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sexta-feira, 31 de julho de 2015
Com posicionamentos de Estadista, Dilma isola o golpismo e segue em frente!
Nos últimos dias, Dilma tem dado importantes passos na direção de isolar o movimento golpista iniciado a partir de sua segunda vitória eleitoral (4a do PT) sobre o conluio mídia/tucanato e liderado pela dupla Aécio Neves/Eduardo Cunha.
Apesar de todas as críticas das quais Dilma faz jus, dentre as quais destacam-se a incrível falta de comunicação na aplicação do tal "ajuste Levy" no início do seu mandato e a passividade com que aceitou a mídia ter imposto a versão de que a crise nada tem a ver com a questões internacionais, sendo apenas falhas internas de "um governo incompetente", o que a fez se distanciar de seu eleitorado, é preciso dar a mão à palmatória: a Presidente tem seguido firme em suas convicções e tem obtido vitórias, ainda modestas, mas vitórias.
E são vitórias em duas frentes importantes: na lava jato e na relação com as forças políticas no Congresso e nos Estados.
Sua postura de não interferir e nem se posicionar de maneira firme contra os desmandos da "república do Paraná" (legitimando a conduta de seu Ministro da Justiça), tem dado a Dilma um distanciamento importante para virar o jogo em breve. Isto porque a lava jato se tornou grande demais para que seus condutores consigam direcionar as "investigações" apenas contra o PT. O bico, as asas e as penas de uma certa ave representante de um partido teimam em aparecer com cada vez mais força, e o Cunha tem se enroscado cada vez mais no emaranhado dessas mesmas investigações. Resultado: começa-se a perceber que contra a pessoa de Dilma não há nada e que o PSDB não tem moral nenhuma para ser uma oposição moralista, e isso faz a diferença.
Na relação com as forças políticas, as vitórias começaram com a unidade dos governadores do Nordeste em torno da governabilidade. Isso se desdobrou na reunião de 30 de julho com todos os governadores, em torno do mesmo tema, governabilidade. Isso somado à perda rápida de poder que antes detinha o Cunha, dá a Dilma uma possibilidade imensa de articular com a base congressual. E mesmo os governadores de oposição têm interesse no restabelecimento da normalidade política, porque precisam governar diante da crise.
Há um mês atrás o Ministro Aldo Rebelo já havia sinalizado para esse movimento, o de reconstruir a base. Isso será consolidado no jantar do dia 3 de agosto envolvendo todas as lideranças da base parlamentar no Palácio da Alvorada e na liberação de 1 bilhão em verbas parlamentares. Movimento preciso e necessário.
A reconstrução da base e o diálogo com os governadores é fundamental para se equacionar o movimento golpista dentro do TSE e do TCU. Se há irregularidades no financiamento das campanhas, que é comum a TODOS os partidos, que isto se reflita na reforma política, com a proibição das doações empresariais, e não que se torne instrumento de golpe contra uma Presidente legitimamente eleita! Se há imprecisões na forma como a fazenda pública realiza suas operações financeiras com os bancos públicos, coisa comum aos últimos 6 mandatos presidenciais, que se corrijam as falhas, mas absolutamente se use isso como disputa política para golpear um governo legitimado pelas urnas!
Em todos esses movimentos recentes, ganha Dilma, perde Aécio. Dilma ganha ares de Estadista, de uma líder que jamais saiu de seu papel conciliador e de suas responsabilidades administrativas, mesmo nos momentos mais complicados. Aécio ganha ares de um play boy mimado que brinca com a democracia para fazer disputa interna no seu partido. Ao perder Minas Gerais para o PT e ser derrotado por Dilma em seus domínios, Aécio perdeu força diante de Alckmin e Serra, daí sua obsessão em não deixar a eleição acabar, partindo para o terceiro turno e para o golpe.
Aécio se torna uma figura menor, aliado do Revoltados Online. Triste papel para quem no passado tentou passar a imagem de um novo Tancredo.
Agosto está chegando e com ele o desfecho dessa crise. Dilma fez seus movimentos e sai na frente no enfrentamento do golpismo.
Passado essa fase confusa, é hora de começar a governar de verdade, implementar políticas que de fato reaproximem Dilma de seu eleitorado, recuperando paulatinamente sua popularidade.
A vitória de Dilma é a vitória do projeto nacional, é a vitória do povo brasileiro e da possibilidade de um futuro mais soberano, como disse muito bem o Ministro Mangabeira Unger nessa entrevista aqui ao Conversa Afiada.
Estamos juntos!
Ricardo Jimenez
quarta-feira, 29 de julho de 2015
O Brasil precisa urgente de uma Telesur!
Começo o artigo feliz porque a Globo, a tão soberba Globo, acaba de ter a nota rebaixada pela tal da Standard & Poor´s, a tal agência de risco que a Globo tanto gosta de citar para acusar o governo de incompetente. Para a Globo, o supra-sumo da incompetência é ter a nota rebaixada pela S&P.
E agora, José?
Estamos vivendo um momento delicado da história recente da nossa democracia, mas é também um momento interessante se pensarmos o que pode ser construído após essa confusão toda.
Como eu já afirmei aqui algumas vezes, eu confio na força da nossa democracia pós ditadura.
Como eu já afirmei aqui algumas vezes, eu confio na força da nossa democracia pós ditadura.
A mídia tradicional, apesar de intensificar os ataques contra um governo do qual não gosta, um governo eleito e reeleito 4 vezes pelo povo, acaba por se isolar entre um grupo de pessoas mais reacionárias e que têm pouco gosto para com as regras básicas de democracia. Enquanto isso, e os dados mostram claramente, sua legitimidade despenca sem parar.
Temos um sistema de mídia que nasceu na ditadura e se consolidou em capilaridade nos estertores da própria ditadura e no governo Sarney, quando o Ministério das Comunicações, sob comando de Antônio Carlos Magalhães, distribuiu concessões fazendo a parceria entre os magnatas da mídia e os políticos pelo Brasil afora.
Assim eles dominaram o discurso, o poder da informação e fizeram do povo brasileiro e do Brasil os seus reféns.
Assim eles dominaram o discurso, o poder da informação e fizeram do povo brasileiro e do Brasil os seus reféns.
Essa mesma mídia jamais se desgrudou das tetas do Estado. Mesmo nos governos petistas que tanto combatem. Nos 12 anos de PT, a Globo, por exemplo, levou dos cofres públicos a bagatela de 10 bilhões de reais!
A Veja só sobrevive graças ao governo de São Paulo governado por tucanos, que compram dezenas de milhares de assinaturas e jogam nas escolas e enchem a revista de propagando oficial.
A Veja só sobrevive graças ao governo de São Paulo governado por tucanos, que compram dezenas de milhares de assinaturas e jogam nas escolas e enchem a revista de propagando oficial.
Incapaz de se sustentar por si mesma, a mídia mira no governo central como sua tábua de salvação. Mas Lula e o PT insistem em vencer eleições, então aumenta-se a virulência e o descompromisso com a verdade.
Nos últimos tempos, extrapolam na mentira, na desinformação, na omissão e no jogo anti-democrático. Atualmente a parceria se dá com setores estatais dissidentes dentro da Polícia Federal e no Ministério Público.
Nos últimos tempos, extrapolam na mentira, na desinformação, na omissão e no jogo anti-democrático. Atualmente a parceria se dá com setores estatais dissidentes dentro da Polícia Federal e no Ministério Público.
O país não pode mais ficar refém de um instrumento de mídia desse naipe. O povo não pode ser condenado a só ouvir a opinião deles. As vozes progressistas não podem mais ficar sem ter meios de dialogar com o povo.
A Presidente Dilma criou recentemente o "Dialoga Brasil", na internet. É bom, mas não é suficiente. O Brasil precisa de uma Telesur!
Os meios já existem. Há a EBC criada em 2007 e que conta com a TV Brasil, TV NBR, Rádio Brasil e Portal EBC. Falta é coragem, falta um governante com visão e com responsabilidade social. Falta um nacionalista!
O que o povo não ganharia se a TV Brasil se transformasse numa emissora de massas? Porque não produzir conteúdo nacional e regional pela TV Brasil? Novelas, filmes, minisséries, teleteatro, jornalismo, documentários. Dar voz ao povo no Brasil profundo através de uma emissora estatal!
