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domingo, 21 de agosto de 2016

Mulheres, Saúde Mental e Capitalismo

                                                                     Fotos: Filipe Peres

Evento da Frente Mulheres pela Democracia, de Rib. Preto, traz o papel subversivo dos feminismos ao romper as fronteiras da normatividade. A desconstrução pela via da psicologia social foi a primeira discussão e contou com a presença de Ana Bock


Por Juliana Mello Souza*

O movimento feminista em Ribeirão Preto deixa de ser tímido e, ao que tudo indica, ganha fôlego e se move. É um movimento que, muito embora haja algumas poucas fissuras de representatividade, discute, problematiza e atua. E atua num trabalho de base consistente e engajado, criando reais possibilidades de empoderamento das mulheres envolvidas.
Um destes movimentos é a Frente Mulheres pela Democracia, recentemente criado por jovens mulheres, dos mais diversos segmentos, com forte compromisso social, sobretudo pela redução das assimetrias de gênero e da desigualdade social.
A primeira iniciativa de discussão foi realizada no último sábado (dia 20/08), num dos espaços voltados à cultura de resistência em Ribeirão, o Armazém Baixada. O tema "Mulheres, Saúde Mental e Capitalismo" foi convidativo e muito bem conduzido pela sua figura principal, a Profa. Doutora em Psicologia Social Ana Maria Mercês Bock.
Bock abriu o encontro pautando o caráter misógino do golpe em curso no Brasil e de como a cultura patriarcal no país é permissiva quanto à representatividade assimétrica e machista das mulheres na política, nomeadamente na figura da presidenta Dilma Rousseff. A partir deste ponto, Bock explicou de que forma as insituições - com destaque para a mídia - constrói uma narrativa que reproduz a violência contra (o protagonismo das) as mulheres.
Sendo então a psicologia parte deste discurso institucional, idealizada para responder às necessidades especiais que a elite (privilegiada) sempre apresentou e, portanto, idealizada para discriminar, Bock propõe a desconstrução do que a própria psicologia chama de normalidade, ou seja, de todas regras e pressupostos que estruturam o comportamento individual e coletivo. Para Boch, é justamente aqui que residem as noções morais de conduta na sociedade, logo, de tudo aquilo que permeia os modelos de comportamento das mulheres.
"As desvalorizações decorrentes destes arquétipos são frutos de uma moralidade hegemônica do próprio sistema capitalista, patriarcal e excludente em sua essência. A (re)produção de uma certa normalidade do ponto de vista psicológico traz profundos riscos para as minoriais sociais, como, por exemplo, as mulheres", explicou Bock. Assim, a invisibilidade produzida nestas relações sociais, complementa a psicóloga, contribui para o desenvolvimento e o agravamento de sérias patologias.
O panorama é complexo, mas há saídas possíveis. Uma delas, como defende Ana Bock, é pela via do diálogo que promove a subversão da normalidade e da moralidade hegemônicas das nossas relações sociais.
O encontro ainda contou com um Sarau Anti-Capitalista colaborativo. Mulheres, de diferentes idades e com diferentes linguagens, narraram as suas experiências e expectativas com poesia, música e outras formas de expressão que, como frisou Bock, vêm para desconstruir as fronteiras normativas da linguagem e, assim, moverem-se.


Juliana Mello Souza
Jornalista e Doutora em Linguagens, Comunicação e Estudos das Mulheres pela Univ. de Coimbra | Portugal  







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