Ilustração: Portal Vermelho
Está ficando cada vez mais claro que o concerto político realizado nos anos 1980, chamado de Nova República, e que ficou marcado pela volta da democracia e pela elaboração da Constituição de 1988, chegou ao fim.
Um novo concerto nacional é necessário após o desenlace dessa gigantesca crise política e econômica em que o país se meteu após o golpe de 2016.
Muita coisa veio à tona e muita coisa ainda virá à tona até nós conseguirmos superar mais essa etapa.
Ainda está para ser contada a verdadeira face das ditas 'investigações anti-corrupção', se são mesmo para valer ou se são apenas seletivamente anti-petistas. Se forem mesmo seletivas só terão contribuído com o golpe e nada mais.
Ainda paira a pergunta do por que o juiz de Curitiba censurou algumas perguntas de Eduardo Cunha, principalmente aquelas que poderiam levar ao esclarecimento da participação de Temer na propina de 40 milhões de dólares com a Odebrecht. Por que?
Também está para ser esclarecido o papel da Presidenta Dilma na história. Se desenha ainda com traços tênues um retrato onde uma Presidente honesta corta os canais de corrupção que beneficiavam enormemente uma empreiteira e políticos ligados ao partido aliado e a seu vice.
Seria essa atitude de Dilma que desencadeou por parte do PMDB temerista a volúpia de embarcar na canoa do golpe?
Se for, Dilma passará para a história como a maior das brasileiras e deve, por justiça, ser reconduzida a seu cargo com um formal pedido de desculpas.
De qualquer forma, o Brasil precisará de um novo acordo nacional para resgatar a democracia. Um novo pacto constitucional que tenha como norte uma reforma política e eleitoral, o resgate do conceito de universalização de direitos, principalmente na saúde, educação e previdência, dentre outras coisas, como uma nova lei de mídia, por exemplo.
Dentro de uma reforma eleitoral, a prioridade é manter a proibição do financiamento empresarial de campanhas, ou seja, construir um modelo eleitoral onde haja financiamento público com voto em listas partidárias, sem coligações proporcionais.
Os mandatos pertencem ao partido e a conduta do partido pertence ao seu programa partidário, é assim que deve ser.
O financiamento empresarial e o enfraquecimento dos partidos é o grande mal que corroeu a democracia brasileira, ao lado de um sistema de mídia empresarial que concentra a informação nas mãos de meia dúzia de magnatas e que distribui afiliadas a políticos aliados.
Campanhas milionárias financiadas por quem após o pleito passa a cobrar a fatura.
O financiamento empresarial e a concentração de mídia foram os grilhões que mantiveram a nossa democracia manietada.
Do período da Nova República ficará mais uma vez demonstrado que o povo brasileiro, embora sofrido e sabotado por uma elite, é de luta e também ficará demonstrado que permanece historicamente necessário um projeto nacional, democrático e popular de desenvolvimento, que por gerações promova a elevação material e cultural do povo. Desenvolver com inclusão é o único caminho para um Brasil realmente grande e soberano.
Esse projeto já foi ensaiado algumas vezes: foi pela primeira vez proposto por Vargas, que de fato construiu um Estado e colocou o povo dentro; foi de novo rascunhado por Jango e as reformas de base, que ainda estão aguardando na fila da agenda nacional; e foi, ultimamente, retomado em parte por Lula e Dilma, com um longo período de inclusão social e diminuição das desigualdades a partir da utilização de instrumentos de políticas públicas voltadas aos mais pobres e vulneráveis.
Mas o projeto nacional, democrático e popular de desenvolvimento ainda está aguardando seu momento histórico, que virá!
Hoje o consenso é Fora, Temer e Democracia, já! Amanhã, será a hora de retomarmos nossa democracia privilegiando o povo e não os interesses de uma elite capaz de comprar consciências e macular a alma democrática sempre que seus interesses são frustrados.
Blog O Calçadão
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