Porque não transformar o Portal EBC em um grande unificador de conteúdos na internet, conectando blogs e outros portais de notícias e análises políticas e econômicas? Imagina o avanço em se ter essa estrutura de informação aliada a uma política real de implantação de banda larga em todos os cantos do país?
Vamos pegar o caso do Pan-americano, que a Globo e a Veja desprezaram. Que coisa boa seria se uma TV de massas pudesse contar ao povo as histórias incríveis dos atletas que participaram do Pan. Seria uma outra visão, seria educativo, empolgante. Os meninos e meninas do Brasil deram um show no Canadá com suas vitórias no esporte e na vida e o povo não sabe disso!
O que seria do futebol brasileiro se ele pudesse se livrar da CBF e da Globo? Quantos avanços seriam conquistados se uma liga de clubes negociasse diretamente as verbas sem intermediários e respeitando todas as regiões do país? É um crime o que se faz hoje. O nordeste tem apenas 1 time na série A e a região norte só teve o Paysandu e mais nada!
Estamos às vésperas da terceira década do século 21 e ainda buscando construir de fato um país para todos. Estamos ainda sendo reféns de estruturas nascidas em 1964. Estamos condenando milhões às mentiras de uma mídia anti-nacional.
Estamos a procura de um Estadista!
Estamos a procura de um Estadista!
Ricardo Jimenez
sábado, 25 de julho de 2015
Os esqueletos do passado e a greve dos petroleiros!
Esqueleto do passado é a expressão que se usa para definir algo que volta das profundezas de uma realidade insepulta para assombrar o presente, geralmente com intenções reacionárias.
É exatamente isso que tem marcado os tempos presentes: esqueletos insepultos do passado regurgitando suas últimas armas para manter sob seus domínios a República Federativa do Brasil.
A greve dos petroleiros decretada em todo o país contra o PL 131 de José Serra (que retira a Petrobrás dos contratos do pré-sal) é o grito de consciência que deve alcançar os ouvidos dos nacionalistas, dos progressistas, dos Trabalhistas para o momento decisivo que vivemos, e que tem as gigantescas jazidas de petróleo como estopim.
Explico.
O golpe de 1964 contra o Presidente João Goulart, e os 21 anos de ditadura que se seguiram, foi a panela que cozinhou o situação de hoje. De lá vieram dois esqueletos que estão no cerne da questão atual: a mídia monopolizada e o centro político conservador patrimonialista, juntos e misturados.
Ambos dividiram o poder político do pós ditadura. Nos anos de governo Sarney, os magnatas da mídia (criados na ditadura) espalharam suas concessões de rádio e televisão pelo interior do país colocando-as nas mãos de retransmissoras pertencentes aos políticos patrimonialistas saídos da concertação da Nova República, tendo na Lei de Anistia seu maior símbolo e no "centrão" da constituinte o seu resultado mais prático.
Ao não resolver de maneira eficaz e com justiça os crimes da ditadura, mantendo seus instrumentos vivos até hoje, e ao monopolizar a informação nas mãos de meia dúzia de magnatas e seus sócios políticos, o Brasil criou um monstrinho.
Agindo de maneira objetiva, esse grupo de poder político e financeiro foi, nos anos 1990, o sustentáculo dos governos FHC e do desmonte neoliberal. O PSDB, com seu verniz democrático e intelectual, foi o ninho onde se aconchegaram os magnatas da mídia e o "centrão". Eis o braço maior da Casa Grande, que acreditava poder governar o país por 20 anos.
A Companhia Vale do Rio Doce não escapou. A Petrobrás só escapou porque ela tem por trás de si uma história de nacionalismo resistente e porque os danos econômicos provocados pelos 8 anos de tucanato foram tão profundos que o povo reagiu antes e não houve tempo hábil de concretizar os planos.
Lula e o PT cresceram na oposição a esse grupo dominante. São os representantes dos movimentos populares ressurgidos no final dos anos de chumbo e que ocuparam o lugar do Trabalhismo varguista. Eram o contraponto à patranha dominante. Perderam 3 eleições até Lula compreender que precisava fazer alianças à direita. Lula fez seu primeiro mandato sob intensa crise política até entender que precisava fazer uma divisão de poder com o maior e mais pragmático representante do "centrão", o PMDB. Lula governou somente para os mercados até encontrar em alguns aspectos do Trabalhismo a sua marca: os avanços sociais via atuação do Estado.
Foi aí, na opinião deste pequeno blog, que o caldo entornou. Mesmo não rompendo em momento algum com o modelo econômico hegemônico capitalista, ao propiciar a ascensão de amplas massas na sociedade de consumo, Lula, a partir de seu segundo mandato, incomodou a Casa Grande. Seu simbolismo no imaginário popular ficou grande demais. E, para completar o cenário, Lula descobre o pré-sal, nacionaliza-o e faz a sua sucessora. O "mito" Lula e as gigantescas jazidas nas mãos da Petrobrás "petista" era demais para a Casa Grande suportar. O conluio mídia-tucanato, defenestrado do poder central em 2003, não podia conviver mais com isso.
Bingo.
O campo de guerra voltou a se formar. O antigo embate em torno do projeto nacional (ocorrido em 1932, 1954 e 1964) voltou a se armar. Entreguismo vs Nacionalismo, com as nuances e especificidades do tempo, voltam a se enfrentar e a desafiar a saúde da democracia brasileira.
Tudo que vivemos de 2010 para cá (a saber: jornadas de junho de 2013, campanha anti-Copa, investigação na Petrobrás, operações midiáticas com vazamentos seletivos, perseguição contra a imagem de Lula, micaretas coxinha televisionadas e o atual movimento do impeachment conduzido pelo grupo de Aécio Neves e Eduardo Cunha) nada mais é do que parte desse embate maior, fora das regras democráticas, e que em breve terá um desfecho.
A greve dos petroleiros vai direto nesse ponto, politiza o debate, mostra essa realidade e por isso serve do símbolo desse artigo.
Impossível prever o desfecho, mas é possível enxergar que ele passará pela Presidente Dilma. A história é assim, recoloca as pessoas em situações já vividas. Em 1972, a menina Dilma, 21 anos, enfrentava um julgamento militar de cabeça erguida enquanto seus opressores escondiam o rosto, numa foto histórica. Dilma, com sua frase "sou resistente porque sei que uma hora tudo passa", confiou na democracia e na sua dignidade moral para dar a volta por cima e chegar na Presidência. Agora faz o mesmo. De cabeça erguida espera que a nossa democracia pós ditadura seja forte o suficiente para não se quebrar diante dos esqueletos do passado, que podem ser poderosos, mas não passam de anões morais.
Ricardo Jimenez
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Criador da Feira do Livro e Ex-Secretário da Cultura, Galeno Amorim conversa com O Calçadão sobre livros, cultura e política!
Ele criou a Feira do Livro e 80 bibliotecas comunitárias em Ribeirão Preto. Seu sucesso e capacidade o fizeram voar voos mais altos e colaborar com a cultura em nível nacional. De volta à sua terra, Galeno traz consigo as experiências vividas e a vontade de contribuir com o futuro de Ribeirão Preto. Acompanhe a entrevista que ele concedeu para O Calçadão.
O Calçadão- O senhor é cofundador da Árvore de Livros (que foi selecionada pela Fundação Lemann como uma das seis startups de tecnologia que vão ajudar a revolucionar a educação brasileira nesta década) e Diretor Geral do Observatório do Livro. Quais os objetivos desses trabalhos? Há algum trabalho junto a alunos matriculados nas redes públicas de ensino?
Galeno- A Árvore, presente em 600 cidades e em todos os estados brasileiros, está ajudando a alavancar a leitura no Brasil a partir de dispositivos digitais como os celulares, tablets, notebooks e computadores. É utilizado principalmente por adolescentes e jovens e o foco é, sobretudo, alunos das redes públicas. É mais barato e melhora o acesso aos livros (todo o acervo é acessível, por exemplo, a alunos surdos ou cegos). O primeiro piloto foi justamente em Ribeirão Preto, com adolescentes de baixa renda do Complexo Aeroporto. Em alguns lugares, o empréstimo de livros chega a ser oito vezes maior. É verdadeiramente uma revolução na palma da mão! Já o Observatório do Livro e da Leitura desenvolve estudos e pesquisas para tentar fazer melhorar a leitura no Brasil.
