É preciso permanecer em
alerta mesmo imunizados com as duas doses da vacina
Por
Alexandre Padilha
É fato que a queda da média móvel diária de
mortes por Covid-19 no Brasil está diretamente ligada à vacinação da nossa
população, mesmo com apenas 20,6% dos brasileiros totalmente imunizados (com
duas doses ou dose única) e cerca de 49% com a primeira dose.
A barreira de proteção da vacinação é muito
significativa para a redução de internações e óbitos pela doença de
determinados grupos, apesar de ainda não sabemos por quanto tempo dura a
manutenção da imunidade.
É muita irresponsabilidade definir uma data
para o fim da pandemia como muitos já fizeram, incluindo representantes do
governo brasileiro. Muitos países no mundo estão com taxas de vacinação mais
avançadas que nós, mas mesmo assim há muitos casos da variante delta, como
também há casos por aqui. A pandemia não vai acabar quando realmente acabar,
como declarou um dos diretores do Centro de Controle de Doenças a pandemia
"não acaba até que acabe".
Decretar reaberturas das atividades neste
momento é seguir o trajeto da morte de um país que vive a sua maior tragédia
humana e que tem risco real de até o final do ano ser o país com o maior número
de mortes confirmadas por Covid-19 no mundo. Por isso, é imprescindível que
todos tomem as duas doses da vacina e, mesmo imunizados, tenhamos a consciência
de permanecer com as medidas de prevenção, usando máscara, evitando
aglomerações e cumprindo regras sanitárias.
Ainda estamos em ritmo lento de vacinação e,
apesar das vacinas que temos disponíveis nos protegerem de todas as variantes,
há possibilidade do vírus reproduzir outras variantes. Infelizmente, poderão
surgir mutações do vírus resistentes às nossas vacinas atuais.
Não sabemos se isso será em dois meses ou 10
anos, mas temos que torcer para que isso aconteça quando o mundo tiver melhor
capacidade de vacinação com produção em maior escala.
Para que estejamos seguros, precisamos transformar as vacinas contra a Covid-19 em
bens públicos e suspender o monopólio das patentes das empresas produtoras dos
imunizantes. Se a produção das vacinas permanecer lenta, novas variantes não
vão parar de surgir e as vacinas não vão chegar a tempo nas populações mais
vulneráveis e com comorbidades.
O mundo tem que ter capacidade anual de
produção das vacinas o mais rápido possível. O que era mais difícil de descobrir
- as vacinas - a ciência encontrou a luz no fim do túnel em curto período de
tempo, inclusive com mais de uma plataforma de tecnologia.
O mundo precisa se proteger e decretar a
produção em larga escala das vacinas contra a Covid-19 ou não vamos conseguir
conter essa crise sanitária que, mesmo após sua estagnação, terá impactos
sanitários, sociais e econômicos trágicos a longo prazo.
*Alexandre
Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi
Ministro da Coordenação Política de Lula, Ministro da Saúde de Dilma e
Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.
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