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Cacique, à esquerda, durante show de celebração dos 20 anos da Rádio Camponesa. |
Morreu, ontem, o cantor Antonio Borges de Alvarenga Cacique, da dupla “Cacique e Pajé”, em São Paulo, aos 84 anos. Ano passado eu tive a honra e o prazer de ajudar na cobertura da Rádio Camponesa, do MST. Neste evento, eu pude conversar por longo tempo com a dupla Cacique e Pajé antes e após o seu show. Um show completamente tomado.
Eu me lembro que entre os assuntos abordados, Cacique falou sobre a sua preocupação com os direitos dos indígenas e das verdadeiras pessoas do campo, aquelas que carregam a cultura, o modo de viver e produzir familiarmente, sem agrotóxicos, respeitando o meio ambiente.
Não foi por acaso que Cacique sempre apoiou as iniciativas do MST, pois reconhecia no movimento os verdadeiros valores do camponês, muito diferente da fina capa fingida do ruralistas.
Dizer sobre a perda, a importância de Cacique para a música caipira, é chover no molhado. Em um mundo abarrotado de "sertanejos universitários", canções como Macaco Velho, o Boiadeiro e a Viola, Paraná do Norte, Peão Sabido, Viola Caipira são verdadeiros símbolos (sem metáfora) de resistência de toda uma cultura que o capital insiste em enterrar.
Não preciso me preocupar em desejar um "descanse em paz, Cacique", pois sei que ele já o faz. De minha parte, apenas agradeço.
O MST reconheceu a sua importância e soltou uma nota em seu site oficial. Leia abaixo:
MST lamenta morte do violeiro Cacique
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Cacique e Pajé durante show nos 20 anos da Rádio Camponesa. |
Nesta quinta-feira, 07, o cantor Antonio Borges de Alvarenga Cacique, que ficou muito conhecido no mundo Sertanejo fazendo dupla com o Geraldo Aparecido da Silva (Pajé), da dupla “Cacique e Pajé” veio a falecer em São Paulo aos 84 anos.
O MST lamenta seu falecimento, em meio a tantas lutas que travamos atualmente. É uma perda para a música caipira sertaneja, mas também para nós, que ficamos órfãos de ouvir essa moda de viola que resiste ao longo do tempo, narrando nossas vidas simples, de povo do campo, que enfrenta questões sociais e ambientais.
Índio e filho de agricultores, o Cacique nasceu em numa tribo às margens do Rio Vermelho, no município de Rondonópolis, no Mato Grosso, em 25 de março de 1935. Porém, devido a uma epidemia de febre amarela, foram entregues pelo padre a dois boiadeiros que passavam por aquela região.
No ano de 1994, Roque Pereira Paiva, o Pajé, faleceu. Depois disso, Antônio Borges de Alvarenga, o Cacique, cantou com alguns outros ‘Pajés’ antes de se juntar a Geraldo Aparecido da Silva, seu parceiro até hoje.
O violeiro esteve junto ao MST compartilhando a arte de cantar a mata, a pesca e os rios quando convidado para estar presente em nossa Feira Nacional da Reforma Agrária, no Parque da Água Branca, em São Paulo. No repertório esteve algumas de suas músicas mais conhecidas, como Macaco Velho, o Boiadeiro e a Viola, Paraná do Norte, Peão Sabido, Viola Caipira, entre outras.
A dupla de violeiros "Cacique e Pajé" narraram a vida do povo em seus versos musicais. Juntos e orgulhosos de suas raízes indígenas, cantaram as dores e alegrias deste povo, reafirmando seus direitos.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
08 de março de 2019, São Paulo - SP
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