O Calçadão- O senhor teve a oportunidade de ter sido Presidente da Fundação Biblioteca Nacional entre 2011 e 2013. Como foi essa experiência? Quais as principais ações que conseguiu implementar?
Galeno- Foi uma experiência fascinante. A Biblioteca Nacional do Brasil é uma das oito mais importantes do mundo, com mais de 8 milhões de livros, fotografias e documentos históricos. É mais velha do que a República e o Senado. Criei, nesse período, a Hemeroteca Brasileira, colocando na internet para os pesquisadores dezenas de jornais e revistas brasileiros até o início do século 20, o que colocou a instituição na era digital e no futuro, sem descuidar do passado. Abri, pela primeira vez em 200 anos, as portas da Biblioteca Nacional nos finais de semana e feriados até para que ela pudesse ser visitada e conhecida pelas pessoas mais pobres, que trabalham durante a semana e não têm como perder dia de serviço para ir até lá. Também viabilizei um acordo financeiro de R$ 32 milhões, a fundo perdido, com o BNDES, para o início imediato das obras de restauro e construção de uma segunda sede da Biblioteca Nacional, deixando dinheiro em caixa para meu sucessor. Como nesse período a Fundação passou a responder pelas políticas do livro e leitura, implantei o Programa do Livro Popular (até R$ 10,00), criei também um programa que, pela primeira vez na história do Brasil, beneficiou diretamente milhares de bibliotecas em todas as regiões do país. Uma das ações de grande impacto dentro e fora do Brasil foi o Programa de Internacionalização da Literatura Brasileira, com um programa intenso de bolsas de tradução, intercâmbio de tradutores e homenagens ao Brasil e sua literatura nos principais eventos literários do mundo.
O Calçadão- O senhor foi o criador da Feira do Livro de Ribeirão Preto, junto com o Prefeito Palocci, em 2001. De onde surgiu a ideia? Como foi o processo de implementação do projeto?
Galeno- Fazer uma boa Feira do Livro em Ribeirão Preto era tanto um sonho meu quanto do Palocci. A grande façanha foi ter conseguido mostrar às pessoas que era um sonho possível e fazê-las não só acreditar quanto se envolver e se mobilizar para que desse certo. Deu certo! As pessoas precisam e querem ter esperança e participar de ações coletivas para tornar melhor, e com mais sentido, sua vida e a vida da comunidade em que vivem. Foram feitas articulações em nível nacional e estadual, e com as editoras, livrarias e autores, mas também as lideranças da cidade e região, de forma bem republicana. Cada um, e todos, sempre se sentiram um pouquinho donos da Feira, e, sem dúvida, essa é a raiz do sucesso e motivo pelo qual a sociedade abraçou a Feira. Também foi apropriado, entre o terceiro e quarto ano de governo, ter estimulado e ajudado a formar a Fundação Feira do Livro, com figuras de todos os setores, inclusive sociais e políticos, que tinham em comum o fato de gostar e defender a continuidade da Feira. Não fosse isso, ela não teria chegado até aqui.
O Calçadão- 15 anos depois, qual o balanço que o senhor faz do evento? Nos últimos anos o debate em torno da Feira se fez com relação aos tumultos causados pelos shows realizados na Esplanada. Qual sua opinião sobre isso?
Galeno- Um evento cultural dessa proporção e grandeza vive, necessariamente, de acertos e erros, até firmar-se. E os ajustes vão sendo feitos o tempo todo, até que se encontre o caminho mais adequado. Ela é uma feira de livro relativamente nova, que fará 15 anos em 2016 (a primeira aconteceu em 2001), uma adolescente em formação se comparada, por exemplo, com a cinquentenária Feira do Livro de Porto Alegre, a maior do país a céu aberto. O formato de 2015 me parece mais adequado. Leitura requer introspecção.
O Calçadão- O senhor foi Secretário da Cultura de Ribeirão Preto. A partir da sua experiência, o que pensa sobre o ambiente cultural da cidade? É possível sonhar em desenvolver uma política cultural que inclua as amplas massas, que inclua a periferia da cidade, que valorize todos os tipos de expressão cultural, mesmo com toda a dificuldade econômica que é uma característica sempre presente nos discursos?
Galeno- Sim. É possível sonhar e fazer. Quando fui Secretário, um dos programas que criei foi o de Descentralização, que começou pela construção de centros culturais nos bairros e foi além, a partir do entendimento de que são as pessoas e a comunidade que fazem cultura, seja em suas casas, em seus locais de trabalho, em suas práticas religiosas ou no espaço público. Inaugurei o Centro Cultural Campos Elíseos, o Centro Cultural Quintino II, o Centro Cultural Bambas, o Centro Cultural Embaixadores e a quadra da Escola de Samba Tradição. Mas sem relegar outras áreas. Foi na minha gestão, por exemplo, o início do restauro do Centro Cultural Palace. Reformulei o Conselho Municipal de Cultura para dar representação à cultura negra e japonesa, ao hip hop e outras formas de manifestação das periferias. Ouvindo toda a cidade, criamos a primeira Política Pública de Cultura de Ribeirão Preto, que contempla exatamente a criação, a fruição e a inclusão ampla das massas a partir de uma visão que valoriza todo tipo de expressão cultural.
O Calçadão- No mesmo período em que o senhor foi Secretário da Cultura, o senhor teve a felicidade de criar um belo projeto de disseminação de bibliotecas pelos bairros da cidade, nos sindicatos e em diversos outros lugares onde a comunidade se organizasse para isso. As administrações seguintes não deram sequência ao projeto?
Galeno- Em pouco mais de três anos, aumentamos de 2 para 9,7 livros lidos por habitante/ano, que é cinco vezes mais que a média nacional. Desde então, cresceu de forma extraordinária a quantidade e a qualidade de nossos autores locais. Junto com a Feira do Livro, as 80 bibliotecas abertas durante nosso governo foram o sustentáculo dessa pequena revolução que encantou os literatos do Brasil e levou o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, a me convidar para formular e coordenar a criação do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), juntando MEC e MinC e outros ministérios, instituições e pessoas físicas numa jornada incrível. Em 2005, Ano Ibero-americano da Leitura, fizemos 100 mil ações no País para aumentar a leitura. Quando retornei à cidade, anos depois, a grande maioria delas fora fechada. Os agentes mediadores de leitura foram demitidos, os livros foram tomados de volta pela Prefeitura e muitos desses locais - criados pela nossa Fábrica de Bibliotecas e resultado de mobilizações populares em reuniões do Orçamento Participativo – estavam fechados.
O Calçadão- Como nos ensinou Fernando Pessoa, por mais que caminhemos pelo mundo, nossos pés sempre estarão fincados em nossa aldeia. Como foi voltar a Ribeirão Preto depois de algum tempo vivendo fora?
Galeno- Primeiro, foi o susto de ver a cidade esburacada, a Prefeitura de umas cidades mais ricas do País simplesmente quebrada, o município perdendo as oportunidades que batem a sua porta e as pessoas tristes, mas, sobretudo, desesperançadas. Isso é o pior de tudo. Após a indignação, imediatamente o coração chama à razão e avisa que, seja lá como for, cada qual tem que fazer alguma coisa – por menor que seja – para ajudar a cidade virar esse jogo. Ela é forte, é dinâmica, é viva, só está sem rumo e sem projeto. Rapidamente, fiz minha religação com a cidade – onde, mesmo morando longe, sempre estive presente e é onde estão minha família, meus amigos e muitos dos meus parceiros da causa do livro e da leitura. Eu abri mão do carro, vou trabalhar a pé, ando de bicicleta, pego o ônibus urbano – a partir dessa perspectiva se enxerga uma outra cidade, para o bem e para o mal, já que os problemas e a ausência de políticas públicas inclusivas e populares ganham outra dimensão.
