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terça-feira, 27 de abril de 2021

“Toda vez que a gente vai na Educação tentar achar uma solução fácil para resolver é cilada. Não existe solução fácil.”

 

A pedagoga, psicopedagoga e Coodernadora na Rede Municipal de Ensino, Mônica Jurca, fez duras críticas à implementação do Currículo Paulista no ensino municipal.

"Quer ajudar o professor? Dá dispositivo digital para o aluno, dá dados móveis para ele, dá alimento, dá auxílio".

Nesta segunda-feira (26) durante o programa Análise da Semana, a pedagoga, psicopedagoga e Coordenadora na Rede Municipal de Ensino de Ribeirão Preto, Mônica Jurca, falou sobre a implementação do Currículo Paulista, desenvolvido pelo Governo do Estado de São Paulo, na Rede Municipal de Ensino e a sua respectiva obrigatoriedade, mediante mecanismos de controle que podem vir a ser implementados. Para Mônica, o que parece, em um primeiro momento, algo que pode ajudar os professores durante a pandemia, na verdade mascara um Cavalo de Troia que retira a autonomia docente e ignora a existência do Referencial Curricular desenvolvido pelos educadores de Ribeirão Preto.


“Quando a gente vai se permitindo esse tipo de estreitamento, este tipo de fechamento... Aqui em Ribeirão nós temos uma coisa que se chama Referencial Curricular. Ele é uma referência para nós montarmos um currículo na escola porque é lá que o currículo acontece. Currículo Paulista não é referência, é o currículo e você vai fazer ele dentro do material que vai te dizer.”

Como o poema “No Caminho, com Maiakovsky”, de Eduardo Alves da Costa, Jurca afirmou que, de modo sutil, o governo Nogueira estreitou o currículo e tirando a escola estadual como exemplo, pode, na prática, estar implementando um sistema de controle sobre o/a professor/a. A psicopedagoga questionou o discurso oficial de não-obrigatoriedade do uso deste material.

“Ah, Mônica! mas o professor que não quer usar, ele não usa, ele não é obrigado! Será? Porque aí nós vemos os mecanismos de controle. Por exemplo, chegam as provas, aquelas AAP (Avaliação de Aprendizagem em Processo) do Estado de São Paulo. ‘Seu aluno não está desempenhando dentro das metas, ele não vai conseguir fazer o SARESP.' E aí? Aí não vai vir bônus para a escola. A escola inteira vai ficar muito brava com você que a sua sala prejudicou o bônus dos professores. E a prova de mérito? Eles vão colocando junto com isso vários sistemas de controle que vão te obrigando a usar e agir daquela forma. E você se sente muito pressionado".

Para a coordenadora municipal, deixar este modelo de política educacionar significa abrir mão da autonomia docente, uma vez que os problemas locais serão debatidos a nível estadual e não mais municipal, o que dificultará qualquer questionamento por parte dos profissionais de educação e a sua respectiva resolução.

“Como é que a gente vai resolver um problema do currículo estadual se este der problema em Ribeirão Preto? Nós não vamos até São Paulo para modificarem só para Ribeirão. Nós estamos abrindo mão disso. Aqui a gente tem problema, a gente tá na rede municipal, a gente tem o Conselho Municipal de Educação que atua junto conosco. Nós temos condições de irmos à Secretaria Municipal da Educação (SME) e questionar. A gente tem como se organizar enquanto sociedade. Nós temos a APROFERP, Coletivo Chão da Escola, Associação dos Coordenadores Pedagógicos, que é um reforço nessa defesa pela educação pública de qualidade. Só que estes esforços quase não funcionam quando eles (o governo) jogam lá para São Paulo, para o Dória (PSDB/SP) a responsabilidade pelo nosso trabalho”

Mônica criticou a ideia de se querer enrijecer o currículo sem levar em consideração o contexto que envolve a escola, a sala, os alunos. Para a pedagoga, a implementação de tal currículo é uma ofensa ao profissional da educação.

“Tem uma coisa que nós escutamos bastante nesse governo que é o discurso de que o professor não está sabendo o que ensinar. Por exemplo neste ano nós tivemos a novidade de que fizeram sequências didáticas, que não são sequências didáticas no conceito em si, mas alguns conteúdos organizados, e nos disseram que aquilo era habilidade essencial para ensinar. [...] Isso ofende o profissional da educação porque (ela/e) está na sala de aula, quem está na escola é que sabe o que o aluno precisa. Dentro de uma escola o 1º ano A não é igual ao 1º ano B, o 1º ano C... Então, não pode fazer o mesmo plano de aula igual para todas as salas só porque elas são 1º ano.

Para Jurca, seguindo o Referencial Curricular, deve-se valorizar o PPP como forma de elaborar o conteúdo a ser ministrado.

“Como o professor protege a autonomia é no PPP (Plano Político Pedagógico). O PPP é o documento da escola. Esta é uma briga que nós temos de efetivar, estes planos políticos pedagógicos, para que possam ser a base do currículo da escola, claro que seguindo a Referência Curricular.”

 E declarou que não existe solução fácil na Educação. Para a educadora, toda vez que se apresenta uma solução fácil para resolver o problema educacional é cilada.

“Toda vez que a gente vai na Educação tentar achar uma solução fácil para resolver, é cilada. Não existe solução fácil.”

[...]

“Chega a ser uma vergonha a gente se submeter a um currículo desse que não tem nada. O Currículo Paulista tem mais de 500. Menos de 90 são sobre proposta pedagógica, linha teórica, diretriz de ensino e mais de 400 páginas são de conteúdo que, agora, eles chamam de Competências e Habilidades organizadas no espaço e no tempo para você trabalhar com a criança e o adolescente. Você não sabe para quem você está ensinando, por que você está ensinando, qual o objetivo desta educação. Em geral só tem as linhas. Tem um monte de palavras bonitas lá: sociedade justa, sociedade democrática, mas não define o que é sociedade justa, o que é sociedade democrática, o que é inclusivo. Não tem nada disso definido lá dentro, fica jogado. E 400 páginas de conteúdo para você acabar com a criança da hora que ela chega até a hora que for embora”, encerrou.

Veja o programa "Análise da Semana", do blog O Calçadão, na íntegra clicando no link abaixo:

Programa com a participação de Mônica Jurca


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