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domingo, 25 de julho de 2021

Queimar ou não a estátua do Borba Gato?



Ontem, enquanto os partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos estavam na avenida Paulista realizando o quarto ato Fora Bolsonaro, com pautas pedindo vacina, emprego e direitos sociais, conforme foi aprovado pela frente de lutas que coordena e define as datas dos atos nacionalmente, com uma tática que busca criar um movimento de massas por mudanças no país, um outro grupo chamado Revolução Periférica realizava uma outra tática de luta no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo.

Ali, o grupo ateou fogo na estátua estilizada de Borba Gato, feita de argamassa e presente no local desde 1957 em homenagem a um bandeirante paulista que viveu entre os séculos 17 e 18 e que foi, como todos os bandeirantes, um traficante de escravos indígenas e negros e cuja imagem é cultuada como um "símbolo do surgimento de São Paulo".

Bem, não existe no mundo dono de pautas ou de táticas de luta. Pessoalmente não conheço a Revolução Periférica, mas não há cartilha que discipline movimentos ou pautas e táticas de luta.

O que existe é o debate sobre as pautas ou táticas de luta. 

Levantar a importância sobre o culto a um passado opressor e escravista e contestar seus símbolos como pauta de luta social é legítimo e tem ocorrido em vários outros países. 

Claro que a direita reacionária sempre vai se aproveitar dessas ações mais radicais para sair gritando e buscando inverter a narrativa. 

Mas a reflexão que deve ser feita é: qual a centralidade de cada pauta ou tática de luta dentro daquilo que se procura alcançar?

Os partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos envolvidos nos atos Fora Bolsonaro querem criar um movimento amplo que traga a classe trabalhadora para a luta: derrubar um presidente que trabalhou para a crise sanitária, mudar um programa econômico desastroso e garantir a democracia com diretos sociais. Para se atingir esse objetivo qual a melhor tática: buscar manifestações com pautas econômicas e sociais através das manifestações de rua pacíficas ou buscar ações mais radicais como atear fogo em estátuas?

Vejam, não há na minha opinião uma tática ou pauta mais importante do que outra. O que temos é que responder qual delas é a melhor para se atingir os objetivos do momento.

Ontem os partidos, movimentos e sindicatos com uma longa história de lutas, e levando adiante a tática construída conjuntamente por uma frente nacional, estavam na Paulista com suas bandeiras, gritos e cartazes. A Revolução Periférica estava em Santo Amaro queimando o Borba Gato.

Qual tática trará a classe trabalhadora para a luta neste momento? Qual tática será mais eficaz para derrubar Bolsonaro e a política neoliberal?

Essas respostas indicarão os rumos dos atos futuros: se iremos, aqui em Ribeirão Preto, por exemplo, fazer uma passeata pelo centro ou colocar fogo no monumento ao soldado de 32.

Claro que faço essas perguntas sob a ótica da frente nacional de lutas que tem organizado os atos Fora Bolsonaro. Repito: pautas e táticas de luta não têm dono.

Ricardo Jimenez - editor do Blog O Calçadão


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