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terça-feira, 26 de julho de 2016

Coxinhas não levam mais ninguém às ruas. O golpe está exposto. Dilma tem que acertar a mão e virar o jogo!

É certo que o golpe impetrado pela oligarquia política brasileira, encabeçada pelo PMDB, tem total apoio da mídia tradicional e de setores empresariais e financeiros de São Paulo e internacionais. É certo que esta concertação golpista tem apontado seus canhões aos direitos de décadas e aos avanços sociais dos últimos 13 anos. E é certo que este esquema não tem tido, ainda, o combate de massa por parte da população.

Mas isso não vai demorar muito.

O sinal disso é que os coxinhas já não conseguem levar mais ninguém às ruas além deles mesmos, uma meia dúzia de manifestantes desmiolados ou pagos pela FIESP.

O golpe já está exposto e a lenga lenga do combate à corrupção já não cola mais.


É nesta linha que vai o brilhante artigo da professora Eleonora de Lucena. A elite pérfida não perde por esperar.

Mas isso não tira a responsabilidade de Dilma e dos movimentos políticos e sociais que lutam contra o golpe. Dilma precisa acertar a mão. Aguardamos a sua Carta aos Brasileiros para o próximo dia 8. É preciso partir para o confronto final nas ruas e no Senado, para reverter lá o golpe do impeachment.

A agenda do golpe jamais venceria uma eleição porque a agenda do golpe não é a agenda do povo. A vitória de Dilma em 2014 com uma agenda de esquerda e sua extraordinária queda de popularidade após aplicar o ajuste neoliberal já mostravam isso.

Abaixo, o artigo da professora Eleonora:

A elite brasileira está dando um tiro no pé. Embarca na canoa do retrocesso social, dá as mãos a grupos fossilizados de oligarquias regionais, submete-se a interesses externos, abandona qualquer esboço de projeto para o país.

Não é a primeira vez. No século 19, ficou atolada na escravidão, adiando avanços. No século 20, tentou uma contrarrevolução, em 1932, para deter Getúlio Vargas. Derrotada, percebeu mais tarde que havia ganho com as políticas nacionais que impulsionaram a industrialização.

Mesmo assim, articulou golpes. Embalada pela Guerra Fria, aliou-se a estrangeiros, parcelas de militares e a uma classe média mergulhada no obscurantismo. Curtiu o desenvolvimentismo dos militares. Depois, quando o modelo ruiu, entendeu que democracia e inclusão social geram lucros.

Em vários momentos, conseguiu vislumbrar as vantagens de atuar num país com dinamismo e mercado interno vigoroso. Roberto Simonsen foi o expoente de uma era em que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) não se apequenava.

Os últimos anos de crescimento e ascensão social mostraram ser possível ganhar quando os pobres entram em cena e o país flerta com o desenvolvimento. Foram tempos de grande rentabilidade. A política de juros altos, excrescência mundial, manteve as benesses do rentismo.

Quando, em 2012, foi feito um ensaio tímido para mexer nisso, houve gritaria. O grupo dos beneficiários da bolsa juros partiu para o ataque. O Planalto recuou e se rendeu à lógica do mercado financeiro.

Foi a senha para os defensores do neoliberalismo, aqui e lá fora, reorganizarem forças para preparar a reocupação do território. Encontraram a esquerda dividida, acomodada e na defensiva por causa dos escândalos. Apesar disso, a direita perdeu de novo no voto.

Conseguiu, todavia, atrair o centro, catalisando o medo que a recessão espalhou pela sociedade. Quando a maré virou, pelos erros do governo e pela persistência de oito anos da crise capitalista, os empresários pularam do barco governista, que os acolhera com subsídios, incentivos, desonerações. Os que poderiam ficar foram alvos da sanha curitibana. Acuada, nenhuma voz burguesa defendeu o governo.

O impeachment trouxe a galope e sem filtro a velha pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e saúde, desmanche de conquistas trabalhistas, ataque a direitos.

O objetivo é elevar a extração de mais valia, esmagar os pobres, derrubar empresas nacionais, extinguir ideias de independência. Em suma, transferir riqueza da sociedade para poucos, numa regressão fulminante. Previdência, Petrobras, SUS, tudo é implodido com a conversa de que não há dinheiro. Para os juros, contudo, sempre há.

Com instituições esfarrapadas, o Brasil está à beira do abismo. O empresariado parece não perceber que a destruição do país é prejudicial a ele mesmo. Sem líderes, deixa-se levar pela miragem da lógica mundial financista e imediatista, que detesta a democracia.

Amargando uma derrota histórica, a esquerda precisa se reinventar, superar divisões, construir um projeto nacional e encontrar liderança à altura do momento.

A novidade vem da energia das ruas, das ocupações, dos gritos de "Fora, Temer!". Não vai ser um passeio a retirada de direitos e de perspectiva de futuro. Milhões saborearam um naco de vida melhor. Nem a "teologia da prosperidade" talvez segure o rojão. A velha luta de classes está escrachada nas esquinas.

ELEONORA DE LUCENA, 58, jornalista, é repórter especial da Folha. Editora-executiva do jornal de 2000 a 2010, escreve livro sobre Carlos Lamarca

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