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domingo, 4 de novembro de 2018

Ser memória e fazer história

Ato pela Democracia.
Fotos: Filipe Peres

Por Kelli Mafort

Na companhia de um querido camarada fiz um passeio na capital paulista revisitando as memórias da ditadura. 

Num caminhar apressado, e olhar intrigante, fomos passando pela ruas Helvétia com Dino Bueno, lugar de pessoas perambulantes, vestidas de cracolândia e alimentadas pelo desprezo. 

Logo chegamos na estação Pina que abriga o Memorial da Resistência, antigo Deops - Departamento Estadual de Ordem Politica e Social, casa transitória dos horrores de Alípio Freire, Wanderley Caixe, Eleonora Menicucci e tantos outros militantes. O Deops foi fundado em 1924 e atou sobre as ditaduras do Estado Novo e de 1964.

Não é difícil prever que o novo governo do estado de São Paulo vai apagar toda essa memória ou levar à mingua espaços como esse. 

Ali tem um painel bem grande, que trata o 1964 como golpe e coloca as chacinas contra os pobres, ao lado de massacres políticos como o de Eldorado dos Carajas.

Na última sala, antiga cela, uma rosa repousava sobre uma mesa sem toalha.  Visitantes sentados e em silêncio profundo, ouvindo depoimentos de ex presos políticos. 

Logo na saída do memorial, um garoto passa ligeiro de bicicleta, quase invisível, e agarra o celular de um visitante distraído. Na sequência saiu o porteiro e destilou seu ódio contra o menino. Saímos apressados antes de ouvir o desfecho que provavelmente tocou no resultado eleitoral do último domingo. 

Ao chegar no encontro com a história de Pepe Mujica, topamos com um aglomerado de pessoas aplaudindo e saudando Haddad, que acabara de sair da sessão do filme "Uma noite de 12 anos".

Cena do filme "Uma Noite de 12 Anos"

Mergulhamos no filme que tem a beleza e a dureza de te levar pra dentro do cotidiano rastejante da prisão de militantes revolucionários uruguaios. Naquele instante fomos eles e quase nos esquecemos de nosso próprio desafio verde e amarelo.

O filme não era um romance, mas vários choraram, se abraçaram. E um silêncio cortante atormentava aqueles paulistanos.
Na saída, mais filas para a próxima sessão. Mais gente querendo pensar, chorar e talvez buscar inspiração na árida resistência dos militantes tupamaros. 

Para nós o desafio não é somente de manter a memória, mas de fazer história. Adiante! O presente nos pertence!!

Kelli Mafort é Dirigente Nacional do MST

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