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sexta-feira, 16 de abril de 2021

Ribeirão: é possível um projeto que priorize as periferias?

 

Inverter todas as prioridades e estabelecer as periferias como centralidade

O Blog O Calçadão tem procurado estabelecer uma maior proximidade com as periferias de Ribeirão Preto, seja através dos laços já firmados com os movimentos sociais organizados, seja através do diálogo com a população.

Nada menos do que 85% da nossa população vive nas periferias, em bairros populares, enfrentando a batalha diária pela vida, pela renda que sustente a família e convivendo com a ausência do poder público, na saúde, na educação, na segurança.

Não podemos esquecer que 50 mil pessoas não têm onde morar e, portanto, buscam nas ocupações urbanas ter pelo menos um teto improvisado onde dormir e proteger seus filhos. Outros milhares moram nas ruas. E outros milhares estão hoje passando fome ou na iminência de passar fome.

Diante disso, ousamos perguntar: é possível termos um projeto de cidade que priorize as periferias, que tenha as periferias como centralidade do projeto?

Ter voz

Vemos nesse período de pandemia que quem tem voz na nossa sociedade é quem tem poder financeiro. A população comum fica entregue à guerra da desinformação ou refém de decisões sobre as quais não teve participação. Os próprios movimentos sociais de caráter popular não são ouvidos pelo poder público.

Alguma dúvida? Quantas vezes o MST, que já distribuiu toneladas de alimentos nas periferias, foi ouvido pelo poder público municipal? Esse é só um exemplo.

Sem dar espaços de participação popular, sem ouvir o povo diretamente nos bairros, não há projeto que priorize as periferias.

Ter projetos

Quando se pensa em projetos, em propostas de políticas públicas, a nossa tendência é recorrer ao tecnicismo. A técnica e a burocracia, que adoram as tabelas, planilhas, gráficos e números predominam na formulação de propostas que, muitas vezes, passam longe das necessidades do povo. É um cacoete típico da política.

Mas basta uma volta pelas periferias e veremos que as pessoas constroem a vida em meio ao precário, utilizando os menores espaços para criar e realizar (ou, como gostam, empreender). Só não conseguem mais quando o precário se torna deserto social.

Não existe conhecimento técnico que dê certo sem ser construído junto das periferias, recolhendo da sabedoria e da realidade popular as soluções sociais, econômicas e humanas 

Temos potencial humano,  espaços urbanos públicos e privados em grande número e capacidade técnica para um projeto que priorize as periferias.

O dinheiro

Ribeirão Preto é uma cidade rica, com um PIB anual superior a 30 bilhões de reais, mas com renda concentrada, IDH abaixo de muitos municípios brasileiros e um orçamento público modesto, de cerca de 10% do seu PIB.

Mas, mesmo assim, há orçamento e há espaços para termos uma inversão de prioridades e pensarmos em uma cidade construída das periferias para o centro.

Uma criança do Jardim Progresso, uma jovem estudante do Quintino, uma mulher trabalhadora do Adão do Carmo, um morador da Nazaré Paulista não podem esperar. 

Deixar que a economia capitalista, o mercado, a iniciativa privada opere sozinha não resolve e, pior, aprofunda o problema.

Um projeto que priorize as periferias tem no poder público, no orçamento público, o seu motor. 

Há inúmeras pesquisas realizadas sobre a importância das compras governamentais no impulsionamento e consolidação de políticas públicas de geração de renda e inclusão social.

O orçamento público e as compras governamentais ancorados por um planejamento adequado, que beba direto na fonte, na voz e na experiência das periferias, pode construir importantes mudanças e abrir um espaço para um ciclo de desenvolvimento a partir das regiões mais pobres englobando toda a cidade.

A política

Não há mudança sem política. Pensar em um projeto de cidade que priorize as periferias passa pela política, pela construção de um pensamento e conscientização que gerem ação política.

Hoje a política de Ribeirão Preto é uma política elitista e excludente. Repleta de preconceitos e visões que tratam as periferias como objeto de oportunismo político ou espaço de esquecimento.

Construir consciência política e movimento político não são tarefas fáceis. Exige unidade, organização, presença nas periferias e, principalmente, presença das periferias no processo construtivo.

Quem hoje em dia tem isso? Somente as igrejas neopentecostais. E sabemos que nas igrejas neopentecostais predominam a teologia da prosperidade e o individualismo neoliberal. 

Enquanto isso, os canais de diálogo e decisões políticas ficam concentrados nas instituições patronais e seus penduricalhos, únicos setores a serem ouvidos pelo poder público.

Conhecer as periferias e abrir espaço para a construção política é uma tarefa a ser feita, inclusive rompendo barreiras nas próprias organizações de esquerda e populares, que podem até ter a consciência da realidade mas não têm a periferia representada nos seus quadros dirigentes.

Plantando sementes

O que queremos com este artigo é iniciar um debate aberto com todos que de alguma forma estão inseridos na luta popular: partidos, movimentos, pessoas.

Escrevam para o Blog, vamos começar a pensar a cidade na perspectiva das periferias, vamos começar a trazer as periferias para nossas organizações.

Este é um espaço aberto ao debate e o convite está feito.


Blog O Calçadão

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