A Europa é, principalmente no pós guerra, o berço do Estado do Bem-Estar Social. Os países europeus, principalmente os ocidentais, construíram estruturas de Estado onde imperava o livre comércio na microeconomia e o planejamento na macroeconomia.
Um pacto social possibilitou que impostos elevados permitissem ao Estado garantir serviços públicos de qualidade e proteção integral à população.
O Trabalhismo e a Social Democracia europeias garantiram a existência da plena cidadania e do desenvolvimento social nos países capitalistas da Europa, fazendo um contra-ponto tanto ao liberalismo quanto ao bloco socialista liderado pela URSS.
(pode-se entender melhor a gênese do Estado do Bem-Estar Social estudando-se a vida e a obra de Gunnar Myrdal, o grande formulador das políticas aplicadas nos países escandinavos).
Mas o sonho da União Europeia, nascido em 1957 e consolidado em 1993 com o Tratado de Maastricht, não seguiu este caminho, pelo contrário, imperaram na UE, desde sua fundação, as regras do neoliberalismo, que ganharam força no mundo após a queda da URSS e do chamado 'Consenso de Washington', ocorridos no início dos anos 1990.
A recente vitória em referendo da proposta de saída do Reino Unido da UE, apesar do predomínio dos argumentos xenófobos contra imigrantes e outras pautas ligadas aos movimentos de direita e ultra-direita que crescem na Europa, é o reflexo dos problemas que enfrenta uma UE cada vez mais neoliberal.
A saída do Reino Unido (apesar de ser o mais liberalista e pró-EUA dos países europeus) pode significar o início de um processo de derrota do projeto da União Europeia, com reflexos graves para a região e para o mundo.
Representa a exposição das rachaduras criadas no processo de integração capitalista da Europa, dominado pelos interesses do grande capital e de suas maiores potências. E a pior coisa agora é ficar culpando os eleitores britânicos ou jogando peso em cima dos movimentos de direita e do discurso xenófobo.
É preciso não desviar o foco do problema real da UE que é o neoliberalismo, as políticas de austeridade que estão solapando ano a ano os fundamentos do Estado de Bem-Estar Social europeu e servindo de esteio para o crescimento de um discurso de direita na região.
Os novos grupos políticos que estão antenados para essa questão central têm crescido, como o Podemos na Espanha.
Para evitar o colapso, a UE deve olhar para si mesma e olhar para a história de formação de todo o sistema político e social da Europa pós guerra e enfrentar o inimigo correto.
Ricardo Jimenez
Nenhum comentário:
Postar um comentário