O Calçadão- No ano que vem teremos eleições municipais. As discussões em torno disso já se iniciaram. Na sua opinião, os debates de propostas, de projeto de cidade se encontram empobrecidos? Como o seu partido, o PT, está se organizando para 2016? Como uma liderança intelectual e política de Ribeirão Preto, seu nome surge naturalmente no quadro de candidaturas, o que pensa disso?
Galeno- Não vi até agora, infelizmente, nenhuma discussão sobre projetos. Tudo gira em torno de nomes, ambições políticas ou pessoais e... projeto que é bom, nada! Isso é pobre demais. Mesmo porque Ribeirão tem cabeças formidáveis, tem histórias de vida e de trabalho realmente fantásticas, e reúne todas as condições de se tornar um grande laboratório de ideias e gestões inovadoras, como aconteceu durante os dois governos petistas na cidade, quando Ribeirão virou vitrine de experiências bem sucedidas que foram reproduzidas e multiplicadas pelo país afora. O PT em Ribeirão tem aproveitado o momento para reorganizar seus setoriais, reagrupar suas bases e retomar com mais força seu diálogo com os setores da sociedade que mais precisam e mais clamam por políticas públicas de qualidade. Os candidatos naturais do partido à Prefeitura são, evidentemente, nossos dois vereadores, com seus históricos de serviços a favor da população que mais necessita. Mas é natural que apareçam também outros nomes. As pessoas não querem só mudar. Querem líderes estadistas e republicanos que sejam capazes de apresentar grandes projetos, envolver as pessoas em torno de si, devolver o sonho e a esperança coletiva e mostrar que são capazes de levá-los adiante.
Galeno Amorim
Diretor Geral
terça-feira, 21 de julho de 2015
Quanto tempo um tucano resistiria se a mídia fizesse com algum deles o que faz com Lula?
A pergunta do título do artigo faz todo o sentido, afinal, eu acredito que os tucanos só se sustentam na a sua empáfia porque são protegidos pela mídia e porque, além da proteção, ainda contam com os ataques da mesma mídia contra o seu principal adversário, o PT.
A reeleição de Dilma em 2014 e a real possibilidade da volta de Lula em 2018 deu a louca na oposição e na mídia. Partem para o golpe de maneira explícita contra o mandato conferido a Dilma por 54 milhões de brasileiros e partem enfurecidos para cima da imagem e do legado do ex-Presidente.
O tema Petrobrás, repetido à exaustão pela mídia há 2 anos, serve para tentar enfraquecer o governo Dilma, claro, mas serve muito mais para atingir Lula, pois ele é o símbolo da nova fase da Petrobrás e da descoberta do Pré-sal.
Lula é de fato uma figura ímpar. Há 5 anos ele não conta com nenhum canal de comunicação na grande imprensa. Há 5 anos sua imagem é bombardeada diuturnamente na mídia monopolizada. Há 5 anos que seus prêmios internacionais não são divulgados na grande mídia. E, mesmo assim, permanece a sua liderança, capaz de influir na última eleição e ser o esteio por onde Dilma construiu sua histórica vitória sobre o conluio mídia-tucanato.
Lula é formidável e sua imagem está associada ao povo. As pseudo-denúncias contra ele são ridículas. No que se baseiam? No fato de Lula, como liderança política mundial, fazer palestra e levar o nome do Brasil ao mundo?
Imagine você se por uma semana a grande imprensa resolvesse, por milagre, inverter o jogo e se dedicar a denunciar tucanos, qualquer um deles. Eles resistiriam? Seriam como Lula? Jamais!
Imagine se a grande mídia com seu poder financeiro resolvesse vascular à fundo o helicóptero de 500kg de coca? Imagine se os repórteres fizessem uma devassa no aeroporto de Cláudio e tudo que o envolve? Imagine se fosse levada a cabo uma investigação sobre a relação da irmã do ex-governador carioca de Minas com a imprensa local? Imagine se os meandros do mensalão tucano viessem à tona? Imagine se a lista de furnas fosse devassada? E a operação Castelo de Areia? Imagine se a relação de FHC com as multinacionais no processo de privatização fosse de fato investigada?
Não fiquemos somente nos escândalos. Vamos comparar capacidade administrativa. Imagine se a imprensa fizesse a sério um comparativo entre o período FHC e os períodos Lula e Dilma, em qualquer setor. Imagine se os governos tucanos em São Paulo fossem analisados com lupa? O caso da SABESP, por exemplo.
Qual tucano seria capaz de sobreviver a esta semana imaginária como Lula sobrevive há 5 anos? Fica o desafio?
Ricardo Jimenez
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Os conspiradores de republiqueta e o baixo nível dos tucanos
A República brasileira do século 21, mas ainda repleta de necessidades do século 20 e até do século 19, sofre solavancos advindos de 4 vitórias consecutivas do petismo que, mesmo sem romper com as amarras do tal de mercado e fazendo governos onde os bancos nadam em lucros, incomoda muito a Casa Grande pelo simples fato de que propicia com suas políticas sociais a subida na vida dos pobres que passaram a dividir a poltrona de avião com os ricos.
A elite brasileira e seus asseclas na política, no judiciário e na mídia odeiam o povo. Povo? Eles nem sabem que isto existe dentro de seus elevadores privativos e nas suas salas VIP.
A pústula do ódio estourou quando Dilma venceu as eleições de 2014, contra a vontade do "imortal" colunista da Globo e daquela gerente do Santander. A pústula vaza e arrasta consigo o verniz democrático que alguns falsamente carregavam, outros nem tanto.
A reunião conspiratória realizada na residência oficial da Presidência da Câmara dos Deputados entre o ex-assessor do PC Farias, o ministro do STF que dá habbeas corpus a banqueiro amigo e o dirigente de uma central sindical que defende terceirização é o exemplo claro de que esses senhores creem que vivem em uma republiqueta de bananas. Conspirar contra a Chefe da nação é golpe! É crime!
Tivesse o governo um Ministro da Justiça de verdade já haveria uma reação à altura desse crime de traição.
Outro grupo que vai sendo levado pelo pus que vaza da pústula do ódio é o PSDB. O baixo nível tomou conta. Não bastasse um ex-sociólogo octogenário rasgar sua biografia de democrata por inveja e despeito a um torneiro mecânico, agora seu instituto de "pensadores", o Teotônio Vilela, passa a imitar o vocabulário do Revoltados Online e num editorial diz claramente que nas denúncias contra o ex-presidente há "nove digitais".
Que partido de oposição é esse? Que nível é esse? Como podem querer se colocar como projeto alternativo dessa forma?
Compartilho aqui o artigo de Ricardo Mello que trata muito melhor do que eu sobre os conspiradores de republiqueta.
Ricardo Jimenez
Conspiração não entra em recesso
Ricardo Mello, na Folha
Esta Folha (14/07) noticiou um fato da maior gravidade. Na residência oficial da Presidência da Câmara dos Deputados, o chefe da Casa, Eduardo Cunha, dividiu o “breakfast” com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o impagável Paulinho da Força, do partido Solidariedade. Além de guloseimas habituais, constou do cardápio nada menos que o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Boquirroto como sempre, Gilmar confirmou o debate sobre o assunto. “Ele [Cunha] falou dos problemas de impeachment, esses cenários todos”. Perguntados pela reportagem, Paulinho da Força e o presidente da Câmara tergiversaram, sem convencer. O texto afirma que o deputado do Solidariedade especulou que a derrubada da presidente (pois é disso que se trata) supõe um acordo entre Eduardo Cunha, o vice Michel Temer, Renan Calheiros, chefe do Senado, e o presidente do PSDB, Aécio Neves.
Se isto não é conspiração, é bom tirar a palavra do dicionário. Que diabo pode representar a reunião entre o terceiro nome da linha de sucessão do Planalto, um ministro da mais alta corte da Justiça e um parlamentar adversário obsessivo do governo –os três para discutir a deposição de uma presidente eleita?
A qualidade dos interlocutores dissipa dúvidas. A capivara é geral. O presidente da Câmara, de currículo mais do que suspeito, foi acusado de embolsar milhões de dólares em negociatas. O ministro Gilmar, dono de um prontuário de atitudes controversas, é conhecido por travar o fim do financiamento empresarial nas eleições.
