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sábado, 23 de janeiro de 2016
O que eu penso sobre o governo Dárcy Vera! Parte 2: A eleição de 2012!
Na política há duas coisas fundamentais que quando combinadas são infalíveis: ter um discurso ouvido pelo povo e saber ocupar os espaços vazios.
Foi exatamente assim que Dárcy Vera chegou ao Palácio Rio Branco.
A última vez que tivemos em Ribeirão Preto uma candidatura construída à esquerda, ouvindo o movimento popular, foi em 1992. E a primeira e última vez em que os tradicionais partidos de esquerda (PT, PSB, PCdoB, PDT e PCB) estiveram juntos na mesma chapa para Prefeito foi em 2000. Ambas as campanhas encabeçadas por Antônio Palocci.
A ida de Palocci para Brasília, e a derrota de Maggioni em 2004, representou o fim precoce de um ciclo e enfraqueceu o PT na cidade e, de quebra, a esquerda toda. Perdendo-se ao mesmo tempo o discurso diante da população e a posição privilegiada de antagonista local do PSDB.
Eis por onde surgiu o 'furacão cor-de-rosa'.
Com seu jeito popular (ou populista, como queiram), Dárcy ganhou o discurso na população e ocupou o espaço na disputa pelo poder (algo perfeitamente natural devido ao enfraquecimento do PT em sua capacidade de diálogo com os movimentos populares). Derrotou Gasparini em 2008 no primeiro turno, em uma ascensão fulminante que teve início com seus 27 mil votos para vereadora em 2004. Assim, deslocou Baleia Rossi da posição de liderar uma candidatura ao Rio Branco pela esquerda do tucanato.
obs: Dárcy fez o que Baleia queria ter feito em 2004, quando este montou uma coligação de 14 partidos. São os mesmos que hoje, com Dárcy, constituem a base política que dá as cartas na cidade desde 2008.
Dárcy foi a direita capaz de falar a língua do povão, se colocando como antagonista prioritária da outra banda da direita, a parte elitista representada pelos tucanos. E, nesse movimento, a politização das disputas na cidade se empobreceu, porque a maneira tradicional das esquerdas e dos movimentos populares se organizarem e dialogarem também se enfraqueceu.
Com isso, Dárcy Vera teve 52% dos votos em 2008 e 43% no primeiro turno de 2012. O que não é pouca coisa.
Mas, apesar de tudo, a eleição de 2008 e o primeiro turno de 2012 não foram tão traumáticos para o eleitorado progressista. O problema se deu no segundo turno em 2012.
*Aqui, é preciso pontuar dois fatores importantes, um para um melhor entendimento político, outro por justiça.
O primeiro fator é o movimento de Dárcy em direção ao centro do espectro político, seguindo os passos de seu líder Kassab. A criação do PSD, e a entrada na base de apoio do governo Dilma em 2011, deu condições para Dárcy ampliar seus apoios. Mantendo os de 2008, com o PMDB, PR e PPS, Dárcy conseguiu trazer também o PDT, PSB, PP e PCdoB em 2012. Construiu um arco de alianças capaz de dialogar ao mesmo tempo com o governo estadual tucano e governo federal petista.
obs: a ligação com o governo federal acabou sendo maior devido ao afastamento de Kassab da esfera tucana e até pela pobreza de projetos do governo estadual.
O outro fator, de justiça, na minha opinião, é constatar que o PT local, por sua importância e tamanho político, não abriu mão de disputar a Prefeitura mesmo com a aproximação de Dárcy do governo federal e com a atração para o seu campo de três siglas clássicas da esquerda até aquele momento (PSB, PDT e PCdoB). O PT local manteve a postura de propor um programa de governo mesmo com toda dificuldade de lidar com a relação de Dárcy com o governo federal, com a fragilidade de diálogo com o movimento popular e com um certo isolamento político partidário. Uma posição corajosa e necessária.
Voltando...
Dárcy e sua esfera de alianças representou e representa o populismo pragmático. Há um diálogo com as massas, evidente que há, mas é um diálogo despolitizado, paternalista. Os canais abertos via conselhos populares são meio pró-forma, burocráticos. A manutenção do clientelismo e do patrimonialismo são evidentes.
Mas no segundo turno de 2012 era preciso tomar uma posição.
Era Dárcy Vera ou Duarte Nogueira. Ponto.
Apesar de todas as deficiências de Dárcy e seu projeto administrativo, que exponho aqui em artigos e já eram sabidas por mim em 2012, eu e outros tantos companheiros votamos em Dárcy Vera. E eu votaria de novo se o mesmo dilema se repetisse, pedindo vênia a quem pensa em contrário.
Votaria de novo mesmo sabendo do profundo desrespeito que sua administração tem com os sem teto da cidade, expostos às remoções forçadas nos recantos distantes dos bairros populares. Votaria de novo mesmo sabendo que sua administração estaria loteada entre figuras que representam as piores práticas políticas e a submissão aos ditames do poder econômico.
Votaria de novo porque meu voto não foi um voto programático, foi um voto pragmático. Porque, sinceramente, eu preferiria viver dentro de um buraco no asfalto a ser governado por um tucano.
Apesar de tudo, dentro do governo Dárcy Vera há inúmeros companheiros valorosos, honestos e bem intencionados. Companheiros que lutam uma batalha inglória, mas que a fazem olhando para o futuro da cidade.
Um Plano Diretor da qualidade do que está sendo proposto, obrigando a base política governista a fazer contorcionismos para adiá-lo, jamais seria possível em um governo tucano. As obras e os mais de 23 programas do Governo Federal desenvolvidos em Ribeirão Preto e que melhoram a vida da população jamais seriam possíveis em um governo tucano.
Não há em mim, portanto, crise de consciência. O que há é apreensão com o cenário de 2016, ao perceber que pouco avançamos enquanto esquerda que acredita que o único caminho para a construção de uma cidade sustentável e participativa é através do fortalecimento do movimento popular e da democratização administrativa.
Me preocupa verificar que estejamos caminhando para o mesmo cenário passado, apenas trocando Dárcy Vera por outro nome de ocasião, mas mantendo a mesma política, enquanto que a construção de um projeto verdadeiramente popular fique novamente em segundo plano.
Mas isso é assunto para outro artigo. Brevíssimo...
Ricardo Jimenez
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