Amônios

1

Amônicos
estocados
entocados
explodimos pela boca.

Calados
como estoque de nitrato
pra dentro
pela boca fechada
além do Líbano
o lobby nos implode.

Agrium, Yara, Mosaic
Postash, Indústrias CF
Sinofert, ICL, PhosAgro
Uralkali, K+S.

O estoque explodiu.
tal qual o cogumelo radioativo
mas nós queimamos aos poucos
calados
por quase todos os poros
buracos.

A boca envenenada
permanece tapada
enquanto a corrente sanguínea
encharca-me de morte
e não dizer.

2

Não foi um petardo
um míssil
foi o agronegócio.
Atordoado pela propaganda
nada percebo.

Químicos
especialistas
empresas transmídia
contratados
me tranquilizam
me confundem
me jogam no contingente do mundo.

O pó branco
este granulado solúvel
sou eu.

O continente
dissolve-me na rede
e me contém.
O meu ódio à danação
não passa-lhes de novelo para gato.

Sou excesso de contigente.
"Excesso de contingente
a quem interessa o estoque?",
pergunto-me.

[...] para explodir
não preciso ser abrasado na têmpora
290 graus ou um tiro.

Preciso de alguma faísca.
Enquanto não percebo
morro na isca.

3

O estoque de nitrato
continha incontíveis contabilidades.
Não conteve 113 vidas
Não conteve mais de 4000 pelo caminho.
160 km não o contiveram.

4

Preocupados com alguma pressão
a bancada ruralista se apressa.
A diluição da pressão
precisa ser precisa
para não acontecer.
Ninguém precisa saber.
Não. Não foi um petardo.

5

Irrigado pelo nitrato de amônio
sou tratado como praga sazonal
Consumido
morro pela boca.

Compensado para a produção industrial
insumido
desapareço perante todos
e ninguém me percebe

Nos comem a todos.