A presença de Paulinho da Força mostra-se tão exótica quanto reveladora. Exótica porque se desconhece, pelo menos em público, qual credencial do insignificante Solidariedade para participar no colóquio. A contribuição mais relevante da legenda vem sendo a de responder “impeachment” a qualquer questão do cenário político.
Reveladora quando se sabe que o ex-sindicalista protagoniza vários processos e membros do seu grupo estão enrolados até o pescoço na Lava Jato. Detalhe: o partido destacou-se como o único a soltar nota de solidariedade, sem trocadilho, ao pronunciamento destemperado de Eduardo Cunha após ser acusado de beneficiário da corrupção. Nem a legenda dele, PMDB, atreveu-se a tanto.
Nesse clima, nenhum recesso parlamentar coloca tropas em descanso. A coisa é bem maior. Na verdade, a conspiração sempre prefere trabalhar à sorrelfa. Limites constitucionais, veleidades jurídicas e direitos elementares mais atrapalham do que ajudam num cenário de vale tudo.
As denúncias contra o ex-presidente Lula trazem novo exemplo. Vão das baixarias das “nove digitais” esgrimidas num documento tucano até acusações de… ajudar a expandir negócios do Brasil no exterior quando já havia deixado o cargo público! Por causa disso, Lula virou alvo de ação estimulada por um procurador notório pela campanha nas redes sociais contra o PT; e por outro que tem mais de 200 ocorrências de negligência no exercício da função. Já a fundamentação judicial nem zero tiraria em redação de vestibular.
Quem vai assumir a responsabilidade por tanta irresponsabilidade? A sensação é a de um conjunto de forças sem liderança. Sua única bandeira parece ser Delenda est PT. Em torno dela, cada um opera a seu bel prazer –Sergio Moro, Rodrigo Janot, procuradores excitados, Polícia Federal desgovernada, parlamentares paroquiais– tudo isso diante de um governo entre atônito e preocupado, mas sem iniciativa face à degradação das condições de vida da maioria. Cabe lembrar: nem sempre do caos nasce a ordem.
domingo, 19 de julho de 2015
O Calçadão: 7 meses!
Sete meses no ar. 1800 visualizações únicas, 12 mil visualizações gerais, 730 curtidas na fã page do facebook.
Em frente!
Equipe O Calçadão
Em frente!
Equipe O Calçadão
Na luta desde os 15 anos, Sílvia Diogo fala sobre a ONG Casa da Mulher e a luta feminista em Ribeirão Preto!
Ela milita desde os 15 anos e agora atua junto à ONG Casa da Mulher prestando assistência às mulheres em situação de risco e buscando colocar o debate dos direitos das mulheres na ordem do dia da política nacional e, principalmente, municipal. Acompanhe a entrevista que ela concedeu para O Calçadão.
O Calçadão : Você é uma liderança feminina na cidade lutando em defesa dos direitos sociais e agora atuando na defesa dos direitos das mulheres, notadamente da mulher negra. Há quanto tempo você milita? A luta ainda te entusiasma?
Sílvia: Comecei a militar com 15 anos na Pastoral da Juventude e prossegui na luta. Atualmente atuo junto ao movimento de mulheres e junto à ONG Casa da Mulher. Ainda me entusiasmo muito pois acredito que a luta não é só minha e, sim, de todos aqueles que se inserem nela, principalmente a população negra. Ainda enfrentamos um sistema educacional discriminatório e racista que condiciona boa parte da população negra ao fracasso escolar, que combinado com a marginalização e a pobreza, gera uma realidade muito ruim, que exclui essa população do gozo dos direitos humanos, do exercício da cidadania e da possibilidade de participação econômica, social, cultural e política. Continuo acreditando que só a organização do povo pode transformar a realidade.
O Calçadão: Estamos vivendo um momento político onde um discurso ultra-conservador e retrógrado que nasceu nas ruas com a liderança de pastores e políticos oportunistas, foi reverberado em uma mídia monopolizada e reflete dentro do Congresso Nacional. Você considera que os avanços que foram conquistados nos últimos anos, notadamente em relação aos direitos das mulheres, correm algum risco?
Sílvia: Se a sociedade e o movimento civil organizado não se atentar para esta realidade, conquistas históricas, que foram conquistadas até com derramamento de sangue, podem sim sofrer um retrocesso. Com relação às mulheres, quantas de nós já não morreram por não terem no passado a legislação adequada e os instrumentos de Estado que a protegessem? Nos últimos anos, dos governos Lula e Dilma, as conquistas foram grandes: a criação da Secretaria de Política para Mulheres em 2004, a Lei Maria da Penha em 2006, a Lei do Feminicídio votada no governo Dilma, a regulamentação do trabalho da empregadas domésticas, a garantia de aposentadoria para mulheres donas de casa com mais de 65 anos, votada no governo Lula, enfim. Mas a situação ainda é difícil, principalmente para as mulheres negras, cuja a condição não se limita à questão da igualdade de gênero, mas avança para a questão da discriminação racial. É uma discriminação que se manifesta no âmbito familiar, social e político. Os dados mostram a condição de fragilidade que este espectro da sociedade tem. Portanto, a luta pela organização social e política das mulheres negras é fundamental para buscar mais avanços e a reversão desse quadro de opressão.
O Calçadão: Como funciona o projeto da ONG Casa da Mulher? Qual o seu foco de atuação?
Sílvia: A ONG Casa da Mulher já existe há vários anos e seu enfoque é, claro, a questão da mulher, mas também engloba a questão racial e LGBT. A Casa da Mulher é uma ONG feminista, criada no ano 2000 para atuar junto às mulheres em sua organização, e também para acolher as mulheres em situação de risco, com relação à violência. A ideia que motivou sua criação era a de estabelecer um espaço de diálogo e compreensão da necessidade da luta feminista diante dos problemas enfrentados. Fazemos reuniões, oficinas e visitas em diversos bairros nos envolvendo nos mais variados temas, principalmente na questão da violência doméstica, seja ela física, psicológica, moral etc. Temos parceria com a Defensoria Pública, com a Delegacia da Mulher, com a Secretaria da Saúde, com o SEAVIDAS (Serviço de Atendimento à Violência Doméstica e Agressão Sexual do HC) e com Conselhos Tutelares. Mas também estamos envolvidas em outras questões políticas de importância, como na luta contra a redução da maioridade penal, contra o projeto de terceirizações trabalhistas, contra os aumentos abusivos na tarifa do transporte coletivo e no salário de vereadores, na luta pela moradia junto com os companheiros dos movimentos por moradia em Ribeirão Preto, que são causas onde as mulheres devem estar incluídas.
O Calçadão: Apesar dos inegáveis avanços dos últimos anos, ainda somos um país muito desigual. Dados mostram que de todas as faixas pesquisadas, a mais vulnerável à violência, à pobreza e à discriminação é a que envolve a mulher negra. Na sua opinião, há como reverter este quadro?
Sílvia: Sim, acredito. Mas a luta é árdua e requer organização para se atuar em várias frentes: na educação com o aprofundamento das políticas afirmativas que coloquem a população negra na universidade, na saúde com políticas públicas que deem prioridade à mulher, na assistência social etc. No que diz respeito à Assistência Social, defendemos que se viabilize de fato o SUAS (Sistema Único de Assistência Social), para que suas raízes atinjam a população mais necessitada. A sensação que se tem é a de que nesse país as legislações e os instrumentos de Estado nunca são feitos para funcionar como se deve e aí a população fica refém de discursos pessimistas e de oportunistas que agem para desconstruir as lutas por avanços sociais, vide a questão do ECA, por exemplo.
O Calçadão: O movimento de mulheres que você representa participará de alguma forma dos debates políticos e eleitorais do ano que vem? Vocês apresentarão uma pauta para os debates?
