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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Meus aprendizados eleitorais, minha gratidão e meu apoio a Haddad e Manu


Daniel Cara durante entrevista ao Blogue O Calçadão.
Foto: Alessandro Vergani

Em carta aberta, Daniel Cara, candidato ao senado pelo PSOL, se posiciona a favor de Haddad e Manuela contra Jair Bolsonaro.

Queridas amigas e queridos amigos, daqui em diante já aviso e deixo ligado o alerta: vai rolar textão.

Mas peço que perseverem, deve valer a pena...

Passei o dia de ontem fazendo ligações para ajudar, desde a primeira hora, a chapa Haddad e Manu.*



Eleição é um jogo prazeroso, mas extremamente duro. E ainda temos um segundo turno inteiro (o que sequer é muito) para a fazer a esperança vencer o medo e a democracia derrotar o fascismo. Descansar mesmo, só em novembro. E olhe lá...

A contagem dos votos de 7 de outubro deu a maior vitória da direita brasileira desde a redemocratização. E não foi qualquer direita a que venceu, foi a pior direita: caricata, fascista, que surfa na crise de representatividade mundial.

Temos a mania de achar que o Brasil é uma ilha, mas Bolsonaros e congêneres emergem nos EUA, na Itália, na Áustria, na Hungria, na Croácia, na Polônia e vêem ganhando força na França e no Reino Unido. Sinal dos tempos, ainda marcados pela crise econômica global de 2008, que foi sufocada, mas não resolvida – tal como os fatos decorridos após a quebra da Bolsa de Valores de NY em 1929.

Como candidato novo, por prudência, esperei até as duas da madrugada de ontem pelo resultado oficial das eleições paulistas e brasileira. Fiquei muito satisfeito com meu desempenho: em uma primeira candidatura, não é trivial obter 440.118 votos para o Senado Federal por São Paulo. Confesso agora que minha meta realista, em maio desse ano, já observando o cenário político que se desenhava, era alcançar 350 mil votos. Foi muito bom o resultado, especialmente se for considerado o contexto político de polarização infértil.

Contudo, a leitura do quadro geral gera preocupação: a centro-esquerda e a esquerda diminuíram muito e muita gente boa do nosso campo não foi eleita tanto para o Poder Executivo quanto para o Poder Legislativo. Concluído o segundo turno, será necessária uma avaliação profunda do que tudo isso significa, até porque a única certeza que temos é de que, caso Haddad e Manu vençam, haverá um terceiro, um quarto, um quinto turno... em um país que não retomou a paz desde que as vibrantes e legítimas jornadas de junho – narrativamente capturadas pela direita, que fez mal e ilegítimo uso das brechas oferecidas pelo autonomismo horizontal daquele movimento - que nasceu progressista e que foi vitorioso, sempre vale lembrar.

Olhando para minha participação direta nesse processo eleitoral, preciso agradecer e muito. Fiz uma campanha coletiva, voluntária, limpa, sem surfar em ondas e cumprindo com o compromisso que me impus de ter agenda própria para construção de redes. Ao longo do processo eleitoral – e sempre respeitando a fidelidade partidária –, fiz alianças programáticas e de projeto político, mas sem fazer uso de outras candidaturas para me fazer conhecido. Há quem considere essa uma estratégia preciosista, mas não é. Foi uma escolha: quem votou em mim o fez de modo consciente, sem caronas ou atalhos, por acreditar no nosso projeto coletivo – Educação, Ciência e Tecnologia no centro do debate público, sendo o ponto de partida para o desenvolvimento do país.

Além disso, nossas eleitoras e nossos eleitores optaram pela consistência ao invés de palavras de ordem, pelo programa e não pelos memes, pelo debate qualificado ao invés do discurso gritado, modista e passageiro – e isso tudo vai se esgotar, podem ter certeza. Analisado como foto, se o critério for meramente quantitativo – o que é um equívoco –, o meu resultado nas urnas demonstra que hoje esse não é o melhor caminho para grandes votações, ainda que nossa votação tenha sido expressiva. Hoje, o debate público brasileiro é o reflexo da postura equivocada de partidos tradicionais (que estão naufragando), da má qualidade da imprensa, do algoritmo e da linha do tempo (“timeline”) do Facebook, além das discussões polarizadas nos grupos de WhatsApp, com a disseminação das “fake news”.

O fato é que somos uma sociedade que flerta com o fascismo, alimentado por suas autoverdades. A “memetização” da política, empreendida tanto pela direita quanto por setores da esquerda, joga ainda mais água no moinho de uma sociedade que está ficando histérica e odiosa, impedindo a retomada do bom senso necessário para a democracia social – único caminho para o enfrentamento das históricas injustiças sociais brasileiras.

Aliás, vale reiterar, mais do que a direita, essas eleições coroaram a vitória dos memes sobre as propostas – mas isso vai durar pouco.

O nosso desafio não é pequeno, mas as sementes foram plantadas nessas eleições – agora é hora de regar. Acredito, sinceramente, nisso. E faço o convite para toda a esquerda investir em uma política pedagógica, mais Paulo Freire e menos Mark Zuckerberg. Mais bola no chão e emancipação e menos canelada e sequestro opinativo.

Como vocês sabem, não sou dado a oportunismos, pelo contrário – rejeito todos eles. E deixo aqui meu alerta: os projetos políticos imediatistas, pautados no escárnio dos adversários, levarão o Brasil a uma situação ainda pior do que a atual. Nesse jogo catártico, porém tolo, o debate econômico e das políticas sociais, que são centrais, ficam escanteados. Cresce o desemprego, aumentam as desigualdades. Fica aqui, desde já, um alerta para nossa ação no segundo turno: a lacração é o terreno do fascismo, a responsabilidade com o país é o compromisso nosso. Embora pareçam redentores, um meme ou  uma lacrada não lavam a alma, e - além disso - não constroem nada.

Ingressei no PSOL em fevereiro de 2018. Já em abril fui escolhido candidato ao Senado Federal. Eleito ou não, entrei nesse processo eleitoral para colaborar com a retomada do bom senso, para permanecer trabalhando pela qualificação do debate público e para propor políticas públicas capazes de tornar nosso país um lugar justo, próspero e sustentável. Os 440.118 votos que obtivemos coletivamente, apesar da falta de recursos e de estrutura partidária, demonstram um potencial e aumentam nossa certeza de que estamos no caminho certo. Nesse contexto, e sem ferir qualquer um dos nossos princípios, fizemos muito. Cumprimos nosso dever, demos conta da tarefa.

Confesso que ainda levarei tempo para conseguir responder às milhares de mensagens de apoio e de agradecimento. O carinho sempre é contagiante. Mas agora não é a hora.

Agora é a hora de apoiar a candidatura de Fernando Haddad (PT) e de Manuela d'Ávila (PCdoB) à Presidência do Brasil.

Como jamais fujo da raia, declaro também meu voto e meu apoio crítico a Márcio França (PSB) ao Governo do Estado de São Paulo.

Esse momento histórico não permite vacilo, sob risco de mergulharmos na barbárie.

Pelo Brasil e pela democracia, ao trabalho e à vitória!

Daniel Cara
Coordenador Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação – licenciado.
Candidato ao Senado Federal por São Paulo pela aliança PSOL/PCB.

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