Nacionalmente, lideranças e setores dos principais partidos de esquerda e centro-esquerda do Brasil procuram manter algum nível de diálogo e atuação conjunta frente à atual conjuntura de avanço do neoliberalismo bolsonarista.
As fundações Perseu Abramo (PT), Maurício Grabois (PCdoB), Leonel Brizola/Alberto Pascoalini (PDT) e João Mangabeira (PSB) criaram um núcleo de monitoramento da democracia no início do ano. Lideranças do PSB e do PCdoB, além do Presidente do PDT, estiveram recentemente conversando com o ex-Presidente Lula em Curitiba.
Há, ainda que de maneira pálida e com conflitos (como se vê no posicionamento de Ciro Gomes com relação ao PT e a Lula), uma busca pela construção de caminhos e narrativas democráticas e anti-neoliberais para o campo de centro-esquerda. Com desdobramentos na atuação parlamentar no Congresso Nacional e na construção da greve geral do dia 14 de junho, inclusive
Como era de se prever, o cenário nacional se reflete de alguma forma em Ribeirão Preto, com certas especificidades locais.
Por aqui, o diálogo flui mais fácil entre PT, PCdoB e PSOL, de um lado, e PDT e PSB de outro lado. As dificuldades remontam às escaramuças dos últimos anos. Enquanto o primeiro grupo se colocou contrário ao impeachment de 2016 e encampou de maneira clara as bandeiras anti-Temer e anti-Bolsonaro (inclusive com proximidade maior com os sindicatos e com os movimentos sociais), o segundo grupo se manteve mais distante dessas agendas, inclusive adotando um discurso anti-petista e pró agenda anti-corrupção da Lava Jato em 2016 e 2017.
No que diz respeito ao projeto de cidade, o diálogo também é bastante frio entre esses partidos. Nas eleições de 2016 o PDT lançou Ricardo Silva, o PSB lançou o ex-juiz Gandini, o PSOL lançou o Dr. Hermenegildo e o PCdoB e o PT saíram coligados na chapa Vágner Rodrigues e Fernando Tremura.
Em uma eleição por si só dramática, onde uma operação policial anti-corrupção se sobrepôs ao debate de cidade, cada uma das chapas acima tinha o seu projeto, descolado de um debate de centro-esquerda ou de um debate maior programático sobre rumos políticos ou uma agenda mínima de democratização e desenvolvimento da cidade.
Tanto que no segundo turno houve dificuldades dentro dos partidos e dos movimentos sociais e sindicais para deliberar algum apoio a Ricardo Silva (PDT) mesmo este enfrentando o tucano Duarte Nogueira. No PT, por exemplo, este debate foi intenso e o partido resolveu liberar os militantes.
Para 2020 a fotografia de momento aponta para um fracionamento de candidaturas. Essa semana o Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, esteve na cidade e afirmou que o partido pretende ter candidato a Prefeito, pré-lançando o atual Presidente da Câmara Lincoln Fernandes. Ricardo Silva, hoje filiado no PSB, afirmou a esse blog na semana passada que ainda não definiu seu caminho político para 2020, mas o PSB certamente buscará ter uma candidatura na cidade. O blog não tem informações do PCdoB, mas o PSOL aponta o caminho da candidatura própria para 2020, com debates internos ainda iniciais sobre nomes. No PT, que saiu de vice na chapa do PCdoB em 2016, a pressão por candidatura própria é grande por parte da militância, mas há propostas de coligação com outra força de esquerda também cogitadas nas conversas de bastidores. O debate em torno de nomes para Prefeito é, também, inicial no PT.
Mas de 2016 para cá muita água passou por debaixo da ponte. Apesar de o bolsonarismo demonstrar força em Ribeirão Preto, a popularidade de Bolsonaro cai mês a mês, além do que a agenda obscurantista e ideológica atrelada a uma condução econômica caótica e anti-popular (como a privatização da previdência proposta pelo banqueiro Guedes) causa um certo constrangimento em segmentos com alguma postura progressista.
Constrangimento também causa, cada vez mais, a postura do ex-juiz Moro, atual Ministro da Justiça do bolsonarismo. Como ficará uma parte da centro-esquerda ribeirão-pretana que antes se incluía na defesa da narrativa lavajatense diante de um certo desgaste do Moro na agenda anti-corrupção, como no caso Queiroz ou no projeto anti-crime que ameaça os mais pobres?
Alguns ventos iniciais mostram que o discurso anti-corrupção pode perder força para o discurso econômico e social em 2020, alterando de certa forma o conteúdo programático das candidaturas, principalmente na tentativa de diálogo com as massas trabalhadoras.
Por enquanto, tudo é muito inicial.
Acompanharemos o desenrolar dos acontecimentos.
Blog O Calçadão
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