Sílvia: Nós da ONG sempre estivemos participando e propondo debates políticos na cidade, independente ou não de ano eleitoral. Mas é importante que nós juntamente com os outros movimentos sociais levemos as nossas pautas e as nossas propostas para o debate eleitoral de 2016. Além de todas as pautas políticas que debatemos nas respostas acima, nossa ONG vai levar ao debate esses temas: Criação do Centro de Referência e Atendimento às Mulheres que Sofrem Violência, mais ofertas de cursos públicos que objetivem capacitar a mulher para o mercado de trabalho, políticas públicas de acompanhamento e apoio às mulheres que estão privadas de liberdade ou egressas do sistema prisional, maior participação da mulher nos cargos de comando do Poder Executivo entre outros.
sábado, 18 de julho de 2015
Apoio a Eduardo Cunha revela: MBL e Revoltados Online não falam a língua do jovem da periferia, do jovem trabalhador, do jovem negro!
Essa já era uma percepção bastante clara mesmo antes das denúncias graves que atingiram o atual Presidente da Câmara dos Deputados.
Senão, vejamos. Quais as pautas defendidas por Eduardo Cunha? Redução da maioridade penal, constitucionalização de doações empresariais para campanhas eleitorais, terceirização trabalhista, o malfadado estatuto da família, a oposição ferrenha ao Marco Civil da Internet e por aí vai.
À estas pautas "cunhistas" se somam todas as outras que são claramente defendidas pelos movimentos citados no título do artigo: são contra as políticas afirmativas (como as cotas para negros), são contra as políticas de distribuição de renda (como o bolsa família), são contra as políticas de subsídio à educação superior, contra as pautas LGBT, atuam para restringir a liberdade de cátedra dos professores e defendem privatizações amplas e irrestritas como a da Petrobrás, em uma defesa falaciosa de um tal de "estado mínimo" em nome de um outro tal de "liberalismo econômico" aliado com um "conservadorismo nos costumes".
Bom, "conservadorismo nos costumes", com todas as controvérsias históricas e literárias que o tema do moralismo enseja, existe de fato, assim como o "estado mínimo". Agora, "liberalismo econômico" é algo tão abstrato quanto cabeça de bacalhau. O mundo nunca foi liberal na economia. A história demonstra uma constante batalha nesse campo, assim como em todos os outros, onde quem tem mais poder se impõe ao outro. Tirando um breve período, entre 1945 e 1973, onde o Estado do Bem Estar Social cresceu, todo o restante da história do capitalismo é de imposição do poder do capital cartelizado sobre os interesses das pessoas. Quem fala em "liberalismo econômico" geralmente fala a língua dos poderosos.
Logo, o discurso propagado por tais "movimentos" sempre foi falacioso e propositalmente enganoso, mas agora, após as denúncias contra Cunha, ele se torna incoerente e perverso.
Quer dizer que os crimes de Cunha são aceitáveis em nome de um tal de "anti-petismo"? Para combater o que chamam de "bolivarianismo" serve se aliar a qualquer um? Quer dizer que Capa da Veja só serve para o PT? Que posicionamento é esse?
Vexame total!
Vexame total!
Na verdade, MBL e Revoltados Online são o caldo reacionário, atrasado e maquiavélico que restou das jornadas de junho de 2013 após a Globo conseguir transformar o sentido daquelas manifestações. 15 de março, 12 de abril e 16 de agosto são as datas onde o monstrinho midiático desfila em suas micaretas com a camisa da Nike, servindo de costela de atuação da Casa Grande, a quem Cunha serve até a medula.
Ao jovem da periferia, ao jovem trabalhador, ao jovem negro interessam outras pautas. Interessam as pautas que promovam a construção, consolidação e avanço de políticas públicas que propiciem educação, informação, liberdade, inclusão. À esses jovens interessa o diálogo franco, honesto, aberto, racional. Interessa o hip hop, o rap, a dança, a integração de cores, a poesia, a camaradagem, a honestidade.
O jovem que sonha com um país melhor deve se associar à força do povo trabalhador na construção de um projeto nacional de desenvolvimento, que coloque as forças do Estado e da sociedade na luta pela redução das enormes desigualdades sociais que assolam este país continental de 200 milhões de pessoas. O jovem deve rejeitar qualquer tipo de mal feito, venha de onde vier, e defender a investigação ampla de todos. O jovem deve defender um país onde os instrumentos de mídia sejam democratizados e onde a internet livre alcance todos os lugares e onde a escola seja um local para viver e conviver na diversidade e na melhoria pessoal de cada um como ser humano.
Vivemos, com todos os erros e insuficiências, um período recente onde bem ou mal houve uma expansão dos instrumentos de Estado, na educação, na moradia, na distribuição de renda, e milhões puderam acessar o mercado consumidor e conquistar um emprego. Regiões como a Norte e Nordeste experimentaram um avanço pela primeira vez na história em relação ao centro-sul. Esse é o caminho, mesmo que para continuar a segui-lo seja necessário corrigir rumos, doa a quem doer.
É contra isso que atuam Cunha, MBL, Revoltados e et caterva. Todos irmanados na famosa frase recente do candidato mineiro-carioca derrotado nas eleições: "somos a verdadeira oposição ao Brasil!". O jovem brasileiro não merece isso.
Que toda essa crise política sirva para novamente separar o joio do trigo, sirva para abrir os olhos de muitos para as manipulações de uma mídia monopolizada e sirva para reaproximar os movimentos sociais dos jovens para que possamos vencer essa ceara de terror e avançar na construção de um país para todos.
Ricardo Jimenez
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Se é oposição, que perca todos os cargos no governo, todos!
Se o "reizinho" está bravo porque foi delatado lá na investigação anti-petista no Paraná é problema dele, mas se teve o topete de se declarar em entrevista coletiva que é oposição, então o problema é do governo.
Que se retire todos os cargos que ele tem no governo. Todos!
Independente de qualquer análise política sobre o significado tanto da delação quanto do chilique do "reizinho", cabe ao governo acertar os ponteiros com o seu maior parceiro, o PMDB. Sem perda de tempo!
Já disse aqui que a tal Lava "carro" serve desde o período pré-eleitoral para desgaste do governo visando a sua derrota (antes da eleição) e a sua queda (agora). Mas a lama é tanta que nem mesmo o tal juiz que recebeu prêmio da Globo consegue limitar a lama no seu alvo, o PT. Ela espirra para todo lado, inclusive no "reizinho" e em alguns pássaros de bico longo.
De todas as crises atuais, a mais grave é a desorganização na base de apoio no Congresso. Sem uma base, o governo fica refém dos canalhas e acaba sendo pressionado, por exemplo, com essa patuscada do TCU em relação às suas contas. Com uma base, isto desaparece. Até porque a prática contábil vem desde FHC e no caso do governo Dilma foi para dar sustentação nas políticas sociais.
A hora de atuar para reconstruir a base é agora, inclusive dividindo poder, que é algo inexorável.
Defender a continuidade do governo é fundamental, mesmo com todos os seus erros, que são muitos, pois do contrário teremos Aécio e Cunha no comando e um retrocesso de décadas nas lutas dos trabalhadores e na construção do tão sonhado projeto nacional de desenvolvimento.
Continuo apostando na força da democracia pós ditadura e continuo apostando que no fim de tudo Dilminha continuará magra e governando para homens e mulheres sapiens do Brasil.
Que venha o Cunha! Estamos prontos!
Ricardo Jimenez
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Ex-Secretária da Educação, Professora Elza Rossi, fala sobre o PME com O Calçadão!
A professora Elza Rossi, ex-Secretária da Educação em 2003, fala com o Blog O Calçadão sobre os debates que envolvem a elaboração do Plano Municipal de Educação. Para a professora, o plano pode representar um avanço no que diz respeito à implantação da gestão democrática na rede de ensino e nas escolas, dando mais voz aos professores e à comunidade local.
Acompanhe a entrevista:
Acompanhe a entrevista:
O Calçadão: O que é o Plano Municipal de Educação?
Elza: O Plano Municipal de Educação é o documento oficial que vai assegurar que o Município cumpra as determinações garantidas no PEE (Plano Estadual de Educação) e no PNE (Plano Nacional de Educação) pelos próximos 10 anos, buscando alcançar uma educação de qualidade coerente com os princípios e diretrizes do PNE/2014. É um instrumento legal e também fruto da mobilização da sociedade.
O Calçadão: Como foi a sua elaboração e quais os seus principais tópicos?
