Entre as religiões, violência doméstica atinge mais mulheres evangélicas
A
5ª edição do relatório Visível
e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, publicada em 2025
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o Instituto
Datafolha, evidencia que a violência doméstica segue um padrão e desmistifica a
crença de que o ambiente familiar estruturado pela fé proporciona maior
proteção contra a violência. O relatório afirma que fatores culturais e
estruturais se sobrepõem ao fator religiososo para que a violência ocorra.
De acordo com o reltário, entre
as mulheres que se declaram evangélicas, 42,7% já sofreram agressões cometidas
por parceiros ou ex-parceiros, o que as torna o grupo religioso mais vitimizado
dentro de relações íntimas. Mulheres católicas vêm logo em seguida, com 35, 1%
declarando já terem sofrido agressões por parceiros ou ex-parceiros ao longo da
vida.
Aumento da autonomia
feminina é o motivo
Entre
os fatores que contribuem para esse cenário, destaca-se o aumento da autonomia
feminina nos últimos anos. À medida que as mulheres conquistam maior
independência financeira e social, alguns homens recorrem à violência para
manter o controle sobre suas parceiras. O estudo aponta que
"o
avanço das mulheres em espaços de decisão, a inserção no mercado de trabalho e
a maior escolarização estão entre os fatores que podem provocar reações
agressivas por parte de parceiros que se sentem ameaçados em sua posição de
autoridade".
Além
disso, a crença na submissão feminina dentro de algumas vertentes religiosas
pode reforçar a permanência das vítimas nos relacionamentos abusivos, uma vez
que
"há forte
pressão comunitária para que as mulheres perdoem e mantenham o casamento, independentemente
da violência sofrida".
No Brasil, ter
filhos e ser negra aumenta o fator de risco
No
Brasil, 32,4% das mulheres já foram vítimas de agressões físicas ou sexuais por
parte de seus companheiros. Esse índice supera a média global de 27% registrada
pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, práticas de controle
coercitivo, como a imposição de isolamento e a limitação da autonomia
financeira, reforçam a vulnerabilidade dessas mulheres. De acordo com o estudo,
"17,1% das
vítimas relataram que o parceiro pediu que deixassem de trabalhar ou estudar
fora de casa"
e
"16,4%
afirmaram que já sofreram ameaças de suicídio como forma de manipulação
emocional".
O
estudo mostra que a faixa etária mais atingida está entre 25 e 34 anos, grupo
no qual 43,6% das mulheres sofreram algum tipo de violência. Mulheres negras
são as mais impactadas, com 41,5% de relatos, em comparação com 35,4% entre as
brancas. Além disso, ter filhos também é um fator de risco, pois 43,8% das mães
relataram agressões por seus parceiros ou ex-companheiros, em contraste com
33,7% entre as que não têm filhos.
Os
números também revelam que a violência acontece principalmente dentro de casa.
A pesquisa informa que 57% das agressões aconteceram dentro do lar, enquanto
apenas 11,6% foram registradas em espaços públicos.
A
relação entre agressor e vítima reforça a predominância da violência doméstica,
já que 40% das mulheres foram violentadas pelo parceiro atual, e 26,8% sofreram
ataques de ex-companheiros.
Sociedade omissa
Outro
aspecto relevante da pesquisa é a presença de testemunhas durante os episódios
de agressão. Em 47,3% dos casos, amigos ou conhecidos estavam presentes,
enquanto 27% das vítimas foram agredidas na frente de seus filhos.
Apesar
da gravidade do cenário, muitas vítimas não buscam ajuda. A pesquisa aponta que
47,4% das mulheres que sofreram violência não procuraram qualquer tipo de
apoio. Entre as que reagiram, 19,2% recorreram à família, 15,2% pediram ajuda a
amigos e apenas 25,7% formalizaram denúncias às autoridades. O medo de
represálias, a dependência financeira e a desconfiança no sistema de justiça
são fatores que dificultam a denúncia e perpetuam o ciclo de agressões.
O
levantamento foi realizado entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, a
partir de entrevistas conduzidas pelo Instituto Datafolha. Para garantir
privacidade e segurança, as mulheres responderam a um questionário de
autopreenchimento.
Leia o relatório na íntegra clicando aqui.
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