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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Quando Ribeirão Preto perdeu o Trólebus e o rumo

Foto Allen Morrison

É bastante claro para todo mundo, e já há bastante tempo, que as Prefeituras estão cada vez mais engessadas na sua capacidade de investimento e de tocar a máquina pública com um padrão minimamente aceitável pela população.

Ribeirão Preto não foge à essa regra, com a Prefeitura incapaz de dar respostas às necessidades de um centro urbano onde moram mais de 600 mil pessoas e por onde transitam mais umas 200 mil todos os dias.

Os funcionários públicos municipais, assim como todo o conjunto dos servidores públicos brasileiros, cada vez mais veem seus direitos sumirem e a sua condição perante o povo ser desgastada por Prefeitos e demais administradores públicos atrelados na correia de transmissão do neoliberalismo.

Ribeirão Preto tem enormes dificuldades nos serviços de saúde, educação, infraestrutura, desenvolvimento econômico e meio ambiente. Além de ter uma administração centralizada e sem condições de tocar um projeto de cidade democrática, progressista, inclusiva e ambientalmente sustentável como é absolutamente necessário.

Ao contrário. A Prefeitura, dominada pelos interesses do poder econômico, não investe, pouco planeja e pouco executa. Quando faz alguma coisa é sempre na direção de aumentar a já grave exclusão social e concentração de renda.

Os orçamentos públicos estão sendo destruídos há 20 anos através das políticas neoliberais adotadas pela União. A pá de cal veio com o desgoverno Temer e o congelamento dos gastos públicos por 20 anos (A Emenda Constitucional 95).

E de novo Ribeirão Preto é um exemplo de orçamento engessado e arrochado. O crescimento da arrecadação é fraco nesta última década e ainda é emperrado pela dívida. Uns falam em até 900 milhões. Uma outra caixa preta municipal, e há muito tempo, é a Coderp.

Assim como os demais municípios e Estados, Ribeirão Preto é um pagador de juros ao capital rentista e a crise orçamentária é descontada nos servidores e nos serviços públicos, seja com cortes de verbas ou com campanhas difamatórias para justificar ideologicamente o corte de verbas.

Nossas lideranças políticas, todas comprometidas com o modelo econômico vigente, são incapazes de criar um movimento que integre a população em um projeto de município.

A própria Câmara Municipal não consegue ser um núcleo de debates e formulação de projetos.


A perda dos Trólebus e do rumo

A Transerp tinha uma importância estratégica nos anos 80 e 90, operando e gerenciando as linhas do Trólebus (linha de ônibus elétricos). O serviço de Trólebus, silencioso e ambientalmente correto, operava as principais e mais lucrativas linhas da cidade. Implantado por Nogueira em 1982 e ampliado por Palocci em 1992, o sistema foi então entregue à administração neoliberal de Jábali, em 1996.

Alegando que o sistema estava "ultrapassado", o tucano extinguiu o serviço e entregou as linhas para as permissionárias privadas (em outro artigo veremos que o avanço neoliberal sobre o Trólebus foi bem mais amplo do que Ribeirão Preto).

Na época a Transerp devia 7 milhões de reais e essa dívida irrisória até para aquele período serviu de argumento para se entregar a joia da coroa do transporte coletivo municipal a preço de banana. 

Junto com a extinção dos Trólebus, todo um sistema de transporte público, que envolvia os terminais Carlos Gomes e Antônio Achê, foi desmontado e desde então as empresas de ônibus mandam e desmandam na cidade, entregando para o cidadão um serviço caro, ruim e ineficiente (tem capacidade para atender apenas 20% da população).

A pergunta que fica é: para que serve a Transerp desde então? 

Prováveis respostas: para gerenciar a indústria da multa, para operar o computador que sincroniza os semáforos, para servir como apoio do braço público aos interesses de empresas privadas.


Quando teremos uma política de mobilidade urbana?

Ribeirão Preto passa a sensação que não tem dinheiro para cuidar dos jardins das praças públicas, quanto mais para pensar e executar um plano de mobilidade urbana.

Há um projeto aprovado desde 2013 pelo governo federal e que está em andamento este ano, com a construção de pontes, viadutos, corredores de ônibus, passarelas.

Antes isso do que nada, mas é pouco diante da necessidade de romper com o padrão único de ônibus circular a diesel e implantar um sistema multi-modal necessário.

E o mais importante, o transporte coletivo deve voltar a ser público, assim como tem acontecido em diversas partes do mundo onde a privatização do sistema se mostrou um fracasso. E esse sistema de mobilidade urbana deve estar inserido em um projeto de cidade moderna e humana.

Talvez alcancemos isso quando conseguirmos superar a maldição do pensamento único neoliberal que nos castiga há duas décadas.

Blog O Calçadão

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