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sábado, 9 de julho de 2016

No 9 de julho, a elite paulista comemora o anti-getulismo e o 'paulistismo'!



O 'paulistismo' foi algo construído pela elite bandeirante desde a segunda metade do século 19 e é alimentado até hoje por suas lideranças políticas aristocráticas, egocêntricas e, em certa medida, separatistas, sentimento que ronda uma direita que ainda está abraçada ao integralismo fascista de Plínio Salgado.

A elite paulista é a mais obtusa e ingrata das elites latino-americanas. Jamais reconheceu que o avanço paulista da segunda metade do século 19 se deu com investimento nacional. Diz que defende a democracia constitucional quando comemora a sua "revolução" de 1932, mas esconde que a "democracia" paulista na República Velha convivia com índices de analfabetismo de 80% (analfabetos não tinham cidadania na República Velha paulista) e que o primeiro Ministério da Educação só foi criado por Vargas depois de 1930. Além da questão do voto feminino e diversas outras questões de Estado que só foram implementadas por Vargas.

O movimento paulista de 1932, que promoveu um levante armado contra a Federação, contra Getúlio Vargas, nada mais foi do que uma tentativa de voltar ao poder político exercido durante a República Velha e perdido em 1930.

Aliás, foi a elite paulista que esticou a corda em 1930 e acendeu o estopim do movimento liderado por Vargas e por outras lideranças nacionais. Com a crise de 1929, São Paulo via como única alternativa de proteger os interesses de sua elite cafeeira a sua manutenção a todo custo no poder central. Então, Washington Luís rompe o acordo com Minas Gerais e lança o paulista Júlio Prestes à sua sucessão.

Minas Gerais, parceira até então na chamada "política do café com leite", é jogada no colo dos interesses gaúchos e o movimento que levaria Getúlio ao poder se inicia.

1930 é o momento da história onde duas visões de Brasil se confrontam: a visão paulista e a visão nacional do positivismo gaudério, construído nas hostes castilhistas a partir do final do século 19.

É preciso lembrar, também, que em 1910 o presidente Hermes da Fonseca já havia tentado 'domar' o poder paulista, o 'paulistismo', e iniciar uma política de integração nacional e maior divisão de poder entre as entidades federadas e, se não tivesse recuado em suas intenções, frente à violenta reação paulista na ocasião, que chegou a arregimentar tropas, a guerra entre os paulistas e o governo central teria ocorrido com vinte anos de antecedência.

A lamentável morte dos rapazes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, em maio de 1932, num confronto nas imediações da Praça da República, quando a mídia paulista insuflou o povo contra as imposições de Getúlio, se insere nos quadros das mortes que servem a uma causa inútil.

Sete anos depois da lamentável morte do MMDC, e de outros 934 combatentes de ambos os lados durante o conflito armado, São Paulo e Getúlio fazem as pazes, os cafeicultores paulistas recebem dinheiro e proteção da União e São Paulo permanece sendo prioridade em uma República que abandona outras regiões importantes à própria sorte, como o nordeste, por exemplo.

Eu não comemoro o 9 de julho. Eu não comungo do 'paulistismo' anti-getulista.

Esse feriado foi estabelecido em 1997 pelo governo tucano, símbolo do "paulistismo" e símbolo maior do atual golpe político contra a democracia ocorrido em 2016.

O 'paulistismo' se caracteriza pela visão rasa de Brasil, pelos expoentes atuais tucanos, defensores de uma agenda política anti-nacional e anti-popular, de uma agenda econômica neoliberal e de uma agenda social conservadora e excludente. A voz da Casa Grande e do rentismo nacional.

A voz e o 'pensamento paulista' têm força na mídia tradicional, através dos conservadores e direitistas Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, com colaboração inclusive no período da ditadura.

Uma reforma democratizadora da mídia, que serve ao objetivo de nacionalizar as vozes e as ideias e diminuir o poder 'paulista', sofre violenta oposição nos veículos de mídia eivadas de 'paulistismo'. 

Prefiro, neste dia, aproveitar o feriado para pensar em datas mais importantes, mais significativas do ponto de vista popular, como o 5 de julho, data do movimento de rebelião tenentista de Isidoro Dias Lopes contra a elite paulista em 1924 e que resultou no bombardeio dos bairros populares da Moóca e do Brás, matando trabalhadores.

O feriado de 9 de julho é a cara da elite paulista, anti-nacional, anti-pátria, anti-povo. Importante lembrar que a proposta de aumentar a jornada de trabalho para 80 horas semanais nasceu de dentro do pensamento do empresariado paulista, assim como a redução da maioridade penal, a extinção da previdência pública e outros retrocessos que veem no bojo do governo golpista do paulista Temer.

Neste 9 de julho, eu sou mais brasileiro e cada vez mais me coloco na defesa dos milhões de paulistas e demais brasileiros excluídos e que esperam um avanço econômico nacional, trabalhista, democrático, inclusivo e integrado.

Neste 9 de julho, precisamos de menos 'paulistismo' e mais brasilidade.


Ricardo Jimenez

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