Os cerca de 300 milhões de reais que serão investidos pelo governo federal através do PAC de mobilidade urbana, farão Ribeirão Preto corrigir, com mais de 15 anos de atraso, uma das maiores barbeiragens já realizadas no transporte público da cidade: a retirada dos terminais de ônibus Carlos Gomes e Antônio Achê pela administração tucana de Jábali, deixando o nada no lugar (apenas os tradicionais marcadores de madeira ou as coberturas que mal protegem os passageiros do Sol e da chuva).
Desde que a Prefeitura (após batalha judicial), na primeira administração Gasparini, nos anos 60, substituiu a estação ferroviária pela rodoviária como porta de entrada para a cidade, Ribeirão Preto se desenvolveu com e para o automóvel.
A característica excludente de Ribeirão se reflete no trânsito entupido de automóveis com um único ocupante: o motorista. Enquanto isso, há décadas, é oferecido aos trabalhadores, aqueles obrigados a se deslocarem pelo transporte público, um péssimo sistema de ônibus circulares que, sacolejando, levam mais tempo para irem do Ipiranga ao Jardim Paulista do que ir de avião para São Paulo.
Em Ribeirão Preto só pobre "pega" ônibus. A oferta não comportaria um aumento de 10% na demanda se, por algum milagre, alguns milhares de solitários motoristas decidissem, por exemplo, num dia qualquer, deixar o seu carro na garagem e encarar o "busão".
Ao contrário de outras cidades do Brasil e do exterior, transporte coletivo em Ribeirão não é opção, é castigo.
Imaginem, então, o sofrimento dos passageiros nesses últimos 15 anos sem terminais!
E não foram só os terminais. A administração tucana também acabou com os Trólebus (com linhas recentemente ampliadas pela administração anterior de Palocci) alegando uma dívida de 7 milhões de reais na época. Isso da Prefeitura ter feito uma ampliação das linhas no mandato anterior, de Antônio Palocci.
O que foi feito de lá para cá nas administrações posteriores? Nada.
Os ônibus a diesel, a falta de terminais e a incapacidade de investimento da Prefeitura/Transerp foram a tônica do período.
Aliás, a Transerp, segundo fontes acessadas pelo blog O Calçadão, alega que tem como dívida apenas 3 milhões parcelados com o REFIS em 39 módicas prestações e que conseguiu diminuir o montante da dívida de 13 milhões para os 3 milhões destacados entre 2008 e 2015.
Bom, se a Transerp tem, então, uma situação saudável, cabe a pergunta: porque a capacidade de investimento só foi retomada agora a partir de verbas federais? Porque a cidade não realiza, então, um amplo processo de repavimentação asfáltica? Porque não é possível, então, obras que possam ampliar corredores importantes que se encontram há décadas estrangulados, como a Avenida D. Pedro, por exemplo?
O povo de Ribeirão Preto felicita as verbas federais e acha importante o conjunto de obras que serão feitas (viadutos, pontes e corredores de ônibus). Mas também acha importante recuperar a capacidade investidora do município (para isso é necessário se realizar uma verdadeira auditoria nas finanças locais, com participação popular) e pensar a cidade para o futuro.
É ótimo que um grave erro do passado seja agora corrigido, mas até quando Ribeirão Preto terá um transporte coletivo ruim e que espanta as pessoas? Investir no transporte coletivo como opção de massa (com vários modais interligados por bilhete único) é uma obrigação das administrações futuras, como forma de diminuir os engarrafamentos e poluir menos.
Nos parece que as obras atuais com a verba federal aliviam um sistema obsoleto, é um belo começo e uma ótima política desenvolvida pelo governo Dilma, mas é preciso mais. É preciso uma contribuição maior da própria cidade, de se planejar, pois as atuais obras ainda não alteram o caráter da cidade: feita para automóveis de um ocupante só.
Ricardo Jimenez
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