Sobre o número de casos e testes
No
início da pandemia de Covid19, ainda em março de 2020, um mantra falado por
todos os especialistas como uma das principais medidas de enfrentamento à
doença era a testagem em massa: “testar, testar e testar”. Essa foi a primeira
estratégia que se mostrou eficiente no combate à pandemia e foi adotada
incialmente pela China e Coreia do Sul e, posteriormente, pela Alemanha. Passado
mais de um ano, e agora com a chegada da vacinação, a testagem deixou de ser o
foco, mas isso não significa que tal medida perdeu o sentido. Muito pelo
contrário, ela continua essencial, em especial, quando olhamos quando
observamos os dados, vemos que os países mais desenvolvidos ainda realizam uma
quantidade enorme de testes que utilizam para identificar e isolar pacientes e
conter a doença.
Fizemos um levantamento de alguns dados relativos aos casos testes, e mortes pela Covid19 através da plataforma https://www.worldometers.info/coronavirus/ . Os dados compilados oferecem um panorama interessante da posição ocupada pelo país em relação aos 30 principais países do mundo (veja dados abaixo). (Cabe ressaltar que os dados desta plataforma diferem ligeiramente dos dados do Ministério da Saúde).
Em
relação ao número de casos, o Brasil ocupa atualmente a 3ª posição com mais de
13,4 milhões de casos, logo atrás da Índia com quase mesmo número. Os EUA
ocupam a 1ª posição com cerca mais de 30 milhões de casos. No entanto, a
diferença em relação ao número de testes é exorbitante. Os EUA fizeram nada
menos que 418 milhões de testes, número maior que de sua população (332
milhões), o que indica uma média de 1,2 teste por pessoa no país. A Índia que
tem aproximadamente a mesma quantidade de casos registrados que o Brasil (13,5
mi) fez nada menos que 256 milhões de testes, enquanto o Brasil fez pouco mais
de 28 milhões. Dito de outro modo, muito embora Brasil e Índia tenham
praticamente o mesmo número de casos de Covid19, a Índia fez 9 vezes mais
testes que o Brasil.
Pelo
critério de teste por habitante, o Brasil ocupa a 27ª posição (entre os 30
países) com apenas 0,13 testes por habitante a frente somente das
Filipinas (0,097), Indonésia (0,048) e México (0,048). Reino Unido (1º lugar) e
Israel (2º lugar) até o momento fizeram 1,9 e 1,4 testes por
habitante, respectivamente.
Outro
dado alarmante é obtido quando relacionamos o número de casos registrados
com o número de testes realizados, ou seja, a porcentagem de casos
positivos em relação aos testes feitos. Por esse critério, o Brasil
ocupa isolado a 1ª posição no ranking. Com cerca de 13mi de casos e apenas
28mi de testes, o Brasil tem uma taxa de casos positivos de 47%, ou seja, em
média a cada dois testes feitos no Brasil, um é positivo. Logo em
seguida, aparecem México, 36,4% (aproximadamente um positivo a cada 3 testes)
e Argentina, 26,4% (um positivo a cada 4 testes). Na Índia, essa
taxa é de 5,3%, ou seja, um resultado positivo a cada 20 testes realizados.
No Reino Unido, com a melhor situação, tem uma taxa de 3,3%, ou seja, um
positivo a cada 30 testes. A Organização Mundial de Saúde, OMS, recomenda
que essa taxa seja de cerca de 5%.
Ou
seja, para que tenhamos 50 mil casos positivos diariamente deveríamos realizar
cerca de 1milhão de testes diários. (A capacidade de testagem no país não chega
a 100mil).
Tais
resultados mostram que o Brasil testa muito pouco sua população. Somente são
testados os casos sintomáticos e graves que chegam às unidades de saúde. Não
identifica os casos assintomáticos, não faz rastreamento da doença e por isso
não tem controle de como ela está. Tudo isso pode indicar também uma
subnotificação de casos e falta de controle da pandemia, pois não dá valores
reais de taxa de transmissão e disseminação do vírus.
Além
de testar muito pouco sua população, o país não realiza estudos genômicos dos
casos testados. Tais estudos são importantes pois identificam variantes do
vírus que podem ser mais resistentes inclusive às vacinas (até então as vacinas
existentes se mostraram eficazes com todas as variantes testadas). Mas e o
futuro?
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