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terça-feira, 17 de novembro de 2015

O PSDB pode se fragmentar, mas SP continuará a ser o berço da direita!

Há indícios de que o comando exercido por Aécio Neves vai acabar implodindo o PSDB, fazendo com que algumas de suas lideranças escolham trilhar outros caminhos partidários. A especulação maior é o líder paranaense Álvaro Dias na Rede, o governador Alckmin no PSB ( bastante alckmista em SP já há alguns anos) e Serra no PMDB ou no seu partido satélite, o PPS.

Se de fato ocorrer a fragmentação tucana, isso será uma mudança importante do ponto de vista eleitoral, pois vai espalhar a direita neoliberal por outros partidos. A pena é ver o histórico PSB de Miguel Arraes ser, em São Paulo, levado para a direita neoliberal de matriz tucana (coisa que também ocorre com o PDT paulista).

Porém, do ponto de vista político, muda quase nada. Historicamente, há uma disputa no Brasil que antagoniza um grupo mais 'estatista' e desenvolvimentista, que enxerga o Brasil a partir da disputa pelos instrumentos do Estado nacional para colocá-los a serviço do desenvolvimento e da geração de políticas públicas inclusivas, com um grupo dito 'liberal', que, nos últimos 30 anos, tem defendido o modelo do 'Estado mínimo' proposto pelo Consenso de Washington.

Essa disputa ocorreu intensamente dentro do Estado de São Paulo entre PT e PSDB, com ampla vitória tucana, por vários motivos, os quais se incluem os enormes erros cometidos pelos petistas paulistas. Mas, considerando o Brasil todo, principalmente a tradição fincada pelo Trabalhismo e pelo desenvolvimentismo de caráter nacional, encampado por muitos políticos Brasil à fora, unindo de brizolistas a comunistas; de socialistas a peemedebistas; de sindicalistas a trabalhadores rurais sem terra, a disputa pende nos últimos anos para o PT e aliados, ou seja, para o pensamento político de caráter mais social e trabalhista.

O chamado "pensamento tucano", se é que isso existe, é basicamente uma construção paulista. Mistura uma questão histórica vinda desde a crise de 1929, quando São Paulo teve de ceder poder político para o resto do Brasil e se recolheu no seu reduto conservador próprio, à defesa do "Estado mínimo" neoliberal, construído por Milton Friedman na escola de Chicago.

Acontece que o "Estado mínimo" tucanoide é uma grande farsa perversa. Para a plutocracia, a base de sustentação tucana, o Estado jamais foi mínimo. A replicação do capital sempre foi garantida plenamente pelos instrumentos de Estado, através dos juros exorbitantes. No pensamento tucanoide, o Estado deve ser mínimo apenas para o trabalhador. Não à toa, o "pensamento tucano" é defendido pelo agronegócio, pela FIESP, pelos grandes bancos nacionais e internacionais e por uma casta que vive dos rendimentos do capital. Em São Paulo, e em parte do Brasil, este "pensamento" consegue fazer eco em uma classe média proprietária de pequenos e médios negócios, os chamados "PJs", de matriz mais conservadora, que acabou substituindo ao longo do tempo a classe média assalariada operária, mais favorável às políticas de esquerda, na substituição da indústria pelo setor de serviços ocorrida entre 1980 e os dias atuais.

O "pensamento paulista, tucanoide" não tem nada de novo e nem de original. É apenas uma força conservadora que busca voltar ao modelo dos anos 90: privatizações, terceirização do trabalho, flexibilização dos direitos trabalhistas, desnacionalização da economia e engessamento do Estado nacional através da imposição de superávits primários robustos.

Esse modelo que acabou com as ferrovias, com os portos, com a indústria, com os empregos, que proibiu o ensino técnico, que privatizou os bancos estaduais de fomento e que caminhava para privatizar uma Petrobrás em declínio ainda é gestado dentro do Estado de São Paulo e vendido como solução por parte da mídia amiga. Basta ver o sucateamento da Sabesp, do Metrô, o desmonte da educação pública e a privatização da saúde para se ter ideia do que está sendo preparado como "proposta" para 2018.

A reacomodação da direita em outros partidos que não apenas o PSDB em nada muda este quadro. E mais, aqui em São Paulo o pensamento neoliberal se alia à truculência e repressão contra os movimentos sociais e à obtusidade hipócrita de setores ditos 'evangélicos', sustentados pela grana empresarial, que buscam atentar contra direitos individuais e de minorias.

A pedra no meio do caminho, além dos movimentos sociais e da força da juventude, que tem conseguido colocar Alckmin contra a parede, está o PT e Lula. Retirar estas duas pedras do caminho é missão número 1 dessa gente.

Por que temem tanto?

Simples. Nos últimos treze anos, mesmo não rompendo com o modelo de replicação do capital, o governo petista, de inspiração social-trabalhista, conseguiu um feito enorme e intolerável para a plutocracia: fez o povão subir economicamente de nível e diminuiu a desigualdade!

A renda do trabalho cresce desde 2004 com a valorização real do mínimo e das aposentadorias, a distribuição de renda acontece de fato com o Bolsa Família, o emprego cresceu e se formalizou, o índice GINI vem em queda (ou seja, melhorando) ininterruptamente desde 2003, a Petrobrás descobriu e bate recordes no pré-sal, apontando para a retomada da indústria, a população pobre e negra está nas universidades, criando um potencial social e político perigoso para a Casa Grande.

Isso tudo apenas com um mínimo de políticas econômicas e sociais progressistas. Imagine isso tudo aprofundado e com a população mais engajada?

Enfim, se enxergarmos o país a partir de uma distância capaz de desanuviar esse clima seletivo de pseudo-combate à corrupção e de caça às bruxas (a tática nazista de estigmatizar o PT), veremos um país em disputa, a velha e presente disputa histórica entre os nacionalistas e os entreguistas, entre aqueles que valorizam a força do povo e aqueles que odeiam o povo.

Em 2018, é esta turma tucano paulista que vamos, de novo, combater, estejam eles em quais partidos estiverem.

Ricardo Jimenez

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