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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O debate de ideias é também a defesa da democracia


A recusa ao debate exclui o povo do acesso às informações e da verificação das propostas. 
Foto: Filipe Peres

Por Simone Magalhães

A corrida presidencial de 2018 já deixou a sua marca na história brasileira. Se nas eleições anteriores candidatos possuíam propostas, às vezes, similares, o que se verifica neste segundo turno são dois projetos de país radicalmente opostos apresentados à sociedade brasileira, representados pelas candidaturas de Fernando Haddad 13 e Jair Bolsonaro 17. 

Embora os dois candidatos partam da constatação verídica de que o Brasil está imerso numa crise econômica e social grave, seus projetos indicam alternativas de solução fundamentalmente diferentes que, para alguns analistas, podem aprofundar os problemas que dizem querer resolver.

Geração de empregos, segurança pública, previdência social, saúde e educação são alguns dos temas vitais para a população e merecem ser apresentados pelos candidatos aos eleitores de forma clara e objetiva. No entanto, o que se verifica até o momento neste segundo turno é a incerteza se haverá ou não a chance da população conhecer as intenções, os projetos e as ações do futuro governante, por meio do debate entre os candidatos à presidência.  

A não existência do debate entre os candidatos ao mais alto cargo público do país, a presidência da República, por exemplo, retira das brasileiras e dos brasileiros a chance de apreciar o desempenho no debate entre candidatos e de comparar suas propostas para melhor decidirem. 

Já é uma marca das eleições de 2018 as campanhas eleitorais baseadas na desinformação e na manipulação ideológica. É por esta razão que o debate público e aberto está sendo substituído pelo bombardeio das fakenews, via redes sociais, muitas vezes operados por computadores. Ao escolher as redes sociais como único palco político, candidatos se mantêm num espaço confortável e cômodo para expressar suas ideias somente ao publico seguidor; dessa forma exclui o povo do acesso às informações e da verificação das propostas.

A ausência deliberada de qualquer candidato no debate público expressa, entre outras coisas, o desprezo pelo diálogo e o seu desinteresse em apresentar as medidas de seu plano governamental. Além disso, enuncia, com tal gesto, a indisposição ao debate das ideias. O contrário do diálogo e do debate público e aberto é a imposição, é o autoritarismo. 

Quem se ausenta deliberadamente do debate público com o adversário, mas comparece às demais atividades de campanha eleitoral, evidencia duas possibilidades: medo de expor seu programa de governo, porque prejudica e retira direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores, ou revela a ausência de um programa claro que consiga realmente solucionar os graves problemas do Brasil. 

A Historia nos ensinou até hoje que só é possível construir a paz e a unidade nacional através do diálogo e da participação democrática, baseadas no respeito, no acesso à informação e na veracidade dos fatos. Todos esses elementos merecem ser assegurados durante a campanha eleitoral, e precisam ser considerados sobretudo na hora de escolher o futuro presidente do país no dia 28 de outubro.

Simone Magalhães é Socióloga e doutoranda em Educação na Universidade de São Paulo/USP.

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