No último dia 20, o Banco do
Brasil anunciou um grande projeto de reestruturação que envolve o fechamento de
402 agências e a transformação de outras 379 em postos de atendimento. O plano
elimina ainda com uma série de cargos (gerentes de conta, assistentes),
fechamento de setores internos e inclui um plano de antecipação de
aposentadoria que pretende tirar do quadro de empregados da empresa pelo menos
9000 pessoas.
Um primeiro olhar, sobretudo
daqueles que (assim como eu) fazem oposição ao governo ilegítimo de Temer,
poderia indicar como motivo da reestruturação “apenas” essa sede inigualável
com que o sem voto tem atacado direitos de trabalhadoras e trabalhadores. Penso
que seria uma explicação errada e como diria David Harvey1
(resgatando Marx): “Temos de olhar além das aparências superficiais, se
quisermos agir de maneira coerente no mundo: agir em resposta a sinais
superficiais e enganadores só produz resultados desastrosos”.
O que entendo ser a aparência
neste caso? A seguinte resposta: a reestruturação acontece por causa do governo
Temer. Explico.
Essa não é a primeira
reestruturação feita no Banco do Brasil. A primeira grande reestruturação
aconteceu não só com este banco, mas com todo o sistema bancário e teve duas
causas principais: o desenvolvimento tecnológico e sua incorporação no trabalho
bancário; e a mudança da política econômica com o Plano Real, que reduziu os
índices de inflação no país. O primeiro tem seu impacto mais óbvio, a
tecnologia substituiu grande parte do trabalho bancário. A segunda, um pouco
menos, a inflação e os altos juros garantiam aos bancos brasileiros uma enorme
rentabilidade, com a mudança de cenário, os bancos passaram a buscar outras
fontes de lucro para além da intermediação financeira. Isso mudou
significativamente o conteúdo do trabalho bancário, surge o bancário-vendedor
de produtos. Entre 1989 e 1997 a categoria bancária perdeu quase 50% dos postos
de trabalho, de 802 mil para 476 mil empregos no setor.
Com o amplo desemprego no setor e
num cenário de privatização de grandes empresas públicas como foi a década de
1990, uma visão se impôs ao Banco do Brasil: o banco deve ser “rentável” ou
será privatizado. Na década de 2000, o fantasma da privatização do Banco ficou
pra trás, mas a ideia da necessidade de ser “rentável” ganhou cada vez mais
força.
Em 2007, no auge do crescimento
econômico da era Lula, o Banco lançou outro programa de reestruturação. Na
ocasião, houve uma grande centralização de setores internos. Para citar um
exemplo, os Núcleos de Apoio aos Negócios de Crédito, que existiam em 24
capitais, foram reduzidos para cinco, o mesmo aconteceu com outros tantos
setores. Na rede de agências, houve também uma mudança significativa, com a
criação de softwares que substituíam
o trabalho humano. Não tinha outro jeito (do ponto de vista da
“rentabilidade”), mais um PDV foi promovido pelo banco. Na ocasião, mais de
7000 pessoas saíram da empresa.
A visão de que o Banco precisa
ser rentável se aprofundou e em 2014 o Banco do Brasil mudou a “missão” da
empresa: “Banco de mercado com espírito público – ser um Banco competitivo e
rentável, atuando com espírito público em cada uma de suas ações junto a toda
sociedade”. Foi a primeira vez que o banco retirou de sua “missão” a expressão
“banco público”.
Os movimentos de reestruturação
aconteceram em todos os setores da economia, sobretudo no setor produtivo. A
lógica do capital impõe essa dinâmica, é o ser necessariamente assim do
capital. Em outro texto, voltaremos a esse resgate de Marx e sua importância
para compreender fenômenos como esse. Por hoje, a conclusão necessária é que a
visão da rentabilidade como fim, de “banco de mercado”, impõe necessariamente
esse tipo de reestruturação. Essa visão de mercado esteve presente nos últimos
20 anos, ininterruptamente. Basta ressaltar que a expressão “banco público” foi
apagada ainda no primeiro mandato de Dilma.
A questão que fica é: não só não
é suficiente como é errado apontar exclusivamente a sede do atual governo em
atender os interesses do capital como a causa da reestruturação. Ela é mais
profunda e sobreviveu nos 13 anos do PT à frente do governo, é a visão de que
“banco é banco, e deve dar lucro”.
Portanto, ainda que a principal
tarefa na atual conjuntura seja lutar pra derrubar o governo ilegítimo,
antipopular, corrupto e entreguista de Temer, para tentar resolver as
constantes desestruturações do Banco do Brasil temos que ir além, ganhar a luta
ideológica na sociedade de que precisamos de um banco que seja público de fato,
que atenda o seu papel constitucional de agente econômico do governo, que seja
instrumento da política econômica. Precisamos convencer a população de que
precisamos de um Banco do Brasil público!
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