Elza: No ano de 2007 , a cidade de Ribeirão Preto se envolveu em um grande movimento para formular um plano de educação para aquele período. Depois de muita discussão e aprovação pelo Conselho Municipal de Educação, o plano ficou guardado e nunca foi encaminhado à Câmara Municipal para análise e votação. Hoje o contexto histórico é outro e embora a legislação tenha mudado, aquilo que foi debatido em 2007 ajudou na reafirmação de alguns pontos. Participei das plenárias realizadas e, no final, foram aprovadas medidas que representam avanços para os alunos, professores e o sistema de ensino como um todo. É bom lembrar que o Plano não é apenas para a Rede Municipal de Ensino. Ele abrange a Rede Estadual e a Rede Privada. O Plano possui vinte metas que abrangem o ensino Básico e o ensino Superior. As metas 15 a 18 tratam da valorização do Magistério, a meta 19 trata da Gestão Democrática e a meta 20 trata do financiamento da educação.
O Calçadão: Na sua opinião, as plenárias que antecederam a elaboração do documento tiveram boa participação popular?
Elza: Segundo a minha avaliação, em 2007 houve um envolvimento muito maior da sociedade. Acho que poderia ter tido uma divulgação melhor e mais ampla, garantindo maior representatividade dos movimentos sociais, dos estudantes, ou seja, da cidade como um todo, pois Educação é uma política pública que interessa a todos.
O Calçadão: Hoje as propostas mais progressistas da sociedade estão enfrentando uma resistência de setores conservadores e fundamentalistas, inclusive com respaldo no Congresso Nacional. Nas plenárias do PME houve esse embate de ideias?
Elza: Nas plenárias houve, sim, debate sobre pontos polêmicos que exigiram muita discussão , principalmente a meta dezenove que assegura o prazo de dois anos para a efetivação da gestão democrática na educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública junto a comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto.
O Calçadão: É possível o município avançar para a eleição direta de diretores pela comunidade escolar? Quais os ganhos que a educação municipal terá com isso?
Elza: Conforme dito acima, a meta dezenove assegura condições , no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão democrática. Este passo com certeza representa um avanço muito grande, pois dará à comunidade a oportunidade de optar pela escolha de alguém que se identifique com a escola, com seus professores, funcionários e com a comunidade, alunos e pais. O CME (Conselho Municipal de Educação) deverá regulamentar a medida e critérios serão discutidos para que esta escolha se efetive . O importante é que a medida dará oportunidade aos docentes que têm raízes com aquela comunidade escolar e, principalmente, que esta escolha deixe de se dar por critérios estritamente políticos e passe a dar valor ao critério pedagógico.
O Calçadão: Como a senhora enxerga essa questão de igualdade e identidade de gênero? É uma discussão válida a se discutir ou isso pode ser apenas um viés encontrado para deixar de lado questões mais importantes como o financiamento da Educação e a gestão democrática?
Elza: Os Planos Municipais de Educação podem abordar as questões relacionadas à igualdade e identidade de gênero como forma de combater a exclusão escolar, promover a inclusão e de garantir o direito à educação para todas as pessoas. A abordagem deste tema é importante tanto para o combate à violência e às desigualdades quanto para o cumprimento de leis e tratados internacionais já assinados pelo Estado Brasileiro.
O Calçadão: Os bairros populares sofrem com a falta de creches. O PME aborda esse tema? Quais as propostas?
Elza: A Educação Infantil, que atende as crianças de zero até cinco anos de idade, é de responsabilidade do Município. Essa obrigação legal tem feito com que os governantes se preocupem com a demanda existente nesta faixa etária. A partir de 5 de abril de 2013, por Lei Federal, é oficializada a obrigatoriedade dos pais matricularem seus filhos de 4 anos nesta etapa de ensino. Em Ribeirão Preto há uma demanda potencial de 500 crianças nesta faixa etária que hoje estão fora da escola. Em 2016 todas deverão estar matriculadas. Quanto às creches , até por necessidade de trabalho dos pais, muitos têm necessidade de deixarem seus filhos em lugar seguro e fazem opção pela creche. Os municípios tentam ampliar o número de vagas construindo novas unidades, contratando pessoal habilitado e mobilizando suas escolas para oferecer um ensino de qualidade a estas crianças que têm direito subjetivo de serem bem atendidas. O governo federal também se envolve com programas para esta faixa etária custeando a construção de novas unidades. O Plano Municipal de Educação prevê que em 10 anos o deficit de vagas em creche seja zerado. Portanto, a partir da legislação e da mobilização da sociedade, Ribeirão Preto deverá atender esta demanda antes dos 10 anos.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Ribeirão 2016: vem aí uma campanha pra coxinha nenhum botar defeito!
Religiosos "moralistas", delegados "linha dura", conservadores de última hora e oportunistas de todo tipo estão se preparando para a campanha eleitoral em Ribeirão Preto.
O marketing político não dá ponto sem nó. Redução da maioridade penal, estatuto da família, terceirizações e muito, mas muito discurso conservador com cara de mistura entre comentários do UOL e programa do Datena. Se preparem, 2016 vem aí na califórnia brasileira.
Para os que ainda duvidam, basta ver o tom do chamado"jornalismo local". É anti-política pura. Aqui foi o cadinho da misoginia explícita contra uma candidata e uma Prefeita. Sem julgar o mérito de sua administração, à qual O Calçadão considera ruim sem jogar todo o peso da responsabilidade nas costas de Dárcy (leiam nossa opinião aqui, aqui e aqui), a Prefeita foi e é desrespeitada todos os dias nos órgãos de "imprensa" e nas ruas, algo que se iniciou antes da onda misógina anti-Dilma que agora está na moda.
O debate vai ser pautado pelo discurso anti-violência. "Guarda Municipal armada!", bradará um. "Mais polícia nas ruas!", bradará outro. "Segurança nos bairros", gritará um outro. E ainda certamente virão: "Ética na política!" e, certamente, "Fora PT!". Sabemos que a guarda municipal armada, a polícia nas ruas e a segurança nos bairros não inclui a periferia, que continuará de fora dos planos, olhada por eles apenas como um lugar de onde brotam os bandidos. E também sabemos que o grito puritano de ética na política na boca de alguns é de fazer arrepiar qualquer coluna vertebral minimamente digna.
Mas, preparem-se. É isso que a Ribeirão Preto que é representada na mídia tradicional quer e é isso que ela terá.
E dá-lhe condomínios fechados!
E dá-lhe condomínios fechados!
A quem caberá carregar o discurso progressista na campanha, levantando bandeiras importantes do ponto de vista social, urbano e moral? Caberá ao PT? Pois deveria, mesmo sabendo que assim já entra no páreo para perder. É tarefa difícil, mas é uma tarefa intransferível.
De onde o PT tiraria forças para enfrentar uma campanha que se mostra tão tacanha levantando bandeiras progressistas e defendendo um projeto de cidade diferente dos que ora se apresentam? Tiraria forças na defesa do seu legado na cidade e dos incríveis 97 mil eleitores de Dilma que se apresentaram nas urnas na última eleição presidencial.
97 mil eleitores nas circunstâncias atuais de Ribeirão Preto foi uma vitória que deve ser bem explorada. São 97 mil eleitores que disseram não ao discurso fácil da mídia, disseram não aos catões de araque como Aécio e companhia, não se entregaram ao anti-petismo virulento e ignorante e certamente estarão dispostos a debater a cidade sob outra óptica.
Com a palavra, o PT. Gente capaz e com coragem não falta por lá.
De qualquer forma, Ribeirão precisa de um projeto que seja debatido da periferia para o centro, dentro dos ônibus, entre as mulheres, entre os negros, entre os jovens excluídos, entre pensadores que proponham uma cidade inclusiva, democrática, participativa. É um desafio que está posto para qualquer força progressista que queira empunhá-lo. A história fará jus, certamente.
Defendemos um projeto que bata de frente com circo datenístico que se avizinha nas eleições que se aproximam. Nosso lema é "uma cidade para todos".
Ricardo Jimenez
terça-feira, 14 de julho de 2015
"Não sobrará pedra sobre pedra" - Dilma
O tensionamento das relações políticas que se iniciou na campanha eleitoral está prestes a encontrar seu desfecho.
