As patacoadas de Jair e Kajuru
O domingo de 11 de março estava tranquilo. O marasmo e tranquilidade que
são típicos do primeiro dia da semana estavam ainda mais intensos por conta do
isolamento social. Parecia que o dia estava quase parando. Mas, no finalzinho
da tarde quando o céu começava a escurecer, igual aos olhos fechando de tanto
sossego e para nossa total infelicidade, fomos novamente surpreendidos por mais uma
travessura do Jair.
O dia de céu limpo, típico do outono perdeu a graça quando a mídia
hegemônica anunciou com destaque em todas as suas plataformas digitais a
manchete: “Senador Jorge Kajuru divulga áudio de Bolsonaro”, esse mesmo, o
Jorge Kajuru, ex-apresentador de TV, o mais processado no STF por falar asneiras.
Porém, dessa vez não foi o ex-juiz parcial Moro que estava na jogada,
infringindo a lei para alcançar seus objetivos mais sóbrios, que hoje sabemos
quais são. Foram os próprios autores, Kajuru e Bolsonaro que dirigiram a
comédia!
O áudio mais se apresentava como uma peça de encenação teatral das ruins
(já adiando pedido à classe artística do teatro pela comparação). Quem ouviu os
mais 6 minutos de áudio à expectativa de algo importante, bombástico, perdeu a
viagem, assim como eu. Eram somente patacoadas!
De um lado o Kajuru, que deve ter pegado um script que mais era um
rascunho, feito em última hora, e improvisado com o pouco de criatividade que
lhe é possível. Do outro o Jair, se segurando para seguir o roteiro, mas se
perdendo dentro da própria encenação. A peça era colocar pressão sob o STF,
criar uma cortina de fumaça e pressionar para que a CPI (Comissão de Inquérito
Parlamentar) da pandemia incluísse prefeitos e governadores na investigação. Mas
para os armamentistas de plantão, o tiro saiu pela culatra. O diálogo evidenciou
sim um presidente desesperado, acuado, procurando saídas estapafúrdias para o
inevitável, sua responsabilização pelo genocídio.
Ainda, na manhã do dia seguinte, 12, as patacoadas
continuaram em cena. Enquanto a suprema corte apontava a farsa, o Jair, para os
seus esquizofanáticos seguidores, falava “não foi vazamento, foi gravado”, “eu
falei mais coisas naquele áudio”, “eu autorizo que divulgue”. Jogou sim foi a
batata quente no colo do Kajuru. Este, dando entrevista ao Datena, o
sensacionalista, logo rebateu: “eu avisei o presidente. [eu falei:] Presidente,
eu vou colocar agora uma hora da tarde a nossa conversa que vai ser
importante”. Resultado disso tudo? Patacoadas!
A nós o que resta, por hora espectadores, é a expectativa de que Jair
seja investigado, responsabilizado e
punido pela sua omissão e negacionismo. Esse seria o último ato mais aplaudido
da história cênica!
Marcelo Domingos
Mestre em ciências pela USP e militante do movimento negro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário