A tragédia ocorrida na madruga
deste domingo na cidade de Orlando nos EUA, choca, mas principalmente
entristece. Naquela madrugada, um atirador entrou em uma boate frequentada
principalmente pela comunidade GLBT matando 49 pessoas e ferindo outras 53.
Depois de mais de 3 horas de horror a polícia invadiu o local e matou o
atirador.
A tragédia é chocante porque
de uma única vez ceifou a vida de 49 pessoas inocentes que nada faziam a não
ser se divertir em um local que até então lhes parecia ser menos hostil que as
ruas os becos das grandes cidades.
Ela também entristece porque
mostra ainda quanto ódio ao outro, ao diferente, à diversidade ainda existe
seja aqui ou lá. Vimos, diante da repercussão do caso, inúmeras demonstrações
deste ódio, inclusive com a aprovação da barbaridade do ato praticado pelo
atirador. Jorra sangue pelas palavras destas pessoas.
Mas Orlando nos deixa algumas
lições que temos que aprender à custa de continuar pagando um alto preço pelas
nossas vidas.
A começar pelo ódio e pela
intolerância que insiste em ganhar voz e visibilidade, naquele e nesse país por
políticos e discursos oportunistas. Ódio não só pela comunidade LGBTT, mas por
todos aqueles que são diferentes do paradigma vigente. E tal discurso, assim
como ocorreu durante o nazismo, seduz com facilidade e ganha adeptos. Nesse
discurso não se tolera o diferente, não se pode e não se consegue conviver com
ele, por isso tenta-se eliminá-lo. Faz isso com a população negra a colocando as
margens da sociedade em barracos e favelas quando não são encarcerados (ou
alguém acha que são jovens brancos e de classe média presos por tráfico?).
Faz-se isso com aos adeptos das religiões com matriz africana (temos visto
inúmeros ataques aos terreiros de umbanda que já são proibidos em algumas
favelas do Rio. Faz-se isso com a comunidade LGBTT reprimindo e obrigando a se
esconder em casas ou nas esquinas escuras das grandes cidades. Por isso, é
importante identificar tal discurso e aprender a desconstrui-lo. Por isso que
precisamos conversar sobre racismo, homofobia e questões de gênero nas escolas.
O Brasil é um dos países que mais mata a população LGBTT, e isso pode piorar
nos próximos anos dado o aumento da intolerância.
O atirador naquele país que é
tido como exemplo de liberdade e justiça pode comprar sua arma com facilidade
(uma AK, extremamente potente e letal e muito usada nesses casos de massacres).
Ele, mesmo com relatos de problemas psiquiátricos e casos de violências e mesmo
tendo sido acusado por colegas e tendo sido investigado, conseguiu comprar
livremente sua arma. Nesse sentido, o porte de arma é outra coisa que devemos
tomar como lição. Mesmo os mais adeptos do porte livre de armas (sou plenamente
contra) hão de convir que este controle é ineficaz lá e seria até perigoso
(senão doloso) aqui.
Orlando é chocante entristece,
mas pode ensinar. Ore por Orlando, mas lute pela diversidade, lute pela
igualdade.
Aílson Vasconcelos é professor e editor do blog O Calçadão
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