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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

OPINIÃO O CALÇADÃO - 1º Turno: a esquerda se mantém na resistência e 'centrão" avança



No último dia 15 de novembro as urnas falaram no Brasil. 

A partir dos números, cada setor da sociedade busca fazer as suas análises, porém, há um certo consenso de que o bolsonarismo (extremistas de direita, trumpistas, negacionistas, terraplanistas, anti-vacinas, evangélicos e milicos de todos os tipos) foi o grande derrotado. 

A esquerda saiu respirando (com a manutenção do crescimento do PSOL), enquanto que houve uma pulverização dos votos entre a direita neoliberal (particularmente o DEM) e o centrão pragmático (notadamente o PP e o PSD).

BRASIL

Com as devidas particularidades, parece que o eleitor brasileiro (que nos últimos anos viu a ascensão do PT, o movimento de massas difuso em 2013, um impeachment e o avanço bolsonarista) resolveu votar nos partidos que não assumiram diretamente o poder nesse período, como DEM, PSD e os demais do chamado "centrão", e que não apresentam uma nítida cara ideológica, com exceção do PSOL, que conseguiu consolidar seu crescimento sabendo manter viva sua narrativa movimentista, identitária e de luta por direitos difusos para camadas excluídas ou oprimidas. Já PT, PSDB, MDB e, como já dito, tudo aquilo que se convém aglutinar no bolsonarismo (principalmente o PSL) perderam terreno ou mantiveram suas posições.

Os principais partidos do "centrão" (PP, PSD, PTB, PL) governarão nada menos do que 37% dos municípios, incluindo capitais como Belo Horizonte e outras grandes e médias cidades.

Na direita neoliberal (PSDB, MDB e DEM), em relação ao total de votos recebidos, o PSDB diminuiu 39% em relação a 2016, o MDB caiu 27% enquanto o DEM cresceu 68%. No geral, esse campo teve uma queda de 20% nos votos (37 milhões em 2016 para 30 milhões em 2020), diminuindo em 17% o número de prefeituras conquistadas há 4 anos.

Na centro esquerda (PDT, PSB e Rede), o tombo no número total de votos foi de 31% (16 milhões em 2016 para 11 milhões em 2020). Os votos do PSB caíram 38%, os do PDT caíram 17% e os da Rede, 61%. Esse campo viu reduzido em 17% o número de prefeituras governadas de 2016 para 2020.

Na esquerda (PT, PSOL, PCdoB), houve uma queda de apenas 2,72% no número total de votos (10,6 milhões em 2016 para 10,3 milhões em 2020). O PT elevou seus votos em 2,53% (mesmo perdendo 31,5% do número de prefeituras). o PSOL cresceu 6,42% no número de votos, enquanto o PCdoB desabou em 33,5% sua votação. No total, esse campo diminuiu em 34% o número de prefeituras com relação a 2016.

A observação dos números indica um Brasil em disputa e um eleitorado bastante difuso e ainda buscando encontrar respostas após todos esses anos de turbulência e retrocessos sociais. O projeto neoliberal, adotado plenamente após o impeachment sem provas de 2016, busca manter suas posições de olho em 2022. Mesmo o desgaste de Bolsonaro (a aposta do projeto neoliberal de 2018, no áuge da anti-política) não o tira do páreo, mas há uma tentativa forte, inclusive através dos meios de comunicação empresariais, de construir a chapa Huck-Moro como alternativa caso o fiasco bolsonarista se mantenha. Para este projeto, o "centrão" (vencedor das eleições 2020) é tido como aliado de primeira hora e ainda há flertes com nomes de centro esquerda, como Ciro Gomes e Flávio Dino.

O campo de esquerda, de oposição ao projeto neoliberal, ainda carece de unidade, programa e estrutura. É um campo que se mantém na resistência e com grandes dificuldades de diálogo e avanço, fruto das fissuras produzidas por todos os solavancos dos anos recentes, da narrativa de criminalização, principalmente do PT, praticada pelo projeto neoliberal (lava jato, mídia, PSDB, MDB e bolsonarismo) e pelas dificuldades de entendimento da atual crise do capitalismo.

Cabe à esquerda saber ouvir as urnas, entender as movimentações da sociedade na atual conjuntura,  nas grandes, medias e pequenas cidades. É preciso olhar para o crescimento do PSOL, das candidaturas coletivas, das candidaturas jovens, das candidaturas de mulheres, que conseguiram lidar bem com as redes sociais e com uma parte da sociedade que deseja direitos difusos (mulheres, negros, LGBTs) com o mesmo vigor que anseia por emprego, renda, moradia e terra. É preciso derrotar a narrativa conservadora que tenta isolar o PT, pois o maior partido de massas à esquerda do país não poderá ficar de fora de um processo de construção anti-neoliberal. 

Cabe à esquerda saber compreender a atual fase do capitalismo e construir um programa que possibilite levar uma resposta, uma alternativa ao povo trabalhador, trazendo ele junto para a luta.

Para além de nomes para uma chapa presidencial, o desafio maior é de diálogo, de programa e de rumo.

PS: ainda há 17 capitais e grandes cidades sendo disputadas pela esquerda no segundo turno, entre elas está São Paulo, onde a unidade do campo de esquerda e centro esquerda em torno da chapa Boulos - Erundina (PSOL) pode vir a ser um bom ensaio de uma tática de atuação deste campo, além de jogar os destinos da maior cidade do Brasil, num embate contra o neoliberalismo tucano, fundamental para os rumos de 2022.


Blog O Calçadão


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