Sobre o golpe (ou impeachment, como preferem alguns), o fato mais importante dos últimos dias não foi a carta da presidenta ao senado, cujo conteúdo todos sabemos que não irá mudar a posição de nenhum dos senadores.
Se todos os pareceres técnicos que comprovaram a inocência da presidenta com relação a crimes não foram o bastante, assim como o vazamento das gravações do senador Romero Jucá, expondo que o objetivo de afastar a Dilma era abafar os efeitos da Lava Jato, mostraram que a justeza ou não do impeachment não está mais em questão para a maioria dos senadores. Os motivos são muito diversos dos anunciados pelos senadores em suas justificativas de votos.
No entanto, nesta calmaria que o consórcio pró-Temer tenta levar a cabo a consumação do afastamento da presidenta, um fato novo que poderá impactar o desfecho do golpe com consequências imprevisíveis.
A presidenta eleita Dilma Rousseff anunciou que irá comparecer a seu julgamento final no Senado. Fato inesperado, já que a maioria dos senadores imaginavam que ela jamais iria comparecer, que iria buscar se preservar do derradeiro capítulo do circo montado para destitui-la do Palácio do Planalto.
Como aponta a jornalista Helena Chagas, "sem nada mais a perder, a presidente estará fora do controle de quem quer que seja, e protagonizará ali, publicamente, o ato final de uma guerra em que terá como principal objetivo defender sua biografia.
Quem mais tem a temer em matéria de constrangimento são os ex-ministros e ex-aliados que abandonaram a presidente afastada e agora votam contra ela. É uma lista grande, que vai dos ex-ministros Marcelo Crivella e Fernando Bezerra a peemedebistas como Jader Barbalho e o próprio Renan Calheiros. Uma coisa é discursar e votar contra Dilma em sua ausência. Outra, é encarar a ex-chefe olhos nos olhos no plenário do Senado.
Mesmo entre adversários, haverá desconforto. O educado e cordial Antonio Anastasia, por exemplo, que enquanto governador de Minas sempre recebeu Dilma em sua terra com republicana elegância – e sempre foi tratado por ela com correção – estará, agora, no papel de algoz, como relator de sua cassação.
Entre os petistas também haverá constrangimentos. A aguerrida tropa de choque petista – Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann, Fatima Bezerra e a comunista Vanessa Graziotin – lá estará como sempre, mas a cúpula do partido não está tranquila. Lula, Rui Falcão e outros temem que, em seu derradeiro momento político, a presidente acabe por aprofundar suas divergências com o PT e exponha o partido. Para preservar sua própria biografia, Dilma pode atribuir muitas coisas aos petistas – o que, aliás, não seria mentira.'
A presidenta irá encarar, olho no olho, todos os senadores, isso por si só, com a sua força e a dignidade de sua inocência, poderá provocar efeitos inesperados. Este anúncio é a confirmação de que Dilma Rousseff irá para a luta usando sua cartada final.
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