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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Conheça Mireille Martins, uma mulher negra universitária!

Conheci Mireille Martins em um Sarau Preto, uma roda de poesia que acontece mensalmente no Centro Cultural Quintino II em Ribeirão Preto. Ouvi na ocasião o seu relato sobre a realidade universitária que enfrenta com dignidade, consciência e dedicação e a convidei para escrever no blog. O resultado você pode conferir abaixo.
Conheça um pouco a realidade de uma jovem negra da periferia de Ribeirão Preto, estudante de escola pública, que ingressou em uma Universidade Federal levando consigo a consciência necessária para enfrentar as dificuldades, encarar um ambiente elitista e hostil ao jovem negro e transformá-la em uma mulher negra universitária, uma pesquisadora apta a transformar a realidade de quem a cerca e a levar sua negritude militante à outras mulheres mundo a fora.

Não é de hoje que se discute o papel do negro nas universidades. O tema cotas raciais ganha relevância, dentre outros temas, mas pouco se fala de como as universidades se preparam para
receber alunos negros.

Independente de qualquer coisa, quando o assunto são as 'grandes' universidades brasileiras, públicas ou particulares, o acesso de alunos negros a elas é restrito. A política de cotas é algo fundamental, mas não podemos esquecer que há importantes universidades que não aderiram a ela por falta de interesse ou coragem, não assumindo que são um ambiente branco e completamente elitizado.

Hoje sou aluna de uma Universidade Federal, mas sempre fui aluna da escola pública estadual, de um bairro periférico da cidade de Ribeirão Preto. Portanto, não posso deixar de falar aqui da dificuldade que não somente nós alunos negros, mas todos os alunos oriundos da escola pública e de periferia, encontramos quando decidimos enfrentar algo mais que o 'vestibular da vida' e entramos em uma universidade pública.


Sinto na pele o atraso escancarado que tem um aluno de escola pública com relação ao que é exigido em uma Universidade. Tenho 17 anos e tenho que me defrontar com um nível de exigência e dedicação aos estudos que ainda não conhecia. Tudo conspira contra. Penso como é difícil enfrentar a realidade da disparidade social entre os alunos e romper o 'privilégio branco', elitista e suas hierarquias, que agem sempre para manter o sistema criado para garantir o 'sucesso' dos escolhidos.

Mas vou falar de coisas boas. Não desejando ser refém de todo esse atraso forçado (por uma escola pública sucateada e destinada aos mais pobres - grifo de O Calçadão) nem de todo esse sistema desigual, optei por dar o melhor de mim e ir à luta, coisa que recomendo a todos. De maneira alguma devemos nos contentar em ser apenas mais um jovem negro que ingressa em uma universidade e por 'N' motivos acaba tendo que deixá-la, engrossando a lista da enorme evasão que nos acomete.

Primeiramente, corri atrás daquilo que meu sistema de ensino não me ofereceu. Me dediquei aos estudos, às aulas, participei de projetos e outras coisas que acreditei que seriam importantes para resolver a minha defasagem. Fui me policiando e me posicionando, principalmente buscando defender a nossa voz quando queriam nos calar.

Vencida essa primeira etapa, busquei me encaixar em algum grupo de pesquisa. Encontrei a pesquisa sobre a luta e as questões étnico-raciais, em parceria com a Assistente Social e Professora substituta Cleidislene Silva e com uma equipe do CRAS Brasil, criamos o projeto chamado 'Beleza Negra'. O projeto visa mostrar a beleza da mulher negra, valorizar a mulher negra, trabalhar sua auto-estima e sobre a cultura Afro e o posicionamento político que muitas vezes são desconhecidos por elas.


Seja na sociedade ou dentro das universidades, poucos são os profissionais que tratam das questões étnico-raciais. Portanto, escolhi essa vertente de estudos porque senti necessidade de um projeto como esse na minha universidade, seja a partir da minha experiência de vida, seja por perceber no ambiente universitário a necessidade de ter mais mulheres negras politizadas e conscientes de sua condição social.

O projeto veio como uma renovação da minha militância, fazendo eu me encontrar no ambiente universitário e mostrando que se não há quem fale sobre um assunto, que eu mesma fale. No semestre em que foi desenvolvido, o projeto foi um sucesso, marcando cada pessoa que participou e me marcando mais ainda, pois pude ver no final que grandes mulheres negras se formaram ali. O projeto me mostrou de forma simples que eu devo continuar a lutar pelos meus, ter e dar voz aos meus, militar pelos meus. Ajudar os jovens negros a se reconhecerem como tal.


É preciso nos posicionarmos como mulheres negras nessa sociedade padronizada. É preciso abrirmos nossas bocas e ocuparmos nossos lugares, os lugares que são nos dito que não nos pertencem, como a universidade pública, por exemplo. Não podemos nos calar e nem deixar sermos caladas.

A luta da mulher negra na universidade, na sociedade, no trabalho, em todos os lugares não é só minha, ou só sua, mas de TODAS.

Se posicionem onde estivermos, mulheres, se posicionem!

Mireille Martins é estudante de Serviço Social na Universidade Federal de Uberlândia - Campus Pontal.

4 comentários:

  1. Você Mireille está de parabéns, tenho orgulho de lhe conhecer e só confirma o que já lhe disse antes, você vai longe e muito longe, a luta pelos nossos ideais é árdua e contínua... mas as recompensas são gratificantes...

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  2. Parabéns Mireille a vida e uma constante batalha e só vence quem está disposto a lutar.

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  3. Mireille, mais um vez digo pra ti, parabéns. Essa ótica sobre a sociedade negra precisar ocupar seu espaço, ocupar aquilo que todos devemos ter, que é o DIREITO de estudar, ir e vir a qualquer lugar sem descriminação é o que queremos a tempos, que nossos pais, avós e nossos antecessores sempre quiseram e não digo que é impossível, mas sim que estamos mais próximos dessa realidade. Espero que seu conhecimento ajude a sociedade ao seu redor de alguma forma, mesmo que seja uma pequena mudança, mas que saibam que você lutou arduamente para conseguir tal ato, que deu tudo de si. Você é um exemplo pra mim e com certeza pra sociedade NEGRA, que é oprimida cada dia mais, juntos, todos vamos longe.

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