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segunda-feira, 12 de abril de 2021

As patacoadas de Jair e Kajuru, por Marcelo Domingos

 


As patacoadas de Jair e Kajuru

O domingo de 11 de março estava tranquilo. O marasmo e tranquilidade que são típicos do primeiro dia da semana estavam ainda mais intensos por conta do isolamento social. Parecia que o dia estava quase parando. Mas, no finalzinho da tarde quando o céu começava a escurecer, igual aos olhos fechando de tanto sossego e para nossa total infelicidade,  fomos novamente surpreendidos por mais uma travessura do Jair.

O dia de céu limpo, típico do outono perdeu a graça quando a mídia hegemônica anunciou com destaque em todas as suas plataformas digitais a manchete: “Senador Jorge Kajuru divulga áudio de Bolsonaro”, esse mesmo, o Jorge Kajuru, ex-apresentador de TV, o mais processado no STF por falar asneiras. Porém, dessa vez não foi o ex-juiz parcial Moro que estava na jogada, infringindo a lei para alcançar seus objetivos mais sóbrios, que hoje sabemos quais são. Foram os próprios autores, Kajuru e Bolsonaro que dirigiram a comédia!

O áudio mais se apresentava como uma peça de encenação teatral das ruins (já adiando pedido à classe artística do teatro pela comparação). Quem ouviu os mais 6 minutos de áudio à expectativa de algo importante, bombástico, perdeu a viagem, assim como eu. Eram somente patacoadas!

De um lado o Kajuru, que deve ter pegado um script que mais era um rascunho, feito em última hora, e improvisado com o pouco de criatividade que lhe é possível. Do outro o Jair, se segurando para seguir o roteiro, mas se perdendo dentro da própria encenação. A peça era colocar pressão sob o STF, criar uma cortina de fumaça e pressionar para que a CPI (Comissão de Inquérito Parlamentar) da pandemia incluísse prefeitos e governadores na investigação. Mas para os armamentistas de plantão, o tiro saiu pela culatra. O diálogo evidenciou sim um presidente desesperado, acuado, procurando saídas estapafúrdias para o inevitável, sua responsabilização pelo genocídio.

Ainda, na manhã do dia seguinte, 12, as patacoadas continuaram em cena. Enquanto a suprema corte apontava a farsa, o Jair, para os seus esquizofanáticos seguidores, falava “não foi vazamento, foi gravado”, “eu falei mais coisas naquele áudio”, “eu autorizo que divulgue”. Jogou sim foi a batata quente no colo do Kajuru. Este, dando entrevista ao Datena, o sensacionalista, logo rebateu: “eu avisei o presidente. [eu falei:] Presidente, eu vou colocar agora uma hora da tarde a nossa conversa que vai ser importante”. Resultado disso tudo? Patacoadas!

A nós o que resta, por hora espectadores, é a expectativa de que Jair seja investigado, responsabilizado  e punido pela sua omissão e negacionismo. Esse seria o último ato mais aplaudido da história cênica!

 

Marcelo Domingos

Mestre em ciências pela USP e militante do movimento negro.

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