Às vezes, de tão usada, uma palavra vai perdendo sua força originária. Fica batida, vira clichê. Drummond dizia isso sobre o amor. De fato, temos que ser cautelosos em relação ao uso das expressões. Mas, afinal de contas, Bolsonaro é um genocida? Primeiramente, vejamos o que significa isso.
Genocídio é o extermínio intencional de uma população. É um
massacre, um assassinato em massa. Logo, um genocida é aquele que mata (direta
ou indiretamente) muitos membros de uma população.
Pois bem. Em breve, chegaremos a meio milhão de mortes no
Brasil, ocasionadas pelo Coronavírus (de casos registrados, porque esse número
tende a ser bem maior). Quinhentas mil vidas de mães, pais, avós, amigos,
filhos. Não, não podemos naturalizar a morte. Não se pode banalizar o mal, para
usarmos um conceito da Hannah Arendt. São pessoas e não números de uma tabela
estatística.
A pergunta central: quanto de responsabilidade Bolsonaro tem
em relação a essas vidas perdidas? Pensemos em cinco pontos:
- Ele recusou milhões de doses de vacinas e, mesmo agora,
não lidera uma campanha de vacinação ou incentiva a população a se vacinar.
- Ele fez campanha para medicamentos cientificamente
ineficazes contra a Covid-19, como, por exemplo, a Hidroxicloroquina.
- Ele incentivou e ainda incentiva aglomerações, o que
propaga exponencialmente a doença.
- Ele não estimulou o uso de máscara, a barreira física mais
eficiente contra o vírus.
- Ele acreditou e exaltou a “imunidade de rebanho”, o que se
comprovou letal.
Além das mortes ocasionadas pela omissão e pelas atitudes
presidenciais, há as mortes indiretas. Se Bolsonaro, desde março de 2020,
tivesse se comportado de modo diferente, provavelmente não haveria, em 2021,
tantas empresas falindo, tanto desemprego, tanta gente literalmente morrendo de
fome.
Depois desta breve reflexão, creio que podemos chegar a uma
conclusão, mesmo que provisória: Bolsonaro pode não ser um genocida aos moldes
de Hitler, mas certamente carrega nas costas a morte de milhares de
brasileiros.
*Matheus Arcaro é mestre em Filosofia Contemporânea pela Unicamp. Pós-graduado em História da Arte. Graduado em Filosofia e também em Comunicação Social. É professor, artista plástico, palestrante e escritor, autor do romance O lado imóvel do tempo (Ed. Patuá, 2016), dos livros de contos Violeta velha e outras flores (Ed. Patuá, 2014) e Amortalha (Ed. Patuá, 2017) e do livro de poesia Um clitóris encostado na eternidade (Ed. Patuá, 2019). Também colabora com artigos para vários portais e revistas.
site: www.matheusarcaro.art.br
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