Sobre o Papa e Lula:
uma obediência à Palavra
Por| Hermes Abreu. ofm
Estarrecidos estão muitos católicos acerca do encontro de Lula e Papa Francisco. Questionamentos inúmeros. Racionais, sob a ótica de quem o diz; ou não, dada a sandice de quem os propaga.
Fato é que muitos católicos não se sentem à vontade ao ver Papa Francisco ao lado de Lula. Certo é que se sentiram faceiros, felizes, ao defender o atual presidente. Com gestos de arminha nas mãos, defendiam o “messias político”. O “símbolo da limpeza moral”, face à tanta corrupção. Assim são os mitos. Diferem da verdade. Às vezes, nada lhe representa. Aqueles católicos que defenderam Bolsonaro como “a salvação” para a crise política do Brasil, esqueceram de que ele é o antônimo dos imperativos da Palavra de Deus.
A Bíblia fala de dignidade humana, mas Bolsonaro defende a tortura. A Palavra de Deus diz “não julgueis, para não sedes julgados” (cf. Mt 7, 1), mas Bolsonaro é homofóbico, tratando a população LGBT como escória. Além de sua postura desumana em relação aos indígenas, aos quilombolas, às mulheres. Todos seus atos, palavras, posturas; foram esquecidos pelos católicos ao defendê-lo para o pleito presidencial. Elegeram-no. Sem crise de consciência. Sem consciência.
Agora, Papa Francisco acolhe Lula. Tal fato gera indignação de nossos irmãos. Por que?
Papa Francisco é alguém atento à Palavra de Deus. Acolher Lula, não significa afronta à dignidade de seu Ministério Pontifício. Ao contrário, corrobora. “Para libertar os cativos” foi o sonho de Deus proposto pelo Profeta Isaías como parte da síntese do Ministério de Jesus, o Messias anunciado (cf. Is. 61, 1). Em Lc 4, 18, Jesus toma para si a missão proposta pelo Profeta. Conclui dizendo: ” hoje esta Palavra acaba de se cumprir” (cf. Lc 4, 21). O texto diz:
“O Espírito do Senhor Javé está sobre mim, porque Javé me ungiu. Ele me enviou para dar a Boa Notícia aos Pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação aos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros.” (Is 61,1-2 e Lc 4, 18-19)
Outras passagens bíblicas justificam a atitude do Papa Francisco:
“estive na prisão, e foste me ver.” (Mt 25, 36b)“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt 11, 28)
Receber Lula é receber o ser humano. Acolher a dor. O coração quebrantado. É ser obediente à Palavra de Deus e à missão, a qual – desde o batismo – somos todos chamados: sermos semeadores do Evangelho. Evangelho não só de discursos, mas atitudes. Carne, em nossa própria carne. Quanto à culpabilidade de Lula: o fato de estar fora do país, visitando o Santo Padre, já significa que há algo de fraudulento em sua condenação. Um dia, todas as mentiras ruem.
Incondicionalmente, estou ao lado do Papa. Em receber Lula, em lutar pelos indígenas, em ser quem ele é: Servo de Deus, ao lado dos pequenos e humildes. Sempre atento à dor humana, Francisco é – assim como o Pobrezinho de Assis homônimo o foi – instrumento de Paz.
Obrigado, Papa Francisco, por balançar nossos preconceitos, denunciando nossa hipocrisia, camuflada em sacralidade piedosa. Mea culpa, Mea maxima culpa. Miserere, Domine.
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