Foto: Érico Andrade - G1
Em primeiro lugar é preciso deixar claro que a posição de qualquer Prefeito hoje em dia é delicada. Gerir uma administração municipal em tempos de crise generalizada e estrangulamento dos orçamentos públicos não dá vida fácil para ninguém.
Muito mais difícil ainda é a vida dos gestores que não apresentaram na campanha um debate franco sobre os problemas municipais e nacionais. Não há saída para a questão da gestão pública no Brasil sem a discussão de um novo pacto federativo no âmbito de um novo pacto constitucional.
Também não é possível governar na crise, em qualquer esfera de governo, sem enfrentar o debate fiscal e tributário. O aumento de impostos é inexorável e cair no discurso fácil de uma direita e uma mídia irresponsáveis, que pregam de maneira rasa o não aumento de impostos como algo pétreo, é pedir para ganhar uma terrível dor de cabeça uma vez que se sente na cadeira de gestor.
A questão não é não aumentar impostos, mas discutir como criar uma estrutura tributária que incida menos sobre o salário e os investimentos produtivos e mais sobre o estoque de renda e o capital especulativo. E, na questão de uma crise municipal de caixa, enfrentar o debate franco e honesto sobre a necessidade de se aumentar impostos para manter o funcionamento da máquina e o equilíbrio social.
Na última eleição municipal em Ribeirão Preto não foi debatido nada disso. Ficamos discutindo escândalos de corrupção que, embora importantes, não esgotam jamais o rol de assuntos prioritários de um município como Ribeirão Preto.
O diálogo com as forças vivas da cidade, principalmente com os movimentos populares, ficou em segundo plano, sobrepujados por 'merendões', sevandijas e acusações pessoais de toda sorte.
Assuntos como o déficit de moradia, a crise orçamentária, a questão do endividamento, dos direitos humanos, que foram gravemente desrespeitados na administração Dárcy Vera, e da participação popular, dentro de um projeto necessário de descentralização administrativa, ficaram de fora da eleição.
O discurso raso da eleição se transferiu para o início da administração e sua relação com o legislativo e com a população.
O Prefeito decidiu iniciar seu mandato comprando briga com os servidores ao descarregar sobre as costas dos mesmos o peso do 'ajuste fiscal' que resolveu adotar. Acontece que são os servidores que, na prática, mantêm viva uma administração e criminalizar e retirar direitos de forma truculenta é pedir para enfrentar crises, simples assim.
Jogar a culpa na incompetente e corrupta antecessora teve vida curtíssima para o atual Prefeito.
Sem condições orçamentárias, Nogueira não tem outra alternativa se não buscar elevar a receita. Mas como havia se comprometido com o slogan 'não aumentar impostos', teve que amargar essa semana duas derrotas na Câmara, que derrubou por unanimidade (com votos de vereadores do PSDB) os aumentos nas tarifas de água e iluminação (aumentos lineares, ou seja, que impactavam duramente os mais pobres, diga-se de passagem).
E mais, mantendo a tendência centralizadora da administração passada, o Prefeito começou mal no seu programa de 'Força Tarefa' de limpeza e recapeamento das regiões da cidade. Lideranças comunitárias da zona oeste denunciam que a tal 'força tarefa' foi cosmética e pontual.
"É inacreditável, mas recebi um convite para a reinauguração da avenida Luigi Rosieli, que dá acesso ao HC, pelo recapeamento executado! Quer dizer, a Prefeitura considera a zona oeste concluída! A verdade é que a ação atendeu apenas algumas áreas da Vila virgínia e Parque Ribeirão, consideradas, não sei porque, pela administração como prioritárias dentro da zona oeste!", informou ao blog uma liderança comunitária da zona oeste.
O blog esteve na avenida citada na última quinta-feira e constatou a existência de verdadeiras crateras nos dois lados da avenida.
A impressão que dá, mantida essa toada administrativa, é que nogueira terá um 2017 de muitas dificuldades, na sociedade e na Câmara Municipal.
Entidades do movimento popular já denunciam o desmonte das políticas públicas voltadas para a mulher e o fechamento da Coordenadoria da Mulher sem maiores justificativas do que o tal 'ajuste fiscal'.
O ajuste ou 'choque de gestão' que Ribeirão Preto precisa é o choque de diálogo com todas as forças vivas, um choque de franqueza e debate em torno de pontos que realmente apontem para a construção de uma cidade progressista, democrática e inclusiva.
Esse diálogo amplo faltou na campanha e está faltando até agora.
Quanto aos movimentos populares, a tarefa maior daqui para frente é cobrar e lutar pela não redução de direitos e conquistas, denunciando toda a tentativa do poder público de atentar contra suas demandas.
Blog O Calçadão
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