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domingo, 12 de maio de 2024

Do Ipiranga para a USP e da USP ao Ipiranga: a história do músico Rafael Marangoni

 


Nas andanças que tenho feito por Ribeirão Preto, tenho tido a oportunidade de conhecer muitas histórias de vida e de luta. Uma delas é a história do Rafael Marangoni, um músico talentoso e determinado.

Batemos um papo numa mesa de bar na Praça do Trabalhador, no coração do Ipiranga, ou da Vila Albertina, bairro pequeno nascido das entranhas do grande Ipiranga.

Com fala tímida mas objetiva, Rafael senta e começa a contar um pouco da sua história. 

Nascido no bairro Simioni e radicado no Ipiranga, em Ribeirão Preto, Rafael vem de uma família de sambistas. Seu avô e tio tocavam na Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e também nos Bambas, em Ribeirão Preto. Já sua avó tinha uma forte ligação com a escola Vai Vai, em São Paulo.

Desde criança, Rafael demonstrava interesse pela música. Ganhou um cavaquinho para tocar samba, mas foi através do choro que ele se apaixonou pelo violão clássico. No entanto, seu amor pelo samba nunca o abandonou. 

O cavaco traz o samba na veia

Foi ouvindo uma rádio comunitária que ele conheceu Carlão do Ipiranga, o renomado sambista e herdeiro da Tradição da Academia de Samba do Ipiranga, que havia se tornado apresentador de um programa de rádio sobre samba enredo.A partir desse encontro com Carlão do Ipiranga surgiu uma grande oportunidade para Rafael: tocar cavaquinho na avenida durante os desfiles das escolas de samba em Ribeirão Preto. 

Foi assim que ele teve contato direto com a tradição popular do carnaval e as relações sociais presentes nas comunidades.

Rafael era estudante de escola pública quando conseguiu entrar na Universidade de São Paulo (USP), mais especificamente no curso de música. Na USP, ele também se tornou bolsista na Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto. Durante seus estudos universitários, Rafael teve a oportunidade incrível de trabalhar como instrutor em um programa social chamado Música Criança. Ele dava aulas musicais em postos de saúde da cidade e sonhava em se tornar um violonista clássico.

Em 2019, ele se formou e objetiva acessar a pós-graduação, buscando desenvolver um trabalho acadêmico voltado para ciências e arte. Além disso, também começou sua licenciatura para poder dar aulas posteriormente como professor universitário ou lecionar música para crianças nas periferias - algo que sempre fez parte dos seus planos futuros como educador musical -. 

Ensinando o que sabe

Seu objetivo final é fazer mestrado nessa área específica do conhecimento musical voltada à educação musical. Dentro dessa perspectiva profissional também exerceu atividades como professor particular ensinando violão durante sua trajetória estudantil na USP e, além disso, trabalhou por algum tempo dando oficinas musicais numa ONG.

Tocando no Posto de Saúde

Ao longo dos anos contou sempre com o apoio incondicional do seu mentor musical Carlão do Ipiranga para desenvolver-se cada vez mais como cavaquinista.

No entanto, seu maior desejo era conseguir trazer todo o conhecimento adquirido durante sua trajetória acadêmica novamente ao lugar onde tudo começara: o bairro Ipiranga - periferia ribeiro-pretana -. Ele queria compartilhar suas técnicas musicais eruditas aliadas à riqueza cultural proporcionada pelo samba às pessoas da comunidade onde cresceu.

Rafael vislumbra ensinar a música não apenas como forma artística solta nos espaços educacionais tradicionais mas sim ensinar enquanto disciplina interdisciplinar capaz ser aplicada inclusive às áreas exatas, ampliando assim os horizontes cognitivos das pessoas envolvidas, principalmente jovens.

Projeto Música Criança

O sucesso alcançado através das experiências vividas junto ao Programa Música Criança mostraram claramente as possibilidades existentes quando unimos dois mundos aparentemente distintos: academia erudita x periferias populares.

Rafael concluiu nosso bate-papo com uma frase inspiradora que resume toda sua trajetória pessoal enquanto músico: "Entrei na USP, convivi com a elite intelectual, com o ambiente acadêmico, mas nunca perdi contato com minhas rapizes, minhas referências, e por isso, hoje, quero devolver todo o conhecimento que adquiri para as pessoas da onde vim”.


Texto de Ricardo Jimenez


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