Todo apoio aos petroleiros! |
Começou hoje a greve de alerta de 72 horas dos petroleiros. Essa é a greve de verdade. Sem desmerecer os caminhoneiros, suas pautas legitimas (falo dos autonomos), a greve dos petroleiros ataca o centro do golpe.
Pela primeira vez, a classe trabalhadora estipula uma pauta clara em relação ao que vem ocorrendo nos últimos anos: a entrega do petróleo brasileiro às grandes multinacionais privadas e estatais do setor.
O mantra da mídia e dos grupos de direita é que o imposto sobre o petróleo no Brasil é caro. Bobagem! Segundo pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, grupo de países considerados desenvolvidos; não é, como se vê, Organização Comunista de Desenvolvimento Estalinista, fique calmo), de 34 países pesquisados (entre França, Inglaterra e outros), o Brasil é 32º em impostos sobre os combustíveis. A OCDE chegou a recomendar o aumento de impostos sobre o combustíveis no Brasil, a fim de direcionar recursos para políticas de meio ambiente. Internacionalmente, os impostos sobre os combustíveis no Brasil são baixos. Repetirei. É baixo!!!!
Mas por que a greve dos petroleiros atinge o centro do golpe? Dilma estipulou uma política de preços em que a Petrobrás subsidiava o preço nas refinarias. O quantum de lucro para os acionistas diminuiu. Isso foi um duro golpe, proposital ou não, à política de abertura de capitais na Petrobrás. Até acho que no fundo não foi uma orientação política da Dilma. Foi contingência política do momento, a busca pela permanência em meio a uma alta inflacionária, mas ocorreu.
O Brasil possui refinarias para petróleo de boa qualidade, construídas na Ditadura Militar quando o Brasil importava grande parte do petróleo. Esse petróleo ainda não é extraído do Pré-Sal em grande quantidade. Diante disso, ainda no governo Lula, passou-se a construir refinarias, como a Abreu e Lima. A ideia era refinar esse petróleo do Pré-Sal, aliado a constituição de um fundo soberano. Para isso, investimentos portuários tiveram que ser feitos.
Essas refinarias foram paralisadas quando da Operação Lava-Jato. Aí entra o judiciário na conta. Moro e cia SA, nem é LTDA. Os "investidores" internacionais reclamavam que as refinarias eram estatais demais, e que o controle de preços era um grande problema a curto prazo, pois o retorno de investimento demoraria mais tempo.
Com refinarias paradas, confundindo investimento com corrupção (o que nenhum país que investiga corrupção a sério faz), e o golpe parlamentar dado, as condições ideais para a volta do preço flutuante estavam dadas. O problema nem é a flutuação de preços (que nas condições atuais deve ocorrer), mas a forma como foi feita. A sanha dos acionistas foi tão grande que exigiram variação a partir de dois fatores extremamente voláteis, câmbio e preço do barril. Isso mesmo, preço do dólar, o que depende do Banco Central dos EUA (Federal Reserve Bank), e preço do barril, o que depende dos EUA e da OPEP. Trocando em miúdos, fatores que o Brasil não controla em hipótese alguma. Aliás, não influencia nem 0,0001%.
Mas a sanha dos acionistas não está satisfeita. Na gestão de Parente, atual presidente da Petrobrás, "provocou-se" um ociosidade de 30% a 40% das refinarias.
As 13 refinarias da Petrobrás registraram queda de refino. O que aconteceu? As empresas do setor começaram a importar a gasolina, não mais o petróleo. Ora, gasolina e diesel possuem valor agregado maior. Junta-se a isso uma valorização gigantesca do dólar. Soma-se a isso o bom negócio em que o preço da gasolina e do diesel aumenta todas as semanas, assegurando uma alta taxa de lucro para os "investidores".
Mas a sanha dos "investidores" nunca está satisfeita. Business é business. O Fundo Soberano foi desfeito por meio de medida provisória, devendo todos os recursos serem direcionados para o pagamento de juros da dívida pública, que já consome 50% do orçamento federal. Então, ganham por todos os lados. Onde já se viu pegar dinheiro de petróleo e investir em educação e saúde?!
Resultado: crise social. Primeira constatação. O Mercado provoca crises sociais. Se a ideia é sermos dirigidos pelo mercado, acostume-se. Se a ideia é se opor, lute. Prefiro a segunda opção.
Os caminhoneiros explcitaram essa contradição. Mas como movimento difuso, perderam-se nas contradições da categoria, do empresariado e do embate ideológico nacional.
Os petroleiros exigem a saída de Parente e a volta de 100% dos trabalhos na refinarias. Para isso, é necessário controlar minimamente os preços. Esse é sistema nervoso central do golpe.
É preciso que conversemos com todas as categorias, todas as pessoas. A luta contra o golpe está na rua, explicitado, muito muito simples.
É preciso toda a solidariedade aos petroleiros.
Leonardo Sacramento é professor em Ribeirão Preto
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