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domingo, 25 de abril de 2021

Dória fecha mais salas de ensino noturno em Ribeirão Preto

 

Toda a grande região da Vila Virginia pode ficar sem o ensino noturno

O ensino médio noturno, destinado aos trabalhadores, nunca foi uma benesse do Estado, ao contrário, foi resultado das reinvindicações populares. Pelo seu corte de classe, o noturno foi sempre o patinho feio do sistema educacional.

E nesses tempos de avanço neoliberal, de desemprego e cortes de investimento público, o noturno vem sendo diminuído no Brasil todo e em São Paulo especificamente.

Claro que a oferta de ensino noturno, e também de EJA (Educação de Jovens e Adultos), é algo que busca corrigir assimetrias de um país desigual como o Brasil. O esforço é para que todos frequentem a escola no período correto e entrem no mercado de trabalho após isso. Mas, infelizmente, essa realidade está longe de ser atingida.

Os números mostram que o noturno cresceu muito nos anos 1980 a 2000, resultado de uma demanda reprimida na sociedade (veja em "A Escola Noturna no Brasil, de Ana Cecília Togni). Nos anos entre 2002 a 2015 essa demanda teve um viés de diminuição, pois o aumento da oferta em todos os níveis educacionais foi conduzindo à regularização das matrículas na idade correta.

E foi esse resultado nos anos entre 2003 e 2015 que embasou governos estaduais a reduzirem a oferta de ensino noturno. São Paulo é um exemplo disso. E não só noturno, São Paulo justificou o fechamento de salas de aula em todos os níveis alegando queda nas matrículas. O próprio ex-ministro da educação do período Temer, Mendonça Filho, disse em 2017 que a tendência do ensino noturno era acabar porque as pessoas estavam estudando na idade correta.

Porém, a partir de 2016, tudo isso mudou. A grave e prolongada crise econômica, resultado do projeto neoliberal pós-golpe, erodiu o emprego e a renda dos trabalhadores, empobreceu uma classe média que havia acessado escolas particulares e atirou na pobreza mais de 30 milhões de pessoas que haviam tido uma elevação em sua renda nos anos anteriores.

Tudo isso está fazendo a procura pelos serviços públicos de educação e saúde aumentarem e cada vez mais pessoas, jovens incluídos, procurarem alguma forma de gerar renda durante o dia. Fechar o ensino noturno nesse cenário configura um retrocesso que afeta a vida principalmente do jovem trabalhador.

E para piorar, o governo Dória segue com seu marketing nas tais escolas de período integral onde o número de alunos atendidos chega a ser um terço menor do que na escola sem ser integral. E rompe-se a isonomia dentro da rede, com a diferenciação dos professores que recebem mais na escola integral porém abrem mão de prerrogativas como o direito às licenças.

RIBEIRÃO PRETO

Neste último sábado mais uma escola da região da Vila Virgínia se tornou integral, o Pedreira de Freitas. A intenção do governo é que, até 2022, 50% das escolas estaduais da cidade sejam de tempo integral. Inclusive escolas pólo, aquelas que recebem alunos da cidade toda, como o Cid de Oliveira Leite, no Jardim Paulista.

Segundo o professor Roberto Tofolli, da APEOESP, hoje Ribeirão tem 8 escolas de tempo integral. "Veja o exemplo da escola Eugênia Vilhena, na Vila Virgínia. Antes de ser integral ela atendia  900 alunos. Ao ser integral em 2020 passou a atender 320 alunos. Antes atendia noturno e agora não mais", afirma Roberto.

Ainda na região da Vila Virgínia, tem a escola Vicente Teodoro, que virou integral para o ensino fundamental. Antes a escola atendia 400 alunos e hoje atende 240. Com a transformação do Pedreira de Freitas em integral, a grande região da Vila Virgínia só terá ensino noturno na escola Glete de Alcântara, no Jardim Progresso.

"Como pode toda aquela região da Vila Virgínia ficar sem ensino noturno?", pergunta Tofolli. "E mais, se nas PEI se reduz o atendimento em até um terço, para onde vão os alunos? É claro que esse é um processo de exclusão", complementa.

Às oito escolas integrais de Ribeirão são: Fernandes Palma (Vila Seixas), Oscar de Moura Lacerda (Simioni), Cid de Oliveira Leite (Jardim Paulista), Vicente Teodoro (Vila Virgínia), Eugênia Vilhena (Vila Virgínia), Monte Carlo (Vila Virgínia), Baldilho Biagi (Quintino) e Nairzinha.

Amanhã vamos pautar esse assunto na Análise da Semana com a presença do Roberto Tofolli.

Blog O Calçadão

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