidente, Maria Sílvia, a Associação lançou um Projeto de Vigilância Solidária pioneiro em Ribeirão Preto, buscando envolver toda a comunidade.
Recentemente, através da iniciativa de Jorge Luiz Silva, membro da Associação e comerciante local, o Complexo do Mirante protocolou um projeto de revitalização do Pico do Mirante em audiências públicas estadual e municipal sobre orçamento público. A ideia é transformar o belíssimo local em um parque multi funcional: esportivo, cultural, ecológico e social, invertendo a realidade de abandono e fazendo com que a população local o abrace como um patrimônio e, assim, solucionando a partir da conscientização o problema do lixo e do entulho que hoje são depositados em seus arredores.
Ir conhecer a Associação de Moradores do Complexo do Mirante foi cumprir uma importante etapa da existência do blog O Calçadão, que é fazer a ponte com o movimento popular e mostrar as suas histórias de lutas e conquistas. O pessoal do Mirante é um exemplo de organização e combatividade. Sua luta combina perfeitamente com o lema do blog: Uma Cidade para Todos.
Ribeirão Preto precisa alterar a sua realidade de cidade excludente e dominada pelo poder financeiro, principalmente das grandes construtoras. É preciso inverter esse quadro e promover uma maior visão social, com valorização da organização popular. Descentralizar a administração e se aproximar da população.
Transformar o Pico do Mirante em um parque municipal e retomar a política de parques municipais é uma obrigação do poder público. Mas nenhuma política ambiental de proteção dos mananciais urbanos e de recomposição do patrimônio verde será bem sucedida se não for feita em parceria com o povo.
Outro ponto de concordância entre o pessoal do Mirante e O Calçadão é com relação à necessidade de se modificar a política de ocupação urbana vigente. Basta de olhar a periferia como apenas um depósito de pessoas sem que seja fornecida toda a infraestrutura necessária.
75% da população de Ribeirão Preto vive em bairros populares da periferia. É hora de se priorizar quem mais precisa, é hora de voltar os investimentos nessas regiões, gerando políticas públicas que produzam qualidade de vida, emprego e renda para a maioria da população. A organização e a combatividade da Associação de Moradores do complexo do Mirante é um exemplo de luta popular visando o benefício da maioria.
Parabéns Maria Sílvia e parabéns aos companheiros da Associação do Mirante, tenham no blog O Calçadão um parceiro e que venham novas matérias com novos personagens da luta popular ribeirão-pretana!
Ricardo Jimenez
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