A que pese a polarização da guerra fria, que colocou o mundo na iminência de uma guerra nuclear, a concertação do pós guerra trouxe algumas experiências importantes para o mundo. Uma delas, os chamados Estados do Bem Estar Social ou walfare state (serviços públicos universalizados, sustentados em um pacto social onde a sociedade aceita pagar impostos para garantir o bem-estar da coletividade).
Baseado em uma sociedade capitalista democrática, o Estado do Bem Estar Social, nas palavras de Gunnar Myrdal, é o modelo que busca equilibrar a livre concorrência na microeconomia com o planejamento da macroeconomia garantindo a gratuidade e universalidade dos serviços básicos (Keynes também dizia algo parecido).
Esse modelo que se disseminou na Europa ocidental (dizem que para evitarem a entrada das ideologias vindas da cortina de ferro, o lado soviético) foi extremamente bem sucedido. A qualidade de vida do europeu saltou a níveis bastante elevados.
O modelo foi exportado a outros países como o Canadá e até se tentou estabelecer bases na América latina, nos tempos da CEPAL.
O chamado 'capitalismo de Estado' é uma pedra no sapato do grande capital, aquele que prega a ideologia furada da 'livre concorrência', do 'Estado mínimo' e que não cansa de difamar o 'inchaço do Estado de Bem Estar social'.
A despeito de nenhum país do mundo ter conseguido alcançar o desenvolvimento aplicando o tal 'liberalismo', pelo contrário, todos adotaram fortes planejamentos estratégicos e intervenção estatal para crescer econômica e tecnologicamente, pregar o 'liberalismo' é um trunfo do capital, que detém os meios de comunicação.
'Liberalismo' é uma falácia do grande capital para aplicar seu modelo de concentração de renda e maximização dos lucros. Ao contrário, projetos nacionais de desenvolvimento, como o modelo Trabalhista ou o desenvolvimentista aplicado no Brasil e em outros países, traz o desenvolvimento com inclusão social mas, naturalmente, freia a expansão do capital rentista.
A disputa entre os interesses do grande capital e os interesses dos Estados nacionais e seus projetos de desenvolvimento começou nos anos 1970, na chamada crise do petróleo e na mudança do padrão ouro para o padrão dólar, e terminou com a vitória do grande capital na queda da União Soviética em 1992, tornando o 'livre mercado' o mantra da mídia mundial.
O mundo se curvou à política de Thatcher, Reagan e o Consenso de Washington, ou seja, a política oficial do grande capital, lastreada nas decisões do FMI, do Banco Mundial e do Tesouro Estadunidense: o santo 'ajuste macroeconômico' das economias dos países, impondo o 'Estado mínimo' (a retirada do Estado do planejamento da economia), privatizações e legislações que protegiam o capital rentista contra a ação interventora do poder público.
A economia sai da esfera real e passa para a esfera financeira. Grandes conglomerados controlam os preços das commodities e dominam as patentes, enquanto isso, o trabalho dos Estados nacionais é serem meros reprodutores do capital, através das taxas de juros e da rolagem das dívidas.
Isso te lembra algo? Lembra, sim. Lembra período FHC e, hoje, lembra governo Temer/PSDB (instituído por um golpe, sem voto).
Ao longo desses 25 anos, a que pese os governos Lula e Dilma no Brasil, que instituíram uma política expansionista e inclusiva sem romper com as regras do capital, Brasil e mundo enfrentam uma devastadora e brutal concentração de renda e empobrecimento dos Estados nacionais.
A antes walfare state Europa hoje treme diante da crise. O desemprego e a imigração fazem a suástica reaparecer no horizonte.
Sem condições de competir, as economias se vêm engolidas pelos produtos chineses ( se bem que a China tem tentado mudar seu modelo) enquanto os donos da 'globalização', EUA à frente, vivem da rolagem de seus déficits explorando taxas de juros no mundo. a periferia do sistema sofre e mingua.
O professor Pete Dolack e o economista Thomas Piketty denunciam que esta desigualdade galopante é insustentável. Hoje, o 1% mais rico (pessoas que têm mais de 3 milhões de reais) tem mais dinheiro que o restante 99%.
Entre os membros da OCDE, grupo de países ricos e com bom IDH, a desigualdade cresce largamente, a despeito da insistência dos donos do capital e sua mídia amiga propalarem as 'maravilhas' do 'livre comércio' (a expressão mentirosa que inventaram para o rentismo puro e simples).
O Brasil do desgoverno Temer/PSDB vai pelo mesmo caminho. Deram um golpe para tentar escapar da Lava Jato ao mesmo tempo que reaplicam sem voto o neoliberalismo no país, entregando ao vampiro a artéria mais suculenta, o pré sal.
O processo de golpe, as conspirações, traições e chantagens contra Dilma entre 2015 e 2016 levaram o país ao caos e as políticas restritivas e retrógradas insanas do desgoverno Temer estão terminando o serviço.
Não demora, Estados e Prefeituras não terão como se sustentar e nem atender às demandas contínuas e crescentes. Congelar a expansão dos investimentos por 20 anos é um suicídio (que não vai durar 2 anos).
A balela do 'ajuste fiscal' esquece, de propósito, a questão da dívida pública, que suga nada mais, nada menos, do que 45% de tudo o que se produz de recursos no país. A dívida pública, obscura e ilegal, é a verdadeira causa dos males do Brasil, mas é um tema proibido na grande mídia e quem acaba pagando a conta, sempre, é o aposentado.
Junto com a manipulação de informações, o discurso de ódio cresce, a Justiça está omissa/conivente, a mídia tem o seu lado, líderes e movimentos populares são perseguidos, o povo pobre está desamparado e cada vez mais tendo seus direitos humanos, trabalhistas e sociais retirados e violentados.
A receita é sempre a mesma.
Cresce o risco de uma aventura fascista, de uma tragédia ainda maior.
É preciso que as forças democráticas, progressistas e patrióticas se unam para buscar uma solução.
Eleições gerais com nova Constituição está no horizonte se quisermos voltar para um estado saudável de sociedade.
Mas a necessidade da retomada de um projeto nacional de desenvolvimento com inclusão social é imperativo e historicamente fundamental.
Ricardo Jimenez
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