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sábado, 13 de fevereiro de 2016

A luta, a saudade e os sonhos dos haitianos em Ribeirão Preto!

Fotos: Filipe Peres
No último dia 23 de janeiro uma onda de violência espalhada por grupos rivais impediu a realização do segundo turno das eleições presidenciais no Haiti. Foi apenas o últimos dos inúmeros problemas que afligem aquele país caribenho, de língua francesa e que divide a histórica ilha de Hispaniola com a República Dominicana.

Após viver entre 1957 e 1986 um período cruel dos ditadores Papa doc e Baby doc e sua polícia política chamada tontons macautes, a 'Pérola das Antilhas', como é chamado o Haiti, o primeiro país a se tornar independente em 1804 após uma revolução comandada por escravos, buscou a democracia mas sofre um processo de convulsão interna desde a tentativa de golpe de Estado em 2004 e que derrubou o Presidente Jean Bertrand Aristide.

O terremoto de 2010 que matou mais de 100 mil pessoas devastou o país e sua economia e agravou o caos social. Centenas de milhares de haitianos deixam o país todos os anos em busca de uma vida melhor, deixando para trás a saudade da família e levando seus sonhos consigo.

A MINUSTAH, ação da ONU comandada pelo Exército Brasileiro há 11 anos, coloca os irmãos haitianos no rumo do Brasil. A rota do Acre é a mais procurada. Uma vez no Brasil inicia-se a luta: o obstáculo da língua, o preconceito, a intolerância, a falta de um abrigo e de políticas públicas que os encaminhem para a regularização documental e o emprego.

Essa é a situação de mais de 50 haitianos que hoje vivem em Ribeirão Preto.

No último fim de semana, o blog O Calçadão conheceu três deles: o casal José Jacques e Louinise Pierre e o gente boa Beauvois Emilca. Encontramos os três na casa da nossa amiga e companheira de luta Marisa Honório, da pasta de combate ao racismo da União Brasileira de Mulheres, da ong Casa da Mulher e do Sindicato dos Servidores.

Marisa
Nossos amigos haitianos vieram do sul do Brasil e acabaram vindo para Ribeirão Preto em busca de um clima mais parecido com o do seu país. Enfrentando dificuldades de moradia, regularização de documentos e para arranjar trabalho, um grupo de nove haitianos buscou ajuda em uma igreja batista do bairro Simioni. Foi através do pastor que nossos irmãos caribenhos tiveram a sorte de encontrar a Marisa.


Com o conhecido empenho dedicado àqueles que mais precisam, Marisa se tornou a amiga de todas as horas, ajudada por todos aqueles que também militam em prol das causas populares, como a assistente social Ione Silva, da Prefeitura de Ribeirão, que ouve e encaminha os problemas de mais de 4 mil pessoas por ano que a procuram no Palácio Rio Branco.

Aos poucos a barreira da língua vai se desfazendo, o problema de moradia foi resolvido, os documentos encaminhados e agora floresce os sonhos, além da saudade.

"Telefono sempre para a minha família no Haiti", diz Louinise, formada em Biomedicina em Porto Príncipe.


Beauvois quer estudar mecânica e aguarda para breve a chegada de sua esposa no Brasil: "Estou feliz aqui, fui muito bem recebido em Ribeirão Preto e quero construir meu futuro aqui", diz, sorrindo, quando digo à ele que já é brasileiro.


A tarde de conversa e deliciosos quitutes também teve a agradável presença da artista plástica Maria Helena de Oliveira, delicioso papo e muita coisa a passar da sua experiência de vida e militância no movimento negro.


O Brasil é um país gigante, rico, diverso e historicamente aberto ao outro, ao mundo, ao diferente. Somos uma pátria miscigenada, plural, culturalmente diversa e ligada por uma língua. Somos a pátria escolhida por nossos irmãos haitianos e por inúmeros outros irmãos mundo a fora.



A tarde terminou assim, feliz. Sejam bem-vindos, companheiros!

Ricardo Jimenez

Um comentário:

  1. Que mais cidadãos tenham a mesma postura de dar um pouco de dignidade a esse povo tão sofrido...

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