Páginas

segunda-feira, 17 de março de 2025

Relatório revela que crenças religiosas não impedem agressões por parceiros íntimos

 



Entre as religiões, violência doméstica atinge mais mulheres evangélicas

A 5ª edição do relatório Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, publicada em 2025 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o Instituto Datafolha, evidencia que a violência doméstica segue um padrão e desmistifica a crença de que o ambiente familiar estruturado pela fé proporciona maior proteção contra a violência. O relatório afirma que fatores culturais e estruturais se sobrepõem ao fator religiososo para que a violência ocorra.

De acordo com o reltário, entre as mulheres que se declaram evangélicas, 42,7% já sofreram agressões cometidas por parceiros ou ex-parceiros, o que as torna o grupo religioso mais vitimizado dentro de relações íntimas. Mulheres católicas vêm logo em seguida, com 35, 1% declarando já terem sofrido agressões por parceiros ou ex-parceiros ao longo da vida.

Aumento da autonomia feminina é o motivo

Entre os fatores que contribuem para esse cenário, destaca-se o aumento da autonomia feminina nos últimos anos. À medida que as mulheres conquistam maior independência financeira e social, alguns homens recorrem à violência para manter o controle sobre suas parceiras. O estudo aponta que

"o avanço das mulheres em espaços de decisão, a inserção no mercado de trabalho e a maior escolarização estão entre os fatores que podem provocar reações agressivas por parte de parceiros que se sentem ameaçados em sua posição de autoridade".

Além disso, a crença na submissão feminina dentro de algumas vertentes religiosas pode reforçar a permanência das vítimas nos relacionamentos abusivos, uma vez que

"há forte pressão comunitária para que as mulheres perdoem e mantenham o casamento, independentemente da violência sofrida".

"Perdoa tudo que você tiver de ruim no seu coração, aqui, hoje, nesse lugar, perdoa! Se teve abuso sexual, perdoa! Se foi da família, perdoa!", afirmou Baby do Brasil, que também é pastora, em casa de show em São Paulo, no último dia 11 de março

No Brasil, ter filhos e ser negra aumenta o fator de risco

No Brasil, 32,4% das mulheres já foram vítimas de agressões físicas ou sexuais por parte de seus companheiros. Esse índice supera a média global de 27% registrada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, práticas de controle coercitivo, como a imposição de isolamento e a limitação da autonomia financeira, reforçam a vulnerabilidade dessas mulheres. De acordo com o estudo,

"17,1% das vítimas relataram que o parceiro pediu que deixassem de trabalhar ou estudar fora de casa"

e

"16,4% afirmaram que já sofreram ameaças de suicídio como forma de manipulação emocional".

O estudo mostra que a faixa etária mais atingida está entre 25 e 34 anos, grupo no qual 43,6% das mulheres sofreram algum tipo de violência. Mulheres negras são as mais impactadas, com 41,5% de relatos, em comparação com 35,4% entre as brancas. Além disso, ter filhos também é um fator de risco, pois 43,8% das mães relataram agressões por seus parceiros ou ex-companheiros, em contraste com 33,7% entre as que não têm filhos.

Os números também revelam que a violência acontece principalmente dentro de casa. A pesquisa informa que 57% das agressões aconteceram dentro do lar, enquanto apenas 11,6% foram registradas em espaços públicos.

A relação entre agressor e vítima reforça a predominância da violência doméstica, já que 40% das mulheres foram violentadas pelo parceiro atual, e 26,8% sofreram ataques de ex-companheiros.

Sociedade omissa

Outro aspecto relevante da pesquisa é a presença de testemunhas durante os episódios de agressão. Em 47,3% dos casos, amigos ou conhecidos estavam presentes, enquanto 27% das vítimas foram agredidas na frente de seus filhos.

Apesar da gravidade do cenário, muitas vítimas não buscam ajuda. A pesquisa aponta que 47,4% das mulheres que sofreram violência não procuraram qualquer tipo de apoio. Entre as que reagiram, 19,2% recorreram à família, 15,2% pediram ajuda a amigos e apenas 25,7% formalizaram denúncias às autoridades. O medo de represálias, a dependência financeira e a desconfiança no sistema de justiça são fatores que dificultam a denúncia e perpetuam o ciclo de agressões.

O levantamento foi realizado entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, a partir de entrevistas conduzidas pelo Instituto Datafolha. Para garantir privacidade e segurança, as mulheres responderam a um questionário de autopreenchimento.

Leia o relatório na íntegra clicando aqui.


Nenhum comentário:

Postar um comentário