O Filme Réquiem para um Sonho, de Darren Aronofsky, ilustra um ponto pouco visto: a de que os vícios são diversos e, não necessariamente, encontram-se circunscrito apenas a uma prática.
Réquiem vem de uma palavra em latim que significa “descanso da alma”. Era, portanto, a prática realizada pela igreja católica no enterro, uma espécie de marcha fúnebre.
Se pudéssemos traduzir o que ocorreu no espaço político do Brasil de 2016 (desde o golpe que assolou o governo da presidenta Dilma) até agora, com o estabelecimento desse necrogoverno Bolsonaro; poderíamos definir como uma espécie de marcha fúnebre, um réquiem.
Para qualquer instância que observarmos, o que emerge é o luto, a morte e a dor. No âmbito econômico, estávamos muito antes da pandemia em queda livre. Um modelo neoliberal que visa vender o Brasil inteiro, dando a preço de banana nossas estatais mais estratégicas e lucrativas. Com a pandemia, esse projeto de desmonte ganhou um álibi. O neoliberalismo de Guedes somou-se à face mais cruel da barbárie do Bolsonaro, aparelharam-se da pandemia para legitimar a retirada de direitos sociais e de seguridade social.
A resistência do governo federal frente ao auxílio emergencial, da qual só foi garantido o valor de R$600 por causa da oposição no congresso; o fato desse Guedes ter flexibilizado as leis trabalhistas para retirar direitos durante a pandemia, através de suspensão de contratos firmados ou congelamentos salariais; a quimera que essa lógica neoliberal inseriu às ditas novas carteiras de trabalhos, estimulando o trabalho intermitente, fim do 13o, FGTS, Férias remuneradas; medidas que irão impactar diretamente no sistema previdenciário (vulgo aposentadorias) são alguns exemplos desse crime social.
O necrogoverno vai, dessa forma, matando não apenas o presente, mas eliminando nosso futuro, nossos sonhos de ter um país democrático, livre, justo e igualitário. É um réquiem para o sonho, uma marcha fúnebre que se suscede no intuito de eliminar qualquer possibilidade de emancipação, justiça, seguridade social e vida.
Combater esse Bolsonarismo que faz propina de vacina em plena pandemia, que rir diante as mais de 560.000 mortes (meio milhão de brasileiros(as)), que instrumentaliza a pandemia e parte das instituições para perseguir quem o denuncia e para matar parte significativa da população (exclusivamente os grupos mais vulneráveis: negras(os), LGBTQIA+, mulheres, indígenas, entre ‘outres’) é mais do que necessário e exige uma luta coletiva, de todos os setores da sociedade civil organizada. Emergiram dois flancos de retrocessos nesse governo genocida: o primeiro foi a corrosão de nossa parca institucionalidade democrática (caso possamos chamar de democráticas) e a segunda foi a flexibilização do valor da vida, pautando esta na lógica de mercado, fenômeno conhecido como mercantilização da existência.
Essa segunda ação acarreta a legitimação de retirada de todos os direitos humanos, pois a vida passa a ser uma mercadoria privada; e a dicotomia que esse governo federal colocou entre: morrer de fome ou morrer de vírus ilustra o cinismo dessa ação. Precisamos combater essa lógica e pautar outros valores, valores mais humanos, democráticos e verdadeiramente coletivos. Valores de vida e não de morte. Precisamos nos unir e combater o Bolsonaro e o Bolsonarismo vigente na lógica fascista do neoliberalismo.
A luta é grande, mas faz-se necessária.
Roberto Barros - professor e ativista político
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