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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Mãos dadas! Por Cláudia Cantarella




Mãos dadas...
Não, eu não sou professora de Filosofia, nem de Sociologia, História ou Geografia que, em geral, são disciplinas comumente associadas a movimentos revolucionários estudantis. 
Sou uma professora de Língua Portuguesa, essa matéria repleta de regras, pontos, vírgulas, travessões, reticências, poesia... 
Também não faço parte de nenhum partido político, tampouco de sindicatos. E confesso que fiquei surpresa quando, na outra escola em que trabalho, enquanto lia um poema de Drummond, na manhã de terça-feira, soube, por meio de uma colega, que o Otoniel Mota havia sido ocupado pelos estudantes. Como assim? “Estou preso à vida e olho meus companheiros”.
Quando saí de lá, não tive dúvidas: abracei a causa dos alunos. Por quê? Porque são meninos que conheço, meninos que ocuparam o Otoniel Mota porque querem lutar juntamente com outros. Um deles me disse: “precisamos pensar, temos irmãos, primos, se houver fechamento de escolas, reestruturação desse jeito, onde eles e outros meninos irão estudar daqui a uns anos?”
Altruísmo é isso, pensar no outro, não ser imediatista nem querer certezas onde não há.
Apoio os meninos do OM porque são sinceros e puros e por estarem fazendo uma nova história. Não importa se eles e tantos outros meninos conseguirão fazer com que o governo estadual pense a respeito da educação- ainda que este “pensar” seja somente para fins eleitoreiros-, não importa o resultado que obviamente caberá a quem tem o poder de assinar ou não um papel, importa, sim, é que esses meninos, na luta que propuseram fazer, mostram a todos nós que nada está perdido.
Por isso, precisamos apoiá-los, não os deixando sozinhos, afinal, a luta é nossa também: de professores, dos diretores, dos funcionários e de toda comunidade. Quem fecha escolas, abre presídios, não há como negar. É claro que a educação do estado necessita de reformas urgentes, mas é preciso diálogo para encontrar uma solução adequada, não é mais possível articular a educação numa escola cujo modelo reporta-se ao século XIX, com professores do século XX e alunos do século XXI. Como diz Drummond: “...O presente é tão grande, não nos afastemos, Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.
O tempo tem de ser a nossa matéria, “o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.

Cláudia Cantarella é professora e colaboradora de O Calçadão

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