A clara e notória aliança de setores políticos e midiáticos para desestabilizar e depor a Presidente eleita segue seu curso sem ter na verdade muita certeza do que restará quando e se a corda esticar além do limite.
O jogo oposicionista e midiático brinca de criar um Estado dentro do Estado insuflando setores da polícia judiciária federal e da própria justiça contando com a complacência de um Ministério da Justiça com claras dificuldades de se impor. O exemplo mais óbvio da fragilidade do Ministério é o do policial federal que treinou tiro ao alvo com a foto da Chefe máxima da nação e que continua a exercer suas funções tranquilamente.
Tirando um eco de reação aqui ou ali, vindos da OAB, dos blogs progressistas e dos advogados ligados aos processos, toda uma esquerda e uma ala progressista da sociedade enxerga a tudo passivamente como a esperar uma reação consistente do governo e do PT. O próprio STF, que tem em seu bojo ministros para todos os gostos, está em compasso de espera para definir as questões que chegarão até ele.
Muitos esperam com tensão o mês de agosto e perguntam: "o que teremos após agosto?".
Tenho a impressão que muitos subestimam a democracia brasileira pós ditadura. Não somos uma republiqueta e toda a costura política e social realizada nos últimos 30 anos pode ser bem mais resistente do que alguns imaginam.
Às vezes, em momentos de intensa crise, as soluções surgem no ferver da luta e acho que tanto o PT quanto a oposição que ainda mantém um fiapo de responsabilidade sabem disso.
No decorrer desse enfrentamento que envolve instituições e apesar da seletividade dos vazamentos de cunho político midiático que se mantém na tal Lava Jato, há respingos para todos.
O próprio candidato derrotado que encabeça o movimento proto-golpista é pela segunda vez citado nominalmente nas investigações do Paraná. O senador que foi seu vice na campanha também foi citado. Os presidentes das Casas do Congresso idem. Até mesmo o TCU, onde se gesta uma tal "bala de prata do golpe", na relatoria de um ex-deputado do DEM com um passado cabuloso no caso chamado "pedaladas fiscais", foi atirado no olho do furacão das delações do senhor Moro.
Em certa altura dos acontecimentos, em outubro de 2014, a Presidente Dilma soltou essa: "que se investigue tudo. Não sobrará pedra sobre pedra". Como a própria Dilma já afirmou algumas vezes, ela é uma resistente. O deixar correr dos acontecimentos pode tornar realidade a sua frase, mas com uma coisa de pé, a própria Dilma.
Não havendo nada que a incrimine pessoalmente em ilícitos não haverá barulho ou turbulência que a derrube. As tais balas de prata podem se revelar um nada, porque como justificar que a doação da UTC para Dilma é diferente da fornecida a Aécio? Como dizer que o exercício contábil de Dilma é diferente do realizado por FHC?
Vou aqui arriscar algo. Tomara que esteja certo. Após agosto, realmente as pedras podem estar todas desarrumadas com apenas uma delas magra e altiva com a cabeça em pé e com três anos e meio de trabalho pela frente: Dilma, a que resiste.
Ricardo Jimenez
A enorme força do financismo mundial e a nossa luta!
O financismo mundial permanece com enorme força e ditando as regras no mundo, mesmo que seja necessário o uso da força e do discurso terrorista.
A estrutura mundial criada após as crises do petróleo nos anos 70 e consolidada nos anos 80, por Reagan e Thatcher, transformaram o mundo em um grande banco de investimentos onde meia dúzia de magnatas nadam em rios de dinheiro retirados em última instância da força de trabalho de bilhões de seres humanos.
Os Estados nacionais, antes instrumentos políticos e propositores de políticas públicas de diminuição das desigualdades e de humanização do capitalismo, característica dos anos pós guerras e pós crise de 29, se transformaram em meros chanceladores das decisões do "mercado". Qualquer tentativa em contrário é imediatamente bombardeada, seja pela ação de força direta, seja pela ação ideológica de uma mídia mundial aliada do sistema.
As expressões "soberania nacional, "projeto nacional", "proteção da economia" e "regulação das transações financeiras" se tornaram parte do novo index librorum prohibitorum da modernidade financista e neoliberal. Nos anos 2000 alguns líderes sul-americanos ousaram enfrentar o sistema. A mídia os taxou de "caudilhos bolivarianos". Enfrentaram e enfrentam até hoje as consequências de suas posturas, vide Venezuela, Argentina e Brasil.
Esse sistema acaba de mostrar novamente enorme força ao enquadrar e impor um acordo escorchante à valente Grécia. O Tsipras, mesmo tendo por detrás a legitimidade do povo, cedeu. Imagino o quanto não foi ameaçado. A possibilidade de sair da zona do euro sem ter outro padrão monetário ao qual recorrer é de fato um cenário de horrores.
A luta é pesadíssima.
Porém, se antes as poucas vozes dissonantes do sistema bradavam sozinhas, hoje contam com um apoio inesperado, o do Papa Francisco. Seu discurso no Encontro Mundial de Movimentos Populares na Bolívia legitimando a luta por teto, terra e direitos coletivos foi um marco histórico. Sua análise do atual capitalismo desfocado da economia real e produtor de desigualdades é igualmente importante. Sua análise do papel da mídia como partícipe desse esquema é impressionantemente impactante.
Não é possível prever o futuro, mas devemos ter claro que a nossa luta é legítima, independente do poder do adversário. Se há algo que a história nos ensina é que não há nenhum poder maior que a força do povo, das massas. Portanto, a nossa luta é e sempre foi a de conquistar e conscientizar as massas, tendo a exata noção da complexidade dessa luta.
Se ontem eu estava pessimista, hoje estou cético e pragmático. Na luta, companheiros!
Ricardo Jimenez
A estrutura mundial criada após as crises do petróleo nos anos 70 e consolidada nos anos 80, por Reagan e Thatcher, transformaram o mundo em um grande banco de investimentos onde meia dúzia de magnatas nadam em rios de dinheiro retirados em última instância da força de trabalho de bilhões de seres humanos.
Os Estados nacionais, antes instrumentos políticos e propositores de políticas públicas de diminuição das desigualdades e de humanização do capitalismo, característica dos anos pós guerras e pós crise de 29, se transformaram em meros chanceladores das decisões do "mercado". Qualquer tentativa em contrário é imediatamente bombardeada, seja pela ação de força direta, seja pela ação ideológica de uma mídia mundial aliada do sistema.
As expressões "soberania nacional, "projeto nacional", "proteção da economia" e "regulação das transações financeiras" se tornaram parte do novo index librorum prohibitorum da modernidade financista e neoliberal. Nos anos 2000 alguns líderes sul-americanos ousaram enfrentar o sistema. A mídia os taxou de "caudilhos bolivarianos". Enfrentaram e enfrentam até hoje as consequências de suas posturas, vide Venezuela, Argentina e Brasil.
Esse sistema acaba de mostrar novamente enorme força ao enquadrar e impor um acordo escorchante à valente Grécia. O Tsipras, mesmo tendo por detrás a legitimidade do povo, cedeu. Imagino o quanto não foi ameaçado. A possibilidade de sair da zona do euro sem ter outro padrão monetário ao qual recorrer é de fato um cenário de horrores.
A luta é pesadíssima.
Porém, se antes as poucas vozes dissonantes do sistema bradavam sozinhas, hoje contam com um apoio inesperado, o do Papa Francisco. Seu discurso no Encontro Mundial de Movimentos Populares na Bolívia legitimando a luta por teto, terra e direitos coletivos foi um marco histórico. Sua análise do atual capitalismo desfocado da economia real e produtor de desigualdades é igualmente importante. Sua análise do papel da mídia como partícipe desse esquema é impressionantemente impactante.
Não é possível prever o futuro, mas devemos ter claro que a nossa luta é legítima, independente do poder do adversário. Se há algo que a história nos ensina é que não há nenhum poder maior que a força do povo, das massas. Portanto, a nossa luta é e sempre foi a de conquistar e conscientizar as massas, tendo a exata noção da complexidade dessa luta.
Se ontem eu estava pessimista, hoje estou cético e pragmático. Na luta, companheiros!
Ricardo Jimenez