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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Gestão Marielle Franco: Centro Acadêmico Rocha Lima - FMRP USP




Diante da atual conjuntura do Brasil marcada pelo aumento do ódio e da represália às minorias, que vêm ganhando cada vez mais legitimidade com a representação de Jair Bolsonaro –candidato eleito para presidência da República nessas eleições de 2018-, faz-se importante a mobilização e a inspiração trazida pelos heróis e heroínas que lutaram e continuam lutando por um Brasil mais justo, com igualdade e equivalência entre todxs xs cidadãxs. Nesse contexto, surge a figura da vereadora e militante Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, que foi brutalmente assassinada em março de 2018. 



O crime possui caráter sugestivo de ter sido motivado por diferenças políticas e ideológicas, sendo uma tentativa de conter a voz da periferia e as transformações alçadas pela vereadora no Rio de Janeiro. Além disso, os ideais e valores representados por Marielle são grandes motivadores de resistência, de luta, de avanço e de existência e dialogam enormemente com as bases da atual gestão do Centro Acadêmico Rocha Lima (CARL), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Por todos esses motivos, Marielle Franco e sua história foram escolhidas para serem homenageadas pela gestão do CARL 2019.  

Marielle cresceu em um bairro periférico do Rio de Janeiro, o Complexo da Maré, e como a maioria dos brasileiros já trabalhava desde os 11 anos para ajudar a sustentar a família e os estudos. Muito jovem, com 19 anos, quando uma amiga foi morta durante uma troca de tiros no Complexo da Maré, ingressou na luta pelos direitos humanos e mostrou-se resistência contra a opressão das minorias –LGBTQ+s, mulheres, negros e a população de baixa renda nas favelas do Rio de Janeiro. Com o nascimento de sua única filha, Luyara, tornou-se ainda mais explicita a imensa desigualdade entre gêneros, histórica no Brasil, levando Marielle à luta pelos avanços na equivalência dos direitos das mulheres e dos homens. 

Formou-se em ciências sociais pela PUC-RJ e tem mestrado na UFF (Universidade Federal Fluminense) e deu início a sua carreira política em 2006, como assessora parlamentar do então deputado estadual do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo. Nesse período, assumiu a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), prestando auxílio a familiares de vítimas de homicídios e de familiares de policiais mortos. Foi uma grande colaboradora na investigação de assassinatos que vitimavam policiais na cidade do Rio de Janeiro, como visto nos dizeres de um ex-comandante da Polícia Militar: “É uma bobagem dizer que [Marielle Franco] não defendia policiais”. Com seu trabalho na Comissão, Marielle provou ser uma forte líder na luta contra a violência no Rio de Janeiro, cidade que vive para produzir vítimas tanto da população periférica e de baixa renda quanto os próprios policiais com essa forte política de “Guerra às Drogas”. 

Em 2016, Marielle foi eleita vereadora do Rio de Janeiro, com 46 mil votos, sendo a segunda vereadora mais votada na história do país. No cargo, criou vários projetos de lei em prol das mulheres (como o projeto “Assédio Não é Passageiro” - contra os massivos casos de assédio que ocorrem em transportes públicos), da população de baixa renda (projeto de lei casas de parto, mostrando a necessidade de se criar casas de parto nas zonas de IDH mais baixo do Rio), além de projetos para inclusão de datas comemorativas mundiais no calendário da cidade, para celebrar e  mobilizar as minorias (como o Dia da Luta Contra Homofobia, Lesbofobia, Bifobia e Transfobia, o Dia de Santa Tereza de Benguela e da Mulher Negra, o Dia Municipal da Luta  Contra o Encarceramento da Juventude Negra, dentre muitos outros). 

Com tantos projetos notáveis, e muitos deles aprovados, Marielle Franco tornou-se um símbolo da luta e da resistência das mulheres, LGBT’s, negros e população marginalizada, que passaram a ter cada vez mais voz no Rio de Janeiro, apresentando e exigindo demandas negligenciadas por muitos anos. Foi com a mesma luta e desejo de justiça que Marielle enfrentou as atrocidades e violência cometidas contra a população das favelas do Rio de Janeiro durante a intervenção militar do Rio em fevereiro de 2018, sem perder de vista o combate e a redução da violência e homicídio contra policias da cidade.  Dessa forma, Marielle teve um grande papel na busca pela paz na capital carioca, em meio à uma guerra que afetava negativamente a população, a polícia e o Rio de Janeiro como um todo. 

Foi nesse contexto de opressão e violência que Marielle foi covardemente assassinada em Março de 2018, um dia após postar em sua rede social a pergunta: “Quantos mais vão precisar morrer até que essa guerra acabe?”. Marielle, com toda sua força e desejo de mudança, se tornou uma ameaça para aqueles que desejavam manter seus privilégios perante as minorias, conservando um regime de opressão e desigualdade e levando a esse triste fim. Não obstante, após sua morte alguns políticos e grupos políticos tentaram culpar a vereadora pela própria morte, ligando-a a traficantes do Rio de Janeiro, fato refutado como calunioso e injuriante pelo poder judiciário. O dia 14 de março, quando Marielle foi assassinada, tornou-se o “Dia Marielle Franco – Dia da luta contra o genocídio da mulher negra”. 

Assim, é com extrema honra que a gestão de 2019 do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP leve o nome de Marielle Franco, a mártir do Rio de Janeiro e o exemplo de força e de coragem para o Brasil, buscando trazer para a universidade a memória e os ideais de Marielle. Um símbolo para mostrar que não se pode silenciar aqueles que lutam por uma realidade de vida melhor, mais igualitária e justa e com respeito às diversidades. Durante a nossa gestão, as minorias serão ouvidas e terão seus direitos, ideais, valores e anseios defendidos, como planejava e lutava Mairelle Franco. Estaremos sempre abertos a diálogos e debates com todxs, sempre visando à justiça, à igualdade e à ética. 

RESISTIR, LUTAR, AVANÇAR, EXISTIR

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