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quinta-feira, 28 de março de 2019

"Há no país um sentimento claro que começa a se mover, como se fosse um vulcão que vai começar"

José Dirceu, lançamento de sua autobiografia “Zé Dirceu - Memórias, volume 1” (editora Geração).

De Marcelo Toledo, na Folha

O governo de Jair Bolsonaro (PSL) é militar, com alguns civis, e a liberdade das pessoas está em jogo. Mas o país está percebendo os problemas.
As afirmações foram feitas pelo ex-ministro petista José Dirceu em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), onde esteve na noite desta quarta-feira (27) para o lançamento de sua autobiografia “Zé Dirceu - Memórias, volume 1” (editora Geração).
Num local que um dia já foi dominado pelo grupo do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil) –que governou Ribeirão por dois mandatos–, Dirceu disse que o entorno do presidente Bolsonaro é militar e que o Brasil está fazendo concessões aos EUA sem ter nada em troca.
“Esse governo é um governo militar, com civis. É só observar, gabinete do presidente é militar, o Palácio do Planalto é militar, os ministérios da Infraestrutura e Ciência e Tecnologia, o controle sobre a Educação e Relações Exteriores, estão desconstituindo os poucos civis que ficaram na Educação e não eram militares. Relações Exteriores é pior, é da família Bolsonaro”, disse.
Para o ex-ministro, é a liberdade dos brasileiros que está em jogo, mas o país percebeu ainda no ano passado que Bolsonaro não é o melhor para o país. Citou discurso inflamado do presidente na avenida Paulista, uma semana antes da eleição, e a não ida do presidente nesta quarta à Universidade Presbiteriana Mackenzie como exemplos.
“É a liberdade que está em jogo. Se vocês perceberem, os jovens e as mulheres já perceberam. Há no país um sentimento claro que começa a se mover, como se fosse um vulcão que vai começar...”, disse o petista.
Para Dirceu, o cancelamento da ida de Bolsonaro ao Mackenzie nesta quarta é de um “simbolismo fantástico”.
Após protesto de estudantes na universidade, na manhã desta quarta, Bolsonaro cancelou a ida ao local e transferiu a agenda ao Comando Militar do Sudeste, também na capital.
O ato dos estudantes criticava a presença do presidente e a ditadura militar instalada em 1964. Bolsonaro tem incentivado comemorações pelos 55 anos da data, no próximo dia 31 de março, o que também foi criticado pelo petista.
O simbolismo a que se refere Dirceu é em relação ao histórico confronto entre grupos de estudantes do Mackenzie e da USP na rua Maria Antônia, que em 2018 completou 50 anos.
Dirceu disse ainda, a uma plateia formada por cerca de 200 pessoas na sede do diretório do PT em Ribeirão, que as pessoas não devem se iludir com o caráter “autoritário” do governo. 
“Não vamos nos iludir sobre o caráter autoritário desse governo, totalitário desse governo, que ameaça a liberdade dos brasileiros e brasileiras. Não vamos nos iludir com as Forças Armadas, são conservadores. Eles estão comprometidos com esse governo e vão comemorar o dia 31.”
O lançamento foi acompanhado por petistas da macrorregião de Ribeirão, como o ex-ministro (Comunicação Social) Edinho Silva, prefeito de Araraquara (a 273 km de São Paulo), além de ex-candidatos a prefeito, uma deputada estadual, vereadores e integrantes de movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Apeoesp (sindicato dos professores de São Paulo).
Desde agosto, Dirceu já apresentou a obra em cidades como Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Goiânia e Teresina, entre outras capitais.
O livro é dedicado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi escrito no período em que ele esteve na prisão. Dirceu foi solto pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em junho.
A obra é vista pelo petista como uma forma de defender o legado do partido e do ex-presidente, que está preso em Curitiba. Para Dirceu, a prisão de Lula é injusta e sua condenação foi um processo político, “de exceção”.

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