A inauguração da Rádio Grafica foi um processo coletivo e comunitário. Foto: Filipe Augusto Peres |
Por Filipe Augusto Peres
Durante o Seminário Internacional de Comunicação para a Integração, a jornalista argentina Úrsula Asta relatou a realização concreta do conceito marxista de "classe para si" (um grupo com consciência política e ação coletiva) a partir da luta constante de trabalhadoras e trabalhadores da Rádio Gráfica
No sábado (21), em fala realizada na mesa "Como fortalecer as mídias independentes e disputar ideias diante das novas tecnologias", em São Paulo, a jornalista Úrsula Asta falou sobre a experiência argentina da Rádio Gráfica.
A mesa aconteceu durante o Seminário Internacional de Comunicação para a Integração, organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé e pela Inter Press Service, realizado no Armazém do Campo.
Em sua fala, a jornalista destacou que a Rádio Gráfica é uma narrativa de resistência e autogestão que começou em meio à crise econômica, política e social que assolou a Argentina em 2001. Úrsula contou que a rádio surgiu no contexto de uma fábrica gráfica recuperada por trabalhadores da Cooperativa Gráfica Patricio, que se estabeleceu no sul de Buenos Aires, quando os ex-patrões dos Talleres Gráficos Conforti abandonaram o barco. Após o abandono da empresa, os trabalhadores decidiram proteger a produção e ocuparam a fábrica por mais de um ano.
"Durante esse tempo, descobriram que havia uma estação de rádio nas instalações e decidiram abri-la para as organizações do bairro", explica Úrsula Asta, jornalista da Rádio Gráfica e da agência Sputnik.
Asta disse que a inauguração da Rádio Gráfica foi um processo coletivo e comunitário. Sem financiamento para os equipamentos técnicos necessários, os trabalhadores realizaram festivais para arrecadar fundos. "Foi um esforço conjunto de militantes políticos, sindicais, trabalhadores da comunicação e jornalistas que se uniram para iniciar esse novo projeto de comunicação", lembrou.
Entretanto, a fábrica recuperada não se limita à produção gráfica. Úrsula afirmou que, além da cooperativa gráfica, o espaço abriga uma escola, um centro de saúde e a rádio, formando um verdadeiro polo produtivo, comunitário e chamou atenção ao fato de que a luta operária e o apoio sindical são partes fundamentais da agenda da rádio, a qual se alinha com os princípios de autogestão e solidariedade.
A regulamentação da mídia e a construção das pautas a partir das vozes da classe operária
Durante a sua fala, Úrsula explicou que, na Argentina, a regulamentação midiática se deu em um contexto que ainda refletia a era da ditadura no país. E lembrou que a luta pela legalidade dos meios comunitários e outros espaços acabou na Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, de 2009.
"Essa lei foi um marco, mas o governo de Macri a modificou com decretos que afetaram a concentração de mídia e a autoridade reguladora", destacou Asta.
A integrante da agência Sputnik fez questão, em seu depoimento durante o seminário, de afirmar que a construção da agenda da rádio é pautada pelas vozes dos trabalhadores e pelo interesse latino-americano. Para Asta, "a comunicação é uma construção da realidade determinada, entre outros elementos, pela agenda, pelas vozes e pela gramática dos trabalhadores ".
A radialista também enfatizou que a rádio busca estar presente nas ruas, mostrando os conflitos e construindo laços de participação e organização, com uma linguagem acessível e envolvente.
O financiamento da rádio e os desafios a partir do novo governo de extrema-direita
Sobre como a rádio se sustenta, a jornalista destacou que o seu financiamento segue o modelo de produção colaborativa, com apoio de sindicatos e organizações comunitárias. Para Úrsula Asta, a recente eleição de Javier Milei na Argentina traz novos desafios para a comunicação popular no país.
"Estamos atentos aos impactos que o novo governo pode ter sobre os meios públicos e comunitários", afirmou.
Neste sentido, a comunicadora popular destacou que as alianças da Rádio Gráfica são muito importantes para a produção de conteúdos. A colaboração com sindicatos e outros meios comunitários, de acordo com a jornalista argentina, fortalece a resistência e a construção de uma comunicação verdadeiramente popular.
"Nosso foco é construir laços de participação e organização, sempre em defesa da voz dos trabalhadores", conclui Asta.
Sob a coordenação dos jornalistas Vanessa Martina-Silva e Carlos Tibúrcio, além da participação de Úrsula, a mesa também contou com a participação de Canela Crespo (Bolívia) advogada feminista e integrante da Casa Tomada – Coletivo Comunicacional de Esquerda , Jennifer Mujica cientista política, comunicadora popular e criadora de conteúdo digital no El Mundo Al Revés e agência Venezuela News e Alcides García, jornalista, diretor da produtora audiovisual Videos Crisol e integrante da Rede de Educadoras e Educadores Poplares da Associação Centro Martin Luter King (participação remota)
Acompanhe a mesa transmitida pelo Canal do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé clicando no link abaixo:
COMO FORTALECER AS MÍDIAS INDEPENDENTES E DISPUTAR IDEIAS DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Saiba mais sobre a Rádio Gráfica em: https://radiografica.org.ar/
Importante esta inauguração
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