Existe um ditado popular presente
entre educadores e funcionários de que ‘a escola é a cara do diretor’. Esse
ditado é resultado de uma constatação, principalmente de quem trabalha com a
educação, de que muitas coisas podem ser realizadas em âmbito escolar desde que
se tenha apoio e aval de seu próprio diretor.
A escola não se resume ao
trabalho dos professores e alunos em sala de aula. É muito mais que isso.
Existe muito trabalho feito nos bastidores que por sua vez irá interferir no
trabalho do professor posteriormente em sala de aula. Esse trabalho de
bastidores tem principalmente o dedo do diretor, é ele que escolhe sua equipe
pedagógica e gerencia todo o trabalho fora de sala. É por isso que a figura do
diretor exerce tanta influência em seu meio.
É certo que muitos problemas
presentes no ambiente educativo fogem ao escopo do trabalho do diretor de
escola: os baixos salários, a formação inicial muitas vezes precária ou
deficiente, altas jornadas, péssimas condições de trabalho, etc. Contudo, mesmo
estes problemas se tornam menores ou são mais facilmente driblados quando a
figura do diretor exerce bem seu papel de gestor escolar.
As condições de trabalho,
por exemplo, podem ser infinitamente melhoradas quando o dinheiro, que chega às
escolas, é bem administrado e é utilizado adequadamente para aquilo que deveria
ser seu fim: uma boa educação. Nós
professores sempre passamos por muitas escolas em nossa carreira e, às vezes,
nos assustamos diante de algumas escolas com excelente estrutura física a ponto
de nos perguntarmos: ‘como esse diretor consegue?’; ‘por que na outra escola
não é assim?’.
A questão de formação
inicial muito embora não seja de domínio do diretor, a questão da formação
continuada é. Nós professores lutamos muitos anos para garantir o direito de
ter um tempo para formação, preparação e planejamento de aulas. E conseguimos.
A Lei do piso (Veja mais sobre a Lei do Piso aqui) garante que um terço de nossa jornada seja fora de sala de aula,
mas é incrível como esse tempo é muitas vezes jogado fora em reuniões inúteis,
mal planejadas, que em grande parte só se prestam a dar recado ao invés de se
criar um ambiente coletivo e formativo. E isso tem a ver com a (falta) de
direção sim.
Muito embora a questão salarial
e as altas jornadas fogem ao escopo do trabalho do diretor, é ele, em parte, o
responsável por criar no ambiente escolar um ambiente acolhedor que inspire os
professores a criarem projetos da mesma forma que também de liberdade para
executarem. O diretor deve estar sempre inspirando e apoiando iniciativas que
conduzam a uma boa educação.
Se o diretor tem um papel
fundamental na escola por que sua escolha ainda é feita por nomeação política?
Por que produz cabos eleitorais e isso gera votos. Simples assim!
Inúmeras cidades, entre elas
Ribeirão Preto, ainda têm essa péssima tradição de nomear seus diretores de
escola por indicação política. Mas isso tem que acabar. Isso é um mal para a
escola. Isso é um mal para a sociedade. E não faz o menor sentido.
Felizmente, isso foi
colocado como meta no Plano Municipal de Educação (Sobre o que é o PME, veja aqui) que foi enviado para a Câmara
dos Vereadores em meio à forte oposição das pessoas que atualmente são
beneficiadas com esta metodologia. Mas não será fácil sua aprovação uma vez que
as pressões políticas podem mudar algumas diretrizes do plano. É por isso que
cabe agora à sociedade civil cobrar de seus representantes a aprovação do PME da
forma em que está, em sua forma original, prevendo que a escola seja gerida
democraticamente.
Por fim, a questão de
como deve ser feita a escolha de diretores é que gera dúvidas. Na rede federal de educação,
por exemplo, a escolha é feita por meio de eleição direta, na qual, votam
alunos, professores e funcionários e cada uma dessas categorias têm pesos
iguais. Já na rede estadual de educação de São Paulo, o diretor é um cargo
escolhido por meio de concurso público de provas e títulos. Existem prós e
contras de ambos métodos. Particularmente penso que o diretor deve ser eleito
pela comunidade escolar: alunos, pais, professores e funcionários. Pois, se a ‘escola
é a cara do diretor’, que este diretor tenha, portanto, a cara da comunidade
escolar. O que não pode é a escola ter a cara de um político conservador e
ultrapassado.
Ailson Vasconcelos da Cunha, professor e doutorando. Um eterno aprendiz.
Ailson Vasconcelos da Cunha, professor e doutorando. Um eterno aprendiz.
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