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domingo, 24 de outubro de 2021

Quem usa o transporte coletivo em Ribeirão Preto?

Foto: ACidadeOn

Essa semana veio a público a notícia de que o Consórcio Pró Urbano, formado por Rápido D'Oeste e Transcorp, e que opera o sistema de transporte coletivo de Ribeirão Preto desde 2012 (na verdade desde os anos 1980, através de outros contratos), recebeu nada mais nada menos que 450 multas da Transerp entre janeiro e setembro deste ano.

Dentre os motivos das multas estão o número de reclamações dos usuários, tais como: superlotação, falta de higienização, atraso no horário das linhas e desvio do trajeto das linhas.

Segundo dados repassados pelo Diretor de Transporte da Transerp à Comissão Especial de Estudos da Câmara de Vereadores, o consórcio Pró Urbano opera uma frota de 354 ônibus (circulares a diesel) em 117 linhas. Atende hoje cerca de 130 mil passageiros diários e apresenta um "desequilíbrio financeiro" de 50 milhões de reais. A Transerp tem, por contrato (firmado em 2012), o direito de aplicar multas e outras penalidades ao consórcio.

Para mitigar o "desequilíbrio financeiro" alegado pelos empresários que operam o sistema, a Câmara de Vereadores, a pedido da Prefeitura, aprovou neste ano um auxílio emergencial de 17 milhões aos consórcio. Dos 17 milhões, 5 milhões foram repassados em junho, 2 milhões em julho, 2 milhões em agosto e 2 milhões em setembro. Outros 5 milhões serão repassados em outubro e novembro. Como garantia dos 17 milhões o consórcio ofereceu, por imposição judicial, 114 ônibus à Prefeitura (cada ônibus é avaliado em 130 mil).

O atual contrato vai até 2032 e deverá passar por revisão obrigatória (que já deveria ter sido feita). Caso não passe pelos critérios da revisão, o contrato pode ser, inclusive, rompido pela Prefeitura.

Como se vê, a situação do transporte coletivo de Ribeirão Preto não é boa. Aliás nunca foi. Com exceção dos Trólebus, operados pela Transerp e extintos em 1999 numa administração tucana, o sistema sempre foi ruim, caro e destinado aos trabalhadores pobres.

Nunca foi um sistema inteligente, confortável e utilizado em benefício da cidade. Os empresários ganham de qualquer forma, no lucro direto ou nos auxílios públicos. Já a população mais pobre sofre e a cidade, entupida de carros, também.

O assunto é tabu em tempos neoliberais, onde inclusive o DAERP é extinto e a água é privatizada diante do silêncio geral, mas os melhores exemplos de transporte coletivo, dentro de um plano de mobilidade urbana, são aqueles operados por empresas públicas e fiscalizados pela sociedade civil.

Por que não se pode voltar a fazer isso em Ribeirão Preto, já que o exemplo dos Trólebus era bom?

E a natureza do serviço, vai continuar destinada aos trabalhadores mais pobres, operando com os circulares a diesel, ou vai servir a um modelo de mobilidade urbana?

Seria muito bom fazer o seguinte levantamento: quantas pessoas no Palácio Rio Branco, incluindo o Prefeito, ou na Câmara de Vereadores, incluindo os vereadores, usam o transporte coletivo? Se não usam, por que não usam?

Taí, acho, um bom ponto para começar um debate.

Ricardo Jimenez - editor do Blog O Calçadão

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