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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Querida classe média, Cresça! O policial morto não foi herói, foi vítima! Ele morreu! Por Leonardo Sacramento



Circula nas redes sociais mensagens chamando o policial morto no assalto à empresa de valores de herói.
Chamá-lo de herói consiste em criar uma imagem em que policial deve combater o crime a qualquer custo e em qualquer situação, inclusive com a sua vida.
Chamá-lo de herói consiste em romantizar uma política estúpida de combate ao crime organizado, em que policiais são ensinados a matar e a morrer pela "ordem pública".
Chamá-lo de herói consiste em ignorar que ele não deveria estar onde estava, pois o correto (em qualquer país cuja polícia não é militar) não seria fazer qualquer cerco com uma 38 a uma quadrilha profissional com fuzis, granadas e armamento anti-aéreo, que derrubaria aviões militares.
Chamá-lo de herói consiste em ignorar que a quantia roubada não (equi)vale a sua vida em hipótese alguma.
Chamá-lo de herói consiste em exigir que o policial se coloque sua vida em risco para defender a propriedade de milionários e bilionários.
Chamá-lo de herói consiste em romantizar a relação "absolutista" e autoritária dos policiais, que são obrigados e convencidos, por meio dos discursos da "ordem pública" e do "combate" ao crime organizado, a enfrentar situações que, muito provavelmente, morrerão e matarão (e cometerão abusos).
Chamá-lo de herói consiste em aprovar a política de sucateamento do governo estadual, que permite que policiais façam "bicos" para "complementar" salário.
Chamá-lo de herói consiste em legitimar a morte por motivo fútil (dinheiro que estava em seguro sem nenhuma vida em risco, a não ser dos policiais).
Chamá-lo de herói consiste em legitimar uma estrutura política-administrativa que o coloca em situação de risco e ainda o chama, após a sua morte, de "herói".
Chamá-lo de herói consiste em acreditar que policial deve "proteger" a "sociedade" em qualquer situação, inclusive por meio de métodos escusos ou com a própria vida.
Chamá-lo de herói consistem em defender um "estado de guerra" permanente, criar um mundo infantil de mocinhos e bandidinhos, bonzinhos e mauzinhos.
Chamá-lo de herói consistem em defender um "estado de guerra" permanente que, na prática, dizima jovens pobres e negros.
Chamá-lo de herói consiste em legitimar a própria morte do policial, pois herois "morrem em combate", o que não foi o caso.
Chamá-lo de herói consiste em desrespeitá-lo, porque ele gostaria de estar vivo (inclusive a sua família). Não há heroísmo nisso. Se houver e achá-lo digno, coloque a sua vida em risco, e morra com heroísmo (sic!).
QUERIDA CLASSE MÉDIA, CRESÇA! O POLICIAL MORTO NÃO FOI HERÓI! FOI VÍTIMA! ELE MORREU!

Foi vítima de uma formação e estrutura militarizada, que o proíbe de discutir e discordar abertamente de situações, inclusive aquelas que colocam a sua vida em risco.
Foi vítima da figura imaginária criada que policial deve ser um herói, em qualquer situação.
Foi vítima da figura imaginária propalada pelos "cidadãos de bem" de que policial deve combater o "mal".
Foi vítima da figura imaginária criada pelos programas policialescos de televisão.
Foi vítima da política armamentista do governo estadual, fortalecida pelo conservadorismo da classe média e elite e pelos programas policialescos de televisão.
Foi vítima da política de sucateamento e precarização do trabalho do policial e de todo o serviço público.
Ele foi vítima, querida classe média conservadora!!! Pare de romantizar a morte do policial como se você estivesse vendo um filme de Bruce Willis em um cinema gourmet 3D. Não é Hollywood!

Leonardo Sacramento é Professor e Secretário-Geral da